José Lopes tem 22 anos, nasceu e cresceu em Felgueiras. Sempre sonhou trabalhar em televisão. Licenciou-se em Comunicação Social e teve o primeiro contacto com a área quando estagiou no Você na TV. A vida mudou-lhe as voltas, o estágio acabou e um “anjo” chamado Cristina Ferreira (como o próprio diz) convidou-o para fazer parte do seu programa. Tem ainda muitos objetivos por realizar, mas considera-se um sortudo por trabalhar na área que gosta.
Começou a ter maior visibilidade no programa da Cristina, mas o seu percurso começa muito antes. Trabalhar em televisão sempre foi um objetivo?
Sim! A televisão sempre foi um sonho, já era um sonho de criança. Quando era mais novo, as minhas brincadeiras favoritas já eram brincar à televisão, a tentar recriar aquilo que via. Eu e uma amiga de infância, a Rosário, tentávamos fazer uma televisão da nossa aldeia à nossa maneira. Fazíamos tudo: programas, novelas… Naquela época, queria ser tudo o que via na televisão. E sempre pensei que um dia ia estar lá, dizia isto muitas vezes. Desde sempre. dizia que queria ser jornalista e ninguém acreditava, quer dizer, as pessoas deixavam-me falar. Não é que as pessoas não quisessem e, hoje, vejo que ficam muito contentes por ter conseguido o meu objetivo, mas era uma coisa a que não davam grande credibilidade. É, sem dúvida, um sonho desde pequenino.
Em 2018 estagiou na TVI, no Você na TV. Como surgiu a oportunidade?
No final do ensino secundário, estudei Línguas e Humanidades, porque já sabia o que queria: no final no 12°, queria continuar no mundo da comunicação. Sabia que era por lá que seguia o meu futuro. Optei por Coimbra, porque era a cidade dos estudantes e queria-a até pela tradição académica. Tinha uma colega de Amarante, mais velha, que tinha feito o mesmo curso, e disse-me que tinha uma vertente prática acentuada, que no último ano ofereciam um estágio curricular e que era um curso bom, nesse sentido. Coimbra foi a minha primeira opção, selecionei todas as opções ligadas a Comunicação. A última era Direito, escolhi só mesmo por descargo de consciência, porque sabia que os meus pais gostavam… Mas pensei: “Deus queira que não entre!” Ia ser muito infeliz se fosse advogado, apesar de ter muito respeito por quem o é.
Quando nos foi apresentada uma lista de opções de entidades onde podíamos estagiar, a proposta que mais gostei foi a da SIC, no programa Alô Portugal, que ainda passava só na SIC Internacional. Fui a uma entrevista confiante, a achar que ia ficar, que era o meu momento, e não fiquei. Não estava talhado para o tipo de funções que o Alô Portugal propunha naquela vaga de estágio, e hoje compreendo e percebo que não era para mim. Era a vida a trocar-me as voltas e a apresentar-me algo melhor. E tentei por mim, com o apoio dos meus professores, um outro estágio, porque, de resto, não queria nenhuma das opções que estava naquela lista. Queria fazer algo que me concretizasse. Então, tentei o Você na TV. Fui muito insistente, muito chato, mandei muitos emails, liguei muitas vezes até que, finalmente, me responderam. Marcaram-me a entrevista e percebi logo pelo discurso da pessoa dos Recursos Humanos que iria ficar com a vaga. Comecei a 9 de abril e, depois, a Cristina [Ferreira] levou-me para o programa dela.
Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade de Coimbra. Começar a estagiar num programa de televisão com o Manuel Luís Goucha e a Cristina Ferreira como apresentadores foi um grande desafio?
Quando quis o Você na TV não tinha bem noção do que eram os conteúdos para o day-time. Queria mesmo participar pela experiência e a oportunidade de aprender, com a Cristina e o Manel, e isso foi o principal mote que me moveu a fazer a candidatura àquela vaga de estágio. Também porque já era um seguidor da TVI, gostava do tipo de programas que o canal apresentava, mas principalmente queria estar naquele programa, queria trabalhar com aqueles profissionais. Foi um desafio muito grande e foi uma experiência muito enriquecedora.
“O programa está na história da televisão e fiz parte dessa história”
Atualmente, trabalha na SIC, n’O Programa da Cristina. Como se dá a mudança de canal?
Era suposto o estágio ser apenas de três meses, o suposto era fazer estágio de produção num programa de entretenimento. Comecei pela produção no Você na TV, mas rapidamente percebi que gostava mais dos conteúdos, da parte jornalística para entretenimento, fiz um mês na produção e pedi alteração para os conteúdos. Mas, no final dos três meses, foi-me proposta a renovação do período de estágio. Os meus coordenadores na TVI disseram que estava a fazer um bom trabalho, que estavam a gostar do que estava a fazer e lançaram a ideia de ficar mais três meses, para me conhecerem melhor. Nunca dando a certeza de nada, abriram uma janela, falei com os meus pais – porque estar em Lisboa, sendo do Norte, englobava custos muito elevados – e eles foram super pacíficos. Se já estava a realizar o meu sonho, eles só queriam que continuasse, assumiriam os meus gastos, e fiquei durante seis meses.
Terminei o estágio no início de outubro, depois tive que ir fazer o relatório de estágio e defendê-lo. Quando saí da TVI, falou-se que podia haver a hipótese de integrar um projeto do canal, mas tudo muito em aberto, havia uma janela, mas nunca foi uma garantia, acabou por não se realizar. Fui para casa fazer o meu relatório. Quando o terminei, informei que o tinha terminado, mas aquela hipótese não surgiu. Um anjinho na minha vida, que foi a Cristina, que me tinha conhecido durante o estágio e tinha gostado de mim, rebuscou-me para este projeto. Ela não me retirou à TVI, como na altura fez correr muita tinta que a Cristina estava a levar imensos funcionários da TVI para a SIC, o que é mentira. No meu caso, não tinha nenhuma ligação contratual com o canal, e a Cristina deu-me uma oportunidade que mais ninguém deu.
Por mais anos que passem, vou ter sempre que agradecer este voto de confiança. Ela viu alguma coisa em mim, até hoje não sei o quê, que a fez levar-me com ela. E tem sido um desafio enorme. Eu soube, no final de novembro, que ia integrar a equipa d’O Programa da Cristina. Comecei as funções em janeiro, quando o programa arrancou e estou muito satisfeito desde então. Ainda para mais, estar na origem de um programa que marcou tanto e que foi o ponto de viragem. O programa está na história da televisão e fiz parte dessa história. Até podia sair hoje do programa que já ia muito feliz e ninguém me pode tirar aquilo que lá vivi.
O público começou a conhecer o seu trabalho quando apareceu com maior regularidade no programa. Mas o seu trabalho vai além disso. Por norma, como é que é o seu dia de trabalho?
No programa, comecei a receber os convidados, tentava que se sentissem bem, levava-os até ao estúdio, dava-lhes um bocadinho o briefing, explicava o que ia acontecer durante o direto, controlava a sala de maquilhagem na questão do tempo que tinham para cada convidado… A minha principal função era receber as pessoas e fazer com que elas se sentissem em casa, desde a chegada à SIC. Tinha de ser gentil para que gostassem de lá estar e acho que cumpri muito bem essa função. Como tirei a minha licenciatura em comunicação, sempre pretendi estar na parte dos conteúdos, ou seja, pensar nos temas que vão ser apresentados no programa e as histórias perfeitas para cada tema. E sempre fui explicando a minha vontade em mudar de uma função para a outra, manter-me na equipa, mas mudar de funções. Comecei a fazer as duas funções em simultâneo: de manhã, recebia os convidados e, de tarde, fazia os conteúdos. Agora, estou apenas na parte dos conteúdos e estou muito feliz. Tenho aprendido imenso. Continuo a ir ter com os convidados que são meus, que vão pelos meus temas, mas o que faço é arranjar as histórias que vão marcar presença no programa, perceber o que as pessoas têm para contar e se é importante ser contado em televisão, saber como entreter as pessoas.
Somos um programa de entretenimento, vivemos de emoção. Acho que a emoção é a palavra que diferencia o ‘jornalismo de informação’ e o ‘jornalismo de entretenimento’, todos somos jornalistas. Mas um jornalista de informação sabe que as suas funções têm que ser exatas, com clareza; no nossos lado, não nos podemos esquecer de tudo isso, mas temos que juntar a parte da emoção, saber ‘ser colo’ a tantas pessoas que recebemos nos sofá e só precisam de desabafar e ser ouvidas. Isso não começa quando as pessoas entram no programa, começa muito antes, com um telefonema a ouvir a história, a perceber os contornos da história, perceber se há alguma surpresa que possamos fazer e que faça sentido. Todo esse trabalho é muito giro e sei que estou na função de que gosto. Claro que tenho outros voos e sonhos mas, neste momento, estou muito realizado.
“No backstage ou na frente, o que importa é que estou no programa e muito feliz”
Participar no programa é o maior desafio?
É o que me dá mais gozo… Gosto muito! E de receber mensagens das pessoas e perceber, como já aconteceu, que a minha gargalhada fez o dia de alguém. Este tipo de mensagens não tem preço, porque era isto que queria.
O meu objetivo no futuro – que sei que está distante ainda, até porque não tenho preparação nem bagagem suficientes para o fazer – é ser companhia, diariamente, através da televisão. Estas minhas aparições no programa, de forma esporádica, têm sido muito divertidas. Divirto-me muito a fazê-las, as pessoas divertem-se a ver e esta energia que se cria é muito benéfica para todos. Principalmente para mim. Mas também gosto muito de estar no backstage. Foi uma coisa que foi surgindo, participei uma vez, fomos repetindo, correu bem e agora já sou uma das caras do programa, um dos vizinhos da Cristina. No backstage ou na frente, o que importa é que estou no programa e muito feliz.
Reconhecendo a exigência que é fazer um programa de televisão diário, qual é o maior desafio no dia a dia do Zé?
Um programa de day-time já existe há muito tempo, é muito difícil encontrar uma história nova… Todas as histórias já foram a programas, apenas mudam os protagonistas e muda o embrulho que dás às histórias. Nisso, a Cristina é excecional, ela consegue contar uma história como nunca foi contada, a excelência com que embrulha e apresenta, a emoção que lhes confere é, de facto, um fator diferenciador. O desafio é sempre esse: conseguir surpreender o telespectador todos os dias.
Por exemplo, os cantores vão a quase todos os programas de televisão, mas podes fazer brincadeiras com eles que em outros programas não fazem, podes surpreender com alguma coisa. Um exemplo: o Renato Godinho é ator e foi nosso convidado. Um pormenor em que pegámos e mais ninguém pegou, mas que é curioso, foi o facto de o Renato estar a ‘fazer’ um médico na novela Terra Brava e na novela anterior também ter feito de médico. Fizemos um quiz de medicina para entender se um ator que por duas vezes já fez de médico sabe alguma coisa de medicina ou não. Hoje, por exemplo, e visto que a Cristina acabou por dizer que fui eu que fiz o quiz, recebi logo uma mensagem de uma senhora a dizer: “Sempre a surpreender, Zé!” Isso é o fator que nos diferencia, nós escolhermos bons protagonistas, boas histórias, bons conteúdos, que marcam a diferença. Sabemos respeitar o espaço das pessoas, o tempo que elas precisam. A Cristina tem muito essa sensibilidade.
Tanto nas redes sociais, como no próprio programa, é visível o companheirismo que existe entre a equipa. Esse é o segredo para o sucesso do programa?
Sim, sem dúvida. Tive a sorte de cair de paraquedas numa equipa onde conhecia muito pouca gente. Quando entrei na equipa, conhecia o João Valentim (que já lá não está), a Patrícia Sargento, um dos elementos da produção, o João Manso, também jornalista do programa, e a Paula Ramos, a coordenadora. De resto, não conhecia ninguém. Fui super bem acolhido, essa cumplicidade que há entre colegas e com a apresentadora faz com que as coisas fiquem mais fáceis. Acordo muito feliz para ir trabalhar.
Por exemplo, quem é a apresentadora que um dia se lembra e convida, de tarde, a equipa para ir ao cinema? Pode parecer um exemplo pequenino, mas é como se fosse: “Ok malta, vocês estão aqui a dar o litro todos os dias, também merecem, de vez em quando, este miminho.” Esta valorização do trabalho – e salientei essa vez do cinema, mas também posso falar de alguns almoços que já tivemos com a equipa -, esses momentos também são fundamentais, podemos ser ou não ser amigos lá fora, isso não é relevante, mas somos muito colegas. Tenho a sorte de estar numa equipa onde todos têm esse lado e isso é muito importante.
Com a estreia d’O Programa da Cristina’ assistimos a uma alteração a nível de audiências nos programas da manhã, passando a SIC a liderar as audiências. Torna-se mais exigente trabalhar num programa líder?
Felizmente, o programa é líder desde o início, e isso é ótimo. Quem trabalha em televisão e diz que não se importa com audiências está a mentir. Toda a gente que trabalha em televisão preocupa-se com audiências, assim como toda a gente que trabalha numa loja de roupa se preocupa em vender muita roupa. O público é o nosso maior cliente, é a ele que temos que agradar. Saber que o público te está a ver significa que o trabalho que estás a apresentar é do seu agrado. As audiências são importantes, ponto. Mas não sinto pressão nenhuma nesse sentido, nem ouço lá dentro conversas sobre audiências. Sei os números que fazemos, mas não sinto essa pressão.
Sinto é a responsabilidade de fazer um programa bom e essa responsabilidade é-me transmitida desde o início: “O Programa da Cristina tem que ser um programa bom, tem de ter bons conteúdos, boas histórias, tem de ser diferente.” Mas nunca me disseram, temos que fazer A, B ou C para termos mais audiências. Só senti a pressão de fazer bem e é muito desafiante para alguém que está no início, como eu. É ótimo saber que tens de fazer bem. As pessoas gostarem de ti não te pode “deitar à sombra da bananeira”, se não vais perder tudo. O desafio é esse, fazer mais e melhor todos os dias.
“Não duvidei, em momento nenhum, que o que estava reservado para mim ia chegar”
O Zé é um exemplo para “nós”, estudantes de comunicação, que gostavam de trabalhar em televisão. Quais os conselhos que gostava de deixar aos recém-licenciados?
Não me vejo como uma referência para ninguém, mas fico contente que apreciem o meu trabalho e esforço. Nunca tive cunhas, vim do Norte, não conhecia ninguém na televisão, mas sempre acreditei. Não duvidei, em momento nenhum, que o que estava reservado para mim ia chegar, poderia demorar, mas ia chegar. E fui lutador. O estágio no Alô Portugal não correu bem, podia ter escolhido outro numa revista, mas não quis, não era para mim nem me realizava. Fui mesmo muito chato com a TVI, até acredito que me tenham dado a vaga de estágio só para me calar (risos). Queria aquilo e acreditava que aquilo seria para mim.
O segredo é serem vocês próprios. Não tentem forçar alguma personagem porque acham que vai vender mais e trabalhem! Se tiverem de sair às 9:00h ou às 10:00h da noite, não se queixem, porque as pessoas que já estão empregadas não precisam de dar provas de nada e um estagiário tem. Tenho a certeza de que fui um estagiário exemplar, e foi talvez por isso que a Cristina me chamou. Confesso que fiquei muito triste quando percebi que não ia ficar na TVI, chorei muito, porque achei que era o fim do sonho. Era injusto porque, se tinha trabalho tanto, porque é que aquilo estava a acabar? Mas era a vida a mudar-me as voltas para uma coisa melhor. As coisas podem não vos correr bem à primeira, à segunda, mas vão acabar por correr, porque o que tem que acontecer… acontece.
A vida é justa, pode não acontecer hoje, amanhã, mas vai acontecer. A vida dá-nos o que nós merecemos e aquilo por que lutamos. E este lutar é mesmo importante porque, se é o vosso sonho, se é o que querem, não desistam e vão à luta, porque o lugar que é vosso vai ser vosso.
“Num futuro longínquo, gostava de ter um programa meu”
Até agora trabalhou em talk-shows diários. Gostaria de experimentar outros formatos dentro do entretenimento ou mesmo da informação?
Não me revejo, de todo, em informação. O meu tom de voz a dizer uma notícia faria logo com que as pessoas mudassem de canal (risos). Eu sou muito histérico, falo muito alto, vejo-me em entretenimento, sem dúvida. Imagino a minha vida profissional sempre no entretenimento, mas gostava de experimentar outros registos. Quero crescer como profissional. Gostava de, um dia, num futuro distante, só depois de estar preparado para o fazer… porque não gostava de ter um programa amanhã e saber que ia fazer porcaria. Prefiro ter um programa daqui a 15 anos, mas saber que estou preparado naquele momento para o conduzir.
Agora, o principal objetivo é mesmo este: aprender. Eu já sou funcionário, já estou no programa, já aprendi muito, mas continuo a querer aprender mais porque tenho colegas que trabalham há muitos anos na área e têm muito a ensinar-me todos os dias, assim como tento ensinar aos estagiários que vamos tendo.
Gostava de passar por programas de social, quer programas a cobrir eventos, como o Episódio Especial, quer programas de comentário, como o Passadeira Vermelha. Gostava muito de fazer esse género de programas, porque também dão escola e muita bagagem. Diretos é aquilo que mais gosto de fazer. A curto prazo, será continuar na Cristina, mas se surgir a oportunidade de fazer os programas de social, para ganhar bagagem, para aprender mais, aceitarei mediante o desafio que me for proposto para poder crescer como profissional.
Num futuro longínquo, gostava de ter um programa meu, feito à minha medida, de acordo com aquilo em que acredito e naquilo que sei que as pessoas gostam. Quando és de uma terra pequenina, como eu sou, tens a vantagem de ouvir as pessoas, sabes o que é que as pessoas gostam de ver. Eu sou muito da terra. E um dia que consiga, se conseguir, quero ter um programa assim: um programa de emoções e que abranja toda a gente, que dê para as pessoas citadinas, mas que também dê para essas pessoas da terra, para se sentirem aconchegadas e representadas. É conseguir trazer as pessoas que me rodeiam agora, que vivo numa grande cidade, e as pessoas da minha terra, juntá-las todas num bolo e que todas tenham lugar ali no meu programa. Esse é o meu objetivo, mas a longo prazo.