Alexis Tsipras não veio para fazer bluff e nem por um momento lhe passa pela cabeça renegar as metas que o levaram à vitória. Num primeiro passo, aliou-se à direita, num gesto improvável mas despido de qualquer tacticismo: os Gregos Independentes só têm um coisa em comum com o Syriza, que é serem anti-troika. Portanto, óptimo. Nenhuma necessidade de suavizar o que andou a prometer.
Alexis Tsipras não veio para fazer bluff e nem por um momento lhe passa pela cabeça renegar as metas que o levaram à vitória. Num primeiro passo, aliou-se à direita, num gesto improvável mas despido de qualquer tacticismo: os Gregos Independentes só têm um coisa em comum com o Syriza, que é serem anti-troika. Portanto, óptimo. Nenhuma necessidade de suavizar o que andou a prometer.
Embalado, Tsipras desafiou tudo que estava acordado no memorando logo no primeiro Conselho de Ministros, apesar das ameaças externas: readmitiu funcionários públicos, parou o programa de privatizações, repôs o salário mínimo nos 751 euros e promete energia grátis para todas as famílias pobres!
Tsipras está assim a ser fiel à sua palavra, o que na paisagem helénica – e cada vez mais na política europeia – já é um feito assinalável. O único problema é que o pretende fazer com o dinheiro dos outros!
A economia grega não gera riqueza nem para um salário mínimo desse nível nem para um sector público hiper-dimensionado por anos de desmando, a par de uma sistema fiscal que de suíço só tem o queijo! Quanto ao que foi emprestado, a aritmética primeiro que o populismo: a Grécia deve 315 mil milhões de euros, a maior fatia em dívida oficial, ou seja, a BCE, FMI e, sobretudo, Fundo Europeu de Estabilização Financeira. A todos os europeus da Zona Euro, portanto.
Provavelmente, Tsipras espera pagar o fim da austeridade grega com os 22 mil milhões de euros que teria este ano de entregar de juros e amortizações a quem emprestou dinheiro à Grécia e contava reavê-lo. Com o maior respeito que os resultados eleitorais me merecem, valeria a pena perguntar a todos os restantes contribuintes da Zona Euro se estão disponíveis para alinhar com os princípios do Syriza. Na prática, se entram numa espécie de Je Suis Grego à escala europeia.
Porque, no fundo, o que o Syriza está a querer é que quem já emprestou dinheiro à Grécia o esqueça. Um pouco como aconteceu com o hair-cut de há três anos. E que, já agora, empreste mais para acudir a necessidades prementes até ao final de Fevereiro. E, depois, até ao final do ano. E assim sucessivamente. Mas sem corrigir nenhum dos problemas que conduziram ao descalabro das contas públicas do país, com excepção de um justo combate à corrupção.
Não ficaria surpreendido se daqui por dois meses a Grécia recobrasse soberania monetária e saísse do Euro para imprimir moeda livremente. Tsipras não é de transigir nem parece dado a jogos de póker.
Pedro Pinto *
* Pedro Pinto é Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional, Jornalista e Professor na Universidade Autónoma de Lisboa