Tem 18 anos e uma grande ambição: ser eurodeputada. Mariana Santos integra projetos e promove debates na sua escola de forma a incentivar os jovens para a consciência política e cidadania. De opiniões e ideias vincadas, não se contenta com as pequenas ações e acredita que pode fazer a diferença no Parlamento Europeu.
Tem realizado muitos debates e palestras sobre política na sua escola, a Secundária Leal da Câmara. Os jovens ainda têm interesse pela política?
É um pouco difícil responder a essa pergunta. Na minha escola, os jovens são bastante interessados e conseguimos despertar esse interesse com este tipo de projetos, mas também há uma grande percentagem de jovens que começa a ter pontos de vista mais anárquicos e a não acreditar num governo. Por isso é um “50/50” e é importante que campanhas feitas pelo Parlamento Europeu como, por exemplo, “Desta vez eu voto”, tentem captar a atenção dos jovens para o interesse político e, sobretudo, reforcem a importância de votar.
Quando é que nasceu este seu interesse pela política?
Foi algo muito rápido e espontâneo. Provavelmente no início do ano letivo, com todos os projetos que a minha escola nos forneceu.
Estando a incentivar jovens mais novos do que a Mariana para a consciência política, que pensa do cenário político em Portugal?
(Risos) Essa é uma questão um pouco traiçoeira. Não me foco muito a nível nacional, uma vez que os projetos da minha escola são mais direcionados para níveis europeus, muito por causa das eleições europeias. No entanto, o cenário político em Portugal não me parece muito simples. Apesar de me identificar com ideologias de esquerda, algo com o qual não concordo é a “geringonça”. O PSD ganhou e, embora pense que não tenha sido a melhor escolha nas últimas eleições, para mim a criação da “geringonça” foi contra o direito que temos de votar e de escolher quem queremos para governar.
A sua escola, a Secundária Leal da Câmara em Rio de Mouro, é embaixadora do Parlamento Europeu …
Ainda não é bem oficial. A escola concorreu ao projeto, só no dia 17 de maio é que vamos ficar a saber se recebemos a placa de escola embaixadora do Parlamento Europeu. Tudo o que temos feito serve para dinamizar o projeto e, sobretudo, conseguir a oficialização. Para ser honesta, não sei que benefícios é que esta oficialização nos traz [à escola]. Penso que não é tanto pelo reconhecimento, mas pelo seu significado, serve mais como um incentivo: “Conseguimos! Fizemos isto bem, agora vamos continuar.”
É importante mais escolas terem o papel de incentivar os alunos a serem mais ativos e críticos politicamente?
Sim. Acho que o projeto devia abranger todas as escolas do país ou, pelo menos, existir um maior esforço por parte das escolas. Sei que há a disciplina de Cidadania em algumas escolas, mas não chega. A política está direta ou indiretamente inserida em todos os aspetos da nossa vida. Se um jovem da minha idade, que vai votar este ano, não sabe o que é que vai fazer, em quem é que vai votar ou como é que vai votar, é preocupante porque não consegue decidir o seu próprio futuro. As escolas deviam ajudar neste aspeto, a construir não uma opinião política, porque é difícil ser imparcial neste aspeto ao ensinar política aos alunos, mas ter um papel importante na construção e na formação para a cidadania dos jovens.
O clube europeu da escola em Rio de Mouro
Faz parte do Clube Europeu na sua escola, clube que também se enquadra no projeto escola embaixadora do Parlamento Europeu. Qual é a importância desse clube para si?
O Clube Europeu tem dinamizado muito o projeto da escola embaixadora, fazemos quase tudo em conjunto. Embora não tenha um papel tão importante para mim como a escola embaixadora, porque o meu foco é mais direcionado para esse projeto, o Clube Europeu dá-nos a conhecer não só um pouco mais sobre a Europa, mas também a nível nacional, ao promover visitas de estudo à Assembleia da República. No fundo, é um projeto mais global.
Em novembro de 2018, esteve com o eurodeputado Carlos Zorrinho. Que intervenções e questões abordadas considerou mais interessantes?
Falámos da questão do voto eletrónico, da inteligência artificial, que foi uma discussão bastante proveitosa, da economia circular, do estado da Europa e da importância do voto. O debate não foi muito extenso por questões de agenda do eurodeputado e também porque não queríamos torná-lo em algo “maçador” para os alunos.
Concretamente, como foi a preparação para o debate?
Somos das poucas escolas em que os alunos integram a mesa com os convidados. Nós apresentamos o convidado, damos início ao debate e terminamo-lo. É muito raro o diretor ou a subdiretora do agrupamento intervirem no mesmo. A nossa coordenadora reuniu com outras professoras coordenadoras e deu-nos total liberdade para tratar de tudo: fazer pesquisas, preparar os guiões, o debate e respetivas intervenções, obviamente tudo com supervisão. Isto prepara-nos não só para o futuro, mas também nos dá uma maior independência e responsabilidade.
Objetivo: Parlamento Europeu
Esteve há pouco tempo em Bruxelas, no Parlamento Europeu, e diz que no futuro pretende trabalhar lá como deputada. Tendo apenas 18 anos, não será um projeto demasiado ambicioso?
Sempre fui uma pessoa ambiciosa, sempre quis mais do que achava que podia ter. Trabalhar no Parlamento tornou-se um sonho desde que entrei nestes projetos e desde o primeiro debate. Vejo o Parlamento como um sítio onde podemos fazer a diferença. Claro que podemos fazer a diferença com coisas pequenas, mas sempre fui uma pessoa de projetos grandes, coisas “tchanam”, e viver diretamente a experiência de estar no Parlamento e assistir a uma sessão plenária deu-me a certeza de que é mesmo isto que quero e vou fazer de tudo para lá chegar.
Quais são os principais obstáculos para si?
O que me assusta mais neste processo todo é o facto de não estar filiada em nenhum partido e para chegar ao Parlamento é preciso ser filiado. Já me questionaram várias vezes se gostaria de formar um [partido]. Pessoalmente adorava e acho que é das melhores coisas que poderia fazer, mas sinto que preciso de bases, também por ser muito nova. No entanto, tenho esperança de um dia poder fazê-lo.
A professora Margarida Mota foi responsável pela sua ida ao Parlamento Europeu. Que importância é que ela teve na sua decisão de seguir uma carreira na política?
Toda! (Pausa) Foi ela que me inspirou a tomar esta decisão. Fui a primeira pessoa a inscrever-me neste projeto e, por isso, ela deu-me mais e maiores responsabilidades. A ambição que ela teve para desenvolver estes projetos e lutar por isso, ambição essa que também me foi transmitindo ao longo destes meses, deu-me mais vontade de querer ser como ela, de querer ter um papel igual ou ainda maior do que aquele que ela teve para mim. No fundo, ela foi a minha maior inspiração para querer seguir uma carreira política.
Tentou comunicar com o Presidente da República. Pode falar-nos um pouco mais sobre isso?
Um dos projetos da escola embaixadora é promover debates sobre vários assuntos e, por isso, achámos interessante convidá-lo para falar sobre justiça social, uma vez que através de uma pesquisa verificámos ser um tema que os alunos abordam muito nos intervalos e nas redes sociais. Porém, dois meses depois, recebemos a resposta de que por questões de agenda não seria possível a sua comparência. No entanto, vamos continuar a tentar, e mesmo quando já não estiver lá – porque fui eu a escrever a carta – sei que alguém vai assumir o controlo do projeto e talvez um dia ele [Presidente da República] possa ir à escola.