Licenciada em Engenharia do Ambiente pela NOVA.ID.FCT e mestre na área de escrita criativa pela Storytime School, Raquel Mourão é a atual diretora artística e de conteúdos da Mediapro. Aos 37 anos, dos quais 11 na área de comunicação e televisão, sonha dirigir e coordenar um projeto como a “Guerra dos Tronos”.
Em 2008, licenciou-se em Engenharia do Ambiente na NOVA.ID.FCT. Hoje, é diretora artística e de conteúdos da Mediapro. Imaginava-se a trabalhar nesta área?
Sempre tive uma paixão pela escrita e por comunicação, mas levava-a mais como um hobby. No fim do estágio, por coincidência, alguém me perguntou se eu não gostava de escrever perguntas para um concurso de cultura geral da RTP e eu achei que era boa ideia, até para ganhar algum dinheiro, enquanto enviava currículos. Pouco tempo depois, já tinha deixado de enviar currículos e estava a apaixonar-me cada vez mais pelo que estava a fazer.
Trabalhou em várias empresas. Dirigiu e coordenou vários projetos como os “Portugueses pelo Mundo” e “5 para a Meia-Noite”, na RTP1, “Voluntariado” e “Campeões”, na RTP2. Qual foi o projeto que mais a marcou?
Tenho vindo a desempenhar diferentes funções, ligadas mais à área de conteúdos do que à de produção. A verdade é que todos os projetos tiveram o seu marco, todos foram degraus que subi… A ter de distinguir um projeto, escolho o “5 para a Meia-Noite”. Foi o que durou mais tempo e onde comecei a fazer coordenação, ainda no início da carreira e, portanto, o degrau maior que subi. No que diz respeito a empresas, destaco a Mediapro, um projeto muito alicante pois consiste em trazer para Portugal uma área que a empresa não desenvolvia: a de conteúdos.
Tendo em conta que o “5 para a Meia-Noite” é um programa completamente distinto e não passa no horário nobre, encontrou mais dificuldades na direção artística e de conteúdos?
O “5 para a Meia-Noite” é mesmo um formato especial. Quando começámos ainda estávamos na RTP2 e julgo que foi mesmo uma ‘pedrada no charco’, em termos do que se fazia em televisão. Era um espaço de entrevista, de humor, com uma gigantesca liberdade criativa. Nessa altura, os maiores desafios prendiam-se com a falta de orçamento que, inevitavelmente, um programa que passava à meia-noite no segundo canal do Estado tinha. Fazíamos autênticos milagres. Na segunda fase, quando o programa passou para a RTP1, havia uma folga maior em termos financeiros, mas isso fez com que o programa cedesse em algumas obrigações comerciais.
A Mediapro existe há mais de 20 anos e a Raquel é a sua diretora artística e de conteúdos há cinco. Como é que descreve o boom tecnológico ocorrido nestes últimos anos?
A Mediapro é uma das empresas mais bem cotadas e está completamente à frente, tanto nacional como internacionalmente, no que diz respeito às tecnologias. Recentemente, ocorreram algumas restruturações internas e o grupo decidiu apostar em força na área de conteúdos. Desenvolveu uma estratégia a médio/longo prazo em alguns mercados que não tinham essa força e Portugal está incluído. Foi por isso mesmo que me convidaram.
Sente-se condicionada ou pressionada a desenvolver conteúdos de acordo com os formatos standard ou tem liberdade de criação para desenvolver conteúdos televisivos “fora da caixa”?
Como em qualquer outra relação comercial, o papel das empresas é fornecer aos canais aquilo que eles querem e consideram adequado às suas estratégias. Não obstante, todas as produtoras fazem um trabalho contínuo de desenvolvimento de novos formatos, que são posteriormente apresentados aos canais. Ou seja, o conteúdo dos programas que desenvolvo dependem sempre do cliente que estivermos a servir.
“M’bora Dividir”, o novo projeto que a Mediapro está a produzir, transmitido em Angola, no MundoFox e que conta já com três temporadas, é um formato diferente do que está habituada a coordenar e dirigir. Quais os maiores desafios desta produção?
O “M’bora Dividir” é um concurso de rua criado por nós, exclusivamente para a FOX, canal para o qual estamos a produzir um novo programa, ainda em fase de pós-produção e sobre o qual, por razões contratuais, não posso revelar muito. Enquanto empresa, temos conseguido estabelecer uma relação bastante próxima com a FOX e o facto de já haver conhecimentos no local permite-nos produzir e elaborar projetos em Angola. Os desafios que se colocam ao trabalhar noutro país prendem-se com diferenças culturais, por exemplo o gosto do público. Mas o pior são as questões burocráticas e o tempo que se demora a fazer qualquer coisa quando não estamos no nosso país…
Estar à frente da área artística e de conteúdos de uma empresa internacional é um marco na vida profissional de uma pessoa. É o auge da sua carreira ou desafios maiores virão?
Uma das minhas maiores características, embora não saiba bem se é uma qualidade ou um defeito – bom, eu vejo mais como qualidade (risos) – é nunca estar satisfeita. Isto não significa que não me sinta contente com o trabalho que tenho, mas sonho em progredir cada vez mais! Talvez um dia esteja a coordenar um formato com a dimensão da “Guerra dos Tronos”, quem sabe… (risos)