Diogo Infante, 47 anos, já viveu várias personagens no teatro e no cinema. A arte de representar está na sua vida desde jovem, mas para o ator não importa o meio em que se trabalha. Acima de tudo, gosta é de interpretar. A entrevista foi feita via e-mail.
O teatro está presente na sua vida desde muito novo. O que sentiu na primeira vez que pisou as tábuas?
Tudo começou no teatro Lethes, em Faro. Foi com uma companhia de teatro amador que me estreei e onde percebi que era mesmo aquilo que queria fazer. A primeira peça foi muito especial, era um drama em três actos “os cães” de Tone Brulin, um autor belga, creio. É uma peça situada na África do Sul e fala do apartheid. Fazia um jovem que se revolta contra o pai, um Bôer, conservador e muito racista.
“Acredito que um Teatro Nacional tem um papel essencial no tecido teatral e deve ser um polo de produção de referência”
O início da sua carreira é muito marcado pelo teatro. Que significado tem o teatro na sua vida?
É um espaço de procura e de encontro. No teatro temos um tempo inestimável que nos permite experimentar, errar, aperfeiçoar, até se encontrar o caminho, a personagem, que depois todos os dias vamos repetir perante um público. O teatro para além de efêmero, vive da ligação directa com o público e essa experiência produz, para além de um grande sentido de responsabilidade, uma forte descarga de adrenalina.
Ainda no D. Maria II assumiu o cargo de diretor artístico. Como foi a experiência?
Foi muito gratificante. Pude aplicar um modelo de gestão e de programação que há muito anos defendo e que basicamente consiste no pressuposto de democratização da cultura e da arte. Acredito que um Teatro Nacional tem um papel essencial no tecido teatral e deve ser um polo de produção de referência, capaz de criar dinâmicas criativas e cativar novos públicos. Foi isso que tentei fazer com toda uma equipa e estou muito orgulhoso dos resultados!
Enquanto ator como perspetiva o futuro do teatro?
Penso que continuará a haver produção teatro mas um enorme sentido de sacrifício. Quero dizer, enquanto o papel da cultura não tiver o devido reconhecimento por parte do poder político, a nossa capacidade efectiva de intervenção social será sempre residual e necessariamente elitista.
Em televisão já teve oportunidade de experimentar vários géneros desde a apresentação à representação, são duas paixões da sua vida?
Gosto de experimentar coisas novas, de me desafiar e de me surpreender. Sobretudo gosto de representar, seja em que género for e em que meio. Sou primeiro que tudo um actor.
Na RTP1 integrou o elenco de “A Banqueira do Povo”, onde representou com Eunice Muñoz, foi o grande marco da sua carreira?
Foi um momento marcante na minha vida porque me deu a conhecer ao grande público e porque tive de facto a grande sorte de contracenar com actores fantásticos, entre eles a maravilhosa Eunice, com quem desenvolvi uma grande cumplicidade e amizade que dura até hoje.
Em “Depois do Adeus” deu vida a Vítor, um homem que regressa de Angola depois do 25 de Abril. Acha importante a aposta neste tipo de séries de componente histórica?
Acho importante que se use uma Historia tão rica como a nossa como matéria prima para ficção. É uma forma de entretenimento que é simultaneamente educativa, já que dá a conhecer períodos e acontecimentos do nosso passado que foram determinantes para a nossa identidade colectiva. É o caso da série que refere, onde se fala da realidade dura de muitas centenas de milhares de pessoas, que por causa de uma guerra, se viram privados das suas casas e dos bens de um momento para o outro, acabando por regressar a um país com o qual já não se identificavam, onde tiveram, em muitos casos, que recomeçar as suas vidas praticamente do zero.
“O lado positivo é que os portugueses reconciliaram-se com a sua língua e hoje em dia a ficção em português já não soa tão estranho”
Já recebeu inúmeros prémios como Globos de Ouro pelos diferentes papéis que tem feito na sua carreira? É importante o reconhecimento por parte de outros?
Naturalmente. É uma forma de validar o nosso esforço e de nos incentivar a continuar, num país que nem sempre sabe reconhecer devidamente os seus artistas.
Depois de vários anos afastados das novelas regressou em “Mundo ao Contrário”, seguiu-se o “Beijo do Escorpião” e recentemente representou Simão em “Jardins Proibidos”. Como foi voltar às novelas?
Muito divertido. Pude fazer personagens muito diferentes, reaproximar-me do grande público e dar a conhecer o meu trabalho às gerações mais novas!
Qual é a sua opinião face à ficção feita em Portugal?
Acho que evoluímos bastante do ponto de vista técnico e de representação.Temos sempre um problema de escala, o que condiciona a nossa capacidade de produção. É por isso que se fazem tantas novelas em detrimento de séries ou telefilmes, cujos custos são mais elevados. O lado positivo é que os portugueses reconciliaram-se com a sua língua e hoje em dia a ficção em português já não soa tão estranho!
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular “Técnicas Redactoriais”, no ano letivo 2014-2015, na Universidade Autónoma de Lisboa.