É dos melhores praticantes mundiais de skate e tudo começou quando tinha apenas cinco anos. Com 19 anos, Gustavo Ribeiro tem levado o nome de Portugal aos quatro cantos do Mundo. É o primeiro português a vencer o mítico da Tampa AM e o primeiro a chegar à Street League Skateboarding, um dos seus maiores sonhos. Fez uma pausa nos estudos, mas garante que não se arrepende dessa decisão: o sonho de tentar ser o melhor skater do Mundo mantém-se.
Anda de skate desde os cinco anos e desde aí o skate tornou-se a sua maior paixão. Sente muita pressão com o facto de ter 19 anos e ter conquistado o que já conquistou?
Não, sinceramente não. Ando de skate desde os cinco anos e acho que, a partir do momento que se começa muito novo, adquire-se um lifestyle diferente daquele que o pessoal da minha idade tem. Assim, comecei a ganhar muito mais maturidade. Comecei a viajar sozinho desde os 12 anos e, a partir desse momento, comecei a crescer um bocadinho mais. Sinto pressão, no sentido em que, nos campeonatos, muitas vezes recebemos muitas mensagens. De certa forma, sinto-me pressionado em ter um bom resultado, não só para mim, mas para o meu País, para os meus fãs, para os meus amigos. No meu dia a dia, tento ser a pessoa que sempre fui e apenas andar de skate e divertir-me com os meus amigos.
Li que tem um recente patrocínio das tábuas de skate com a Jart. Como surgiu a ideia da criação dessas tábuas?
Já ando de skate com a Jart desde os 13 anos e, antes disso, o meu pai tinha uma marca de tábuas, na qual também andava. Surgiu esta oportunidade de andar de skate com uma marca de fora do país, uma marca espanhola, e foi no momento em que comecei a ter mais destaque no mundo do skate, a evoluir e a ganhar mais campeonatos. Toda a gente que quer ser profissional deseja ter o próprio nome escrito numa tábua de skate e, passado três anos de trabalhar para a Jart, a marca proporcionou-me esta experiência, o que foi um sonho tornado realidade.
De onde surgiram as ideias para o design das tábuas?
A primeira prioridade foi a tábua do Bart, a quem chamo Bart Ribeiro. Na verdade, é o Bart dos Simpsons e é como se fosse eu. Tem as mesmas tatuagens que eu, tem um boné da Redbull, um boné que uso muito, tem o aparelho como eu na altura usava. Portanto, em relação às outras tábuas, também dei a ideia de uma delas ter o “logo” de Portugal. As outras tábuas foram feitas por mim com a ajuda de um designer, mas aquela em que estive mesmo focado foi a do Bart, até o tatuei logo no meu braço (risos).
A carreira de skater requer muito treino e algum tempo de preparação para os campeonatos, como é o seu caso. Como consegue conciliar a sua carreira com a vida pessoal?
Neste momento, não estou na escola, o que faço na vida é apenas andar de skate. Muita gente pensa que é um desporto fácil e que não requer muito esforço, mas estão muito enganados. Para além de andar de skate, existem muito mais coisas a fazer, como a preparação física. Todos os dias de manhã, tenho de ir para a fisioterapia, para o ginásio e depois, à tarde, tenho de ir treinar skate. Mas há diferenças entre andar de skate e treinar, porque podes ir só andar de skate com os teus amigos. Um dos pontos muito importantes do skate é a consistência e, hoje em dia, o skate já está nos Jogos Olímpicos. O skate já é considerado um desporto olímpico e das coisas muito características no skate são os campeonatos e, para conseguires ganhá-los e seres bem-sucedido, tens de treinar muito a tua consistência.
Objetivo: Jogos Olímpicos
É, atualmente, campeão nacional e já ficou no top do ranking mundial na 3ª posição, ranking em que participaram mais de 300 atletas profissionais no Circuito Mundial World Skate SLS Pro Tour 2019, em Los Angeles. Quais são os seus planos de carreira como skater?
Infelizmente, os Jogos Olímpicos ficaram com um ano de atraso devido ao Coronavírus, o que é uma coisa bastante desmotivante. Quando és um atleta profissional que está a treinar há muito tempo e isto acontece, realmente desmotiva-te muito, mas tens de pegar na “coisa” que te desmotiva para te motivares a ti mesmo. Se isto aconteceu, ao menos vamos ter mais tempo para treinar, para ter melhor preparação física, mas definitivamente que os meus objetivos passam por, em vez de ficar em 3º lugar no ranking, é ficar em 1º e chegar aos Jogos Olímpicos e arrecadar uma medalha.
A pandemia afetou tudo e todos, de facto. Inclusive foram cancelados o campeonato World Skate SLS World Tour, em Las Vegas, e o World Skate SLSA World Tour, em Beijing, entre outros. De que forma prejudicou o seu trabalho?
Prejudicou o trabalho ao nível do processo de preparação para um campeonato específico, que acabou por não acontecer. É um sentimento que, sinceramente, nem consigo explicar, que dói. Tentei ser o máximo produtivo possível nesta quarentena, tentei andar de skate o mais possível, fazer ginásio em casa. Tentava fazer coisas diferentes, como aprender a tocar piano, passei muito mais tempo com a família. Claramente que preferia que isto não tivesse acontecido, mas é uma coisa que ninguém consegue controlar. Ao menos, tentámos fazer coisas que nunca fizemos antes. Tal como tudo na vida, mesmo que alguma coisa de mal te aconteça, tens sempre de ver o lado positivo em vez do lado negativo, caso contrário, começas a desmoralizar e a meter-te mais em baixo, o que não é saudável para ninguém.
Já fez muitas viagens desde o início da carreira, inclusive aos Estados Unidos e ao Brasil. De que modo essas viagens o enriqueceram como skater?
O mundo do skate não é na Europa. O coração do skate está definitivamente nos Estados Unidos. Se nunca tivesse lá ido, sem dúvida que não seria a pessoa que sou hoje. Nos Estados Unidos está toda a comunidade do skate, os managers, todas as marcas, todos os profissionais de skate, e assim consigo ganhar confiança com as pessoas, dá-me mais ‘pica’ e consigo evoluir. Lá estão pessoas com muito mais nível do que eu e, se andar de skate com elas mais vezes, consigo evoluir muito mais do que andar aqui com amigos. A partir do momento que viajo, consigo ganhar muito mais maturidade e aprendo a falar inglês, o que é bastante importante no meu meio.
E como ser humano?
Enriqueci muito. Pode não parecer, mas visto que comecei a viajar sozinho desde os 12 anos, sem ninguém e sem sequer saber falar inglês, fez com que enriquecesse muito. Tem que se fazer pela vida, e sinceramente hoje sou a pessoa que sou devido às viagens que fiz e à maturidade que consegui ganhar com elas.
Pausa nos estudos
Em relação à situação atual dos seus estudos, visto que optou por fazer uma “pausa”, sente-se arrependido por ter tomado essa decisão?
Não, sinceramente não me arrependo. Parei os estudos por uma razão: conseguir ser alguém no skate. Sempre disse à minha mãe que ia parar os estudos para tentar ser o melhor skater do mundo. Felizmente, as coisas estão a funcionar bem e sou uma pessoa que trabalha bastante. Como tenho um objetivo, quero que ele se concretize. O facto de a minha mãe me ter dado essa grande oportunidade, dar-me a liberdade de escolha de parar de estudar foi uma grande ajuda. Claro que não me sinto feliz em dizer que não acabei o 12º ano, mas, ao mesmo tempo, sinto-me feliz em dizer que foi uma oportunidade que a minha mãe me deu e uma oportunidade que me dei a mim próprio, para concretizar um sonho que está a ser concretizado.
As mulheres ganharam visibilidade na história do skate no Brasil. Desde 2016, cerca de 1,6 milhões de mulheres começaram a andar de skate. Qual é a sua opinião acerca disto?
Acho que é uma coisa ‘super’ fantástica. Lembro-me de, há três anos, ir para o skatepark e nunca ver nenhuma rapariga a andar de skate, eram apenas rapazes. Nos últimos anos, quando vou, tenho visto muito mais raparigas, o que é completamente fantástico. Muita gente dizia que o skate era só para homens e que era um desporto de arruaceiros e de bêbados. Acho que, hoje em dia, começamos a provar que o skate é um desporto tal e qual como os outros e fico bastante contente em ver a comunidade a crescer, principalmente a comunidade feminina.
Influência no meio digital
Com o crescimento das redes sociais e o impacto dos chamados influencers digitais, e tendo cerca de 230 mil seguidores no Instagram, considera-se uma influência no meio digital?
Sinceramente, não. O meu Instagram não serve para influenciar pessoas, apesar de ter alguns seguidores. É devido ao meu trabalho. Não uso esses seguidores para os influenciar, apenas tento mostrar ao máximo no Instagram o que faço durante o dia e tento mostrar às pessoas como ando a treinar. Portanto, não me sinto um influenciador, sinto-me apenas um atleta.
Já não é novidade para ninguém que está numa relação amorosa com a youtuber Sofia Barbosa. De que forma isso vos influenciou como figuras públicas?
Não sei, não influenciou muito, porque também nunca fomos pessoas de divulgar muito a nossa relação. Não sou uma pessoa que goste de mostrar a vida pessoal e ela também não. Óbvio que, por vezes, é um bocado chato as pessoas estarem a falar da tua vida e a comentar, mas é uma questão de hábito. Foi a minha primeira relação a sério e foi com uma pessoa conhecida e do meio das redes sociais, então, no início, não estava muito à espera de que falassem tanto assim da minha vida, mas, no final de contas, temos que nos habituar. É a realidade.