Diana Nicolau estreou-se como atriz aos 20 anos, na telenovela “Ilha dos Amores “. Atualmente, com 33 anos, já realizou vários projetos em setores bem distintos, sendo que o mais recente se intitula Totopaxi. Em entrevista, conta como foi o início de carreira, o desenvolvimento do mais recente projeto, os planos para o futuro… “Um dia bom para mim é um dia em que faço muita coisa.”
Estudou na Escola Profissional de Teatro de Cascais e estreou-se como atriz na telenovela “Ilha dos Amores”. Sempre sonhou fazer da representação profissão?
Na verdade, não sabia muito bem o que queria ser, mas desde miúda, na escola, em todos os trabalhos e apresentações, fazia sempre em teatro. Lembro-me que foi no 7º ano, quando tinha 13 anos, a primeira vez que escrevi e encenei um espetáculo na minha escola. Eu e outros colegas juntámo-nos e adaptámos o “Auto da Barca do Inferno” e foi um sucesso tão grande que tivemos de o repetir várias vezes. As pessoas até pagaram bilhete. E fomos a outras escolas fazer [teatro] e foi, nessa altura, que toda a gente me dizia: “Tu tens de ir para o teatro.” Mais tarde, ainda não sabia bem o que queria ser, mas sabia que queria continuar a fazer o que já fazia, ou seja, contar histórias e continuar a fazer o que fazia na escola. Depois, quando fiz os testes psicotécnicos, no 9º ano, os resultados foram muito ambíguos, ali no meio das artes, mas também para o jornalismo. E a psicóloga da escola, quando me apresentou os resultados, disse-me: “Olha, tenho aqui um folheto de uma escola de teatro. Eu acho que é isto que tu queres.” E foi assim.
Foi na série “Morangos com Açúcar”, no papel da rebelde Sónia Lobo, que obteve maior projeção. Como foi a abordagem das pessoas fora da série?
Quando entrei, a série já tinha começado, o que foi ótimo para mim, porque consegui distanciar-me um pouco no início e não tinha noção nenhuma de qual ia ser a aceitação da minha personagem. Fiz os ‘Morangos’ durante dois anos e ainda hoje digo que não me lembro desses dois anos, não tenho muitas memórias porque, na verdade, não fazia muita coisa para além de gravar. A minha personagem e o núcleo com quem gravava, os rebeldes, ou seja, a Sara Barradas, o Luís Simões, o Rui Porto Nunes e o Sisley, começámos a ganhar muita incidência, a ter muitas cenas, a gravar bastante. Gravávamos seis dias por semana e as pessoas gostavam muito, logo, não nos restava muita vida para além disso, portanto, não tenho memórias como era a minha vida fora dos ‘Morangos’.
Nunca sentiu que a criticavam ou a abordavam de uma forma mais negativa devido à sua personagem?
Nunca. Como não fazíamos muita coisa para além dos ‘Morangos’, sempre que saíamos era uma loucura. Houve várias vezes que tivemos de ser escoltados de sítios. Era completamente absurdo. Mas nunca fui abordada de uma maneira negativa, não tenho ideia nenhuma disso. Aliás, as pessoas tratavam-me sempre bem. Adoravam. E os pais até vinham falar comigo a pedir-me conselhos, por a minha personagem abordar temas como a droga na escola.
Já interpretou diversas personagens em diferentes meios ao longo da sua carreira. Em qual dos meios, televisão, cinema ou teatro se sente mais realizada?
O teatro é o que me deixa mais realizada. Eu adoro trabalhar o texto, tentar abordar diferentes visões da personagem porque, no fundo, aquilo que as pessoas veem, seja num espetáculo ou numa novela, é o resultado de um trabalho. É como se representar fosse construir uma casa e aquilo que as pessoas veem é a casa construída. A mim, pessoalmente, o que me dá mais gozo é toda a construção. É os alicerces que é tratar, trabalhar e decorar o texto, ver como a personagem reage, encontrar um corpo, encontrar uma voz, trabalhar as emoções, justificar o porquê de dizer desta maneira e fazer toda a vivência da personagem até chegar a um resultado, o que as pessoas veem.
Ainda sobre as suas experiências profissionais, realizou vários trabalhos distintos, como dobragens e tradução de séries de animação, locuções de rádio e participou também em spots publicitários. Qual, de todos os trabalhos que já realizou ao longo da sua carreira, gostou mais de realizar?
O que tenho feito mais recorrente nos últimos tempos, desde que deixei de fazer tanta televisão, tem sido trabalhos de voz, trabalhos como locutora, sobretudo em anúncios de televisão e rádio, e dobragens de desenhos animados, que é algo que adoro. Estes dois trabalhos são coisas que sei que faço bem, que as pessoas gostam, que eu gosto muito de fazer e tem sido um trabalho muito constante.
Há cerca de um ano iniciou um novo projeto online em conjunto com a sua irmã, onde desenvolvem capas para capacetes e bicicletas, ao qual deram o nome de Totopaxi. Como surgiu este nome e qual o seu significado?
O nome surgiu numa viagem que realizei pela América do Sul. Uma das coisas mais espetaculares que fiz e uma grande prova de superação foi a subida a um dos maiores vulcões ativos no Mundo inteiro, que se chama Cotopaxi. Quando voltei dessa viagem, sempre que tentava fazer algo e havia obstáculos pelo caminho, pensava: “Não posso desistir! Eu subi um vulcão e agora vou desistir por causa de uma porcaria qualquer?” Quando começámos a criar a empresa surgiram alguns entraves e lembrei-me disso. Pensei: “Eu quero que o nome da empresa me faça lembrar o vulcão.” No entanto, Cotopaxi era um nome que já estava registado. Como não queríamos que fosse um nome que ditasse o que estávamos a vender, mas sim um nome que para as pessoas não significasse nada, mas para nós tivesse algum simbolismo, decidimos optar por Totopaxi.
Qual a sua inspiração para desenvolver capas com padrões bastante criativos e distintos dos que se costuma ver no mercado?
É muito simples: o único barómetro é o nosso gosto. Sei que nos negócios é importante não fazermos só coisas que nós gostemos e começar a expandir, mas nós estamos a começar devagarinho e guiamo-nos muito por isso, por aquilo que nós gostamos e aquilo que usaríamos.
Mais recentemente, devido à pandemia, apostou também na venda de máscaras reutilizáveis. Têm obtido muitas encomendas ou um bom feedback da população?
Ótimo. As pessoas têm sido espetaculares, não estava à espera que, de repente, tivéssemos um pico. Claro que, durante esta altura, ninguém ia comprar capas de capacetes. Mudámos a produção das capas para a produção das máscaras e tivemos um pico. Foi ótimo. Significa que as pessoas gostam do produto, temos muitas pessoas que encomendam duas, três e quatro vezes, por gostarem do produto. É necessário e faz-nos sentir bem, porque estamos a ajudar as pessoas ao vender um produto que sabemos que é bom, que tem qualidade e que vai proteger os portugueses.
Sente que, se não fosse uma figura pública ou tivesse um certo reconhecimento pela população, a sua marca teria o mesmo sucesso?
Acho que sim. Claro que no início ajudou, principalmente nas capas, porque fizemos muita promoção e conseguimos algumas entrevistas. Mas isso não foi o motivo pelo qual conseguimos vender mais. Percebemos que foi ao fazer um produto que as pessoas querem, não interessa quem está a vender. A maior parte das pessoas nem sabe que estou por detrás disto, há pessoas que pensam que apenas dou a cara à marca e apareço nas fotografias, porque também não assino como Diana Nicolau, assino sempre como Totopaxi. Tenho imenso orgulho na minha marca e falo dela a toda a hora, mas sinto que a marca vale pelo produto que é.
Com uma vida tão ocupada e com tantos projetos envolventes, como é conciliar a sua carreira de atriz com este novo projeto online?
Não é fácil, mas sinto que um dia bom para mim é um dia em que faço muita coisa, é o que me dá gozo. Normalmente, a Totopaxi ocupa grande parte do meu dia, são horas a fio, no entanto, acho que as pessoas não têm noção do trabalho que dá. Eu própria o subestimei porque, apesar de não fazer o trabalho manual, tenho de fazer as compras dos tecidos, buscar, levar e tratar de toda a parte do back office [departamento administrativo], ou seja, tratar das encomendas, processá-las, responder aos emails, às mensagens no Instagram e no Facebook, promover as redes sociais, tratar dos envios, das recolhas e pensar nas próximas coleções… Portanto, é um trabalho muito exaustivo, mas eu adoro, porque o que não consigo é ter um dia em que não tenha nada para fazer. Se não tenho, invento.
Qual a sua motivação para criar projetos tão diferentes em setores tão distintos uns dos outros?
Eu tenho uma sede muito grande por coisas diferentes e acho que, no fundo, se analisar bem, foi isso também que me fez querer ser atriz, ou seja, fazer várias coisas, representar vários papéis, viver vidas diferentes, contar histórias distintas e defender causas diferentes. Acho que isso se aplica muito àquilo que sou. Há muitas coisas que estão nesta cabeça que têm de sair (risos).
Com tantos projetos versáteis o que tem planeado para o futuro?
Eu sou uma pessoa adepta de não fazer planos, porque todos os planos que faço saem furados, portanto, já desisti disso. No entanto, tenho muita vontade de voltar ao teatro e à televisão, e já estou a trabalhar para isso. Tenho vontade de fazer coisas muito diferentes e sinto que 2020 vai ser um ano com muitos desafios. Planeio também fazer uma grande viagem à Ásia e fazer crescer a Totopaxi. Há muito para além das máscaras, porque as máscaras vão acabar em breve e já tenho ideias para o futuro.
Pretende complementar o seu projeto online com um espaço físico?
Não, acho que o futuro não passa por aí, não há essa necessidade. Tanto eu como a minha irmã estamos habituadas a trabalhar à distância. O que temos feito é ter os nossos produtos à venda em lojas, em Lisboa. Nenhuma de nós se vê a trabalhar nisto a tempo inteiro.