Escrevem as histórias que ganham Emmys, decoram casas de contraplacado, vestem, maquilham e penteiam personagens que serão “familiares” de muitos portugueses. Aqui, os protagonistas são homens e mulheres que não se vêem, uma equipa de técnicos, criativos e produtores, que passam a atores principais nesta reportagem.
Terça-feira, 15h, 32 graus. A caminho dos bastidores da novela “A Única Mulher”, o autocarro nunca mais pára, de Lisboa até Bucelas é quase uma hora de viagem. No meio do nada, um portão: é a entrada da Plural. Mais 20 minutos a pé ou à boleia de Bruno Cabrerizo e aqui está “a terra dos sonhos”, como lhe chamam. O silêncio impera. A actriz Maria Leite, que interpreta a personagem Ana Maria, aproveita a sua pausa, sentada na esplanada do bar, para escrever. Há muitos carros estacionados e muito poucas pessoas.
Pouco se fala nos profissionais que trabalham durante meses nos bastidores, poucos sabem os seus nomes, mas eles não se importam. “Quando optamos por trabalhar nesta área, está intrínseco a escolha que se faz: trabalhar à frente da câmara ou atrás da câmara. Quando esse assunto está resolvido, não se pode considerar ingratidão. O que interessa para o espectador e no produto que estou a produzir é quem está à frente da câmara e não quem está atrás”, diz o produtor Sérgio Baptista.
A família Caiado está a gravar, outros actores começam a chegar e a preparar-se. O ambiente é de tranquilidade. O actor Bruno Cabrerizo mostra, com entusiasmo, novos passos de dança que aprendeu nos ensaios do programa “Dança com as Estrelas” a alguns elementos da equipa. A boa relação está presente e é facilmente visível. “A boa relação tem que existir mesmo, é fundamental. Somos adultos, todos temos dias menos bons, mas temos que saber gerir isso tudo, para que as coisas corram bem e fluam. É muito importante, são 12 horas de trabalho”, conta a cabeleireira Cristina Dinis.
Os verdadeiros protagonistas
As portas estão todas abertas, excepto a dos estúdios onde se está a gravar. Homens e mulheres andam por todo o lado, precisam de se movimentar rapidamente e de ter acesso a tudo o que necessitam. Fátima Alves é responsável pelo guarda-roupa e tem consigo as costureiras que a ajudam em tudo o que é necessário. O processo da escolha das roupas para cada personagem começa com o conhecimento da mesma: “Temos um perfil de personagens que nos é dado no início de cada projecto, e uma sinopse, que é basicamente o resumo de tudo o que se vai passar. Nesse perfil estão todas as características de cada personagem: idade, meio social, dicas de guarda-roupa, como clássico, moderno, trendy. Eu apresento um figurino, depois é discutido com um coordenador de projecto, e vemos se a linha está (ou não) adequada a essa personagem. Se for aprovado, é só preparar o guarda-roupa para essa personagem. Temos roupas que são confeccionadas pelas nossas costureiras, grande parte do guarda-roupa não são só patrocínios. Também compramos roupas com descontos, temos acordos com algumas empresas e o nosso guarda-roupa central, os camarins, onde vamos buscar algumas peças já utilizadas noutras novelas.”
Na porta ao lado do guarda-roupa, está a equipa da magia: cabelos e maquilhagem. Uma sala cheia de espelhos, luz, escovas, secadores, maquilhagem, pincéis, cadeiras, tudo o que é necessário para embelezar ainda mais os actores. Cristina Dinis é quase sempre a última pessoa a terminar o processo: “É-nos dada uma hora para tudo, ou seja, 10 minutos guarda-roupa, 20 minutos maquilhagem e 30 minutos cabelo. Tentamos sempre gerir esse tempo entre nós. Umas vezes, conseguimos em menos tempo, outras, precisamos de mais. É fundamental trabalhar em equipa e respeitar o tempo para não prejudicar o trabalho de ninguém.”
UAL, o cenário real
A Universidade Autónoma de Lisboa foi escolhida pela equipa de produção como um dos palcos de gravações no exterior. “Foi uma conjugação de vários factores. Acima de tudo, o look que a UAL tem em termos do edifício, na nossa história, era o que nos interessava mais. Ter um look de uma universidade que está dentro da cidade de Lisboa, que tem equipamentos modernos, mas que também transmite um local com alguma história, uma universidade com um nome implementado na sociedade”, afirma Sérgio Batista. Após essa escolha foi feito um acordo com a Universidade. Juntaram-se duas vontades: a de gravar, da produção, e a de fazer publicidade, da universidade. “Nestas situações existe o que costumamos referir como parceria estratégica, ou seja, nós necessitamos de poder ter um espaço para gravar e, do outro lado, pode existir uma vontade de conseguir a divulgação de uma marca ou de um espaço em si. Posto isto, é fácil haver uma convergência de vontades de ambas as partes. Neste caso, foi isso que aconteceu. Havia uma vontade nossa de lá gravar e também existia uma vontade da UAL de poder divulgar a sua marca e de poder ter uma visibilidade dentro e fora do ecrã. Então, foi fácil criar essa parceria”, acrescenta Sérgio Baptista.
Durante as gravações, alunos e actores podem conviver, desde que assim o queiram. Cria-se um cenário real, que evidencia o trabalho dos actores. “As pessoas da Autónoma são muito simpáticas, sinto-me em casa na Autónoma. Não há nada como estar a gravar uma cena no próprio ambiente, tudo conta para um actor. Às vezes, estou lá a passar e vejo as aulas a decorrerem e dá-me vontade de ir ver como é, como funcionam, para perceber como os alunos andam, o que conversam, como é que são os professores. Tudo inspira um bocado e gravar na UAL ajuda muito a que o meu trabalho seja melhor”, revela o actor André Nunes.
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular “Técnicas Redactoriais”, no ano letivo 2014-2015, na Universidade Autónoma de Lisboa.