As cheias que assolaram a freguesia de Algés na noite de 13 de dezembro de 2022 — referidas pelos especialistas como uma das mais fortes dos últimos 50 anos — deixaram um rastro de destruição. O BangStudio, que viu a água chegar ao nível dos joelhos um dia depois da abertura, foi um dos locais afetados. Mas os (jovens) responsáveis não desistiram. E o sol voltou a brilhar.
Quem bate à porta do BangStudio depara-se com Hugo Mosca e Diogo Pinto, dois dos cinco amigos e proprietários do estúdio de fotografia localizado no coração de Algés. Rafael Barreiros, Lauro Moniz e Daniel Fernandes são os restantes membros do grupo que se conheceu no 9º ano, quando tinham à volta de 14 anos de idade.
Como tantos adolescentes, alimentavam o sonho de, um dia, criar um projeto em comum — neste caso, a sua própria marca de roupa e um canal para o Youtube. Conseguiram concretizá-lo no final de 2022, quando arrendaram um estúdio fotográfico. “Viemos ver o espaço a pensar que era um escritório, para começar uma marca de roupa e quando chegámos percebemos que era um estúdio de fotografia”, refere Diogo. Mas não desistiram, bem pelo contrário. “Adaptamo-nos e vimos a oportunidade de subarrendar para não termos de pagar renda.”
A ideia seguiu em frente e, no dia 12 de dezembro de 2022, abriram oficialmente as portas como estúdio de fotografia e gravação de vídeo. A verdade é que o ambiente de festa durou pouco. Um dia depois da inauguração, a água tomou conta da freguesia de Algés. E do estúdio. “Não foi uma situação nada fácil. É daquelas coisas que nunca estamos à espera que nos aconteçam “, confessa Hugo, admitindo que o prejuízo teria sido maior se não estivessem no local. “Tivemos oportunidade de desligar o quadro elétrico e salvar grande parte das coisas.”
Após o pânico inicial, Hugo e Diogo (os dois estavam no local quando tudo aconteceu) rapidamente perceberam que a água não vinha da rua, mas sim dos canos do prédio, que rebentaram com a pressão. “Senti-me completamente devastado”, confessa Lauro, ele que “estava a caminho do espaço quando tudo aconteceu e foi barrado devido às inundações”.
A tristeza e a decepção foram inevitáveis. “Lembro-me de estar a acontecer e pensar ‘pronto, acabou’”, menciona Hugo. Mas não baixaram os braços e puseram mãos à obra. “Nós é que fizemos os arranjos, se tivéssemos pago mão de obra ficava tudo à volta de 23 mil euros”, refere Diogo.
Entre os cinco, e com a ajuda de amigos, o estúdio reabriu dois meses depois. E com mais personalidade do que nunca, acredita Hugo. “O facto de termos sido nós a fazer tudo do zero fez com que sentíssemos o estúdio ainda mais como nosso.” O processo passou por recolocar todo o chão, pintar as paredes, refazer a parte elétrica que se tinha estragado com a água e arranjar os canos que tinham rebentado. “Só não conseguimos fazer a parte elétrica.”
O sol brilha novamente
Após dois meses de reparações, sangue e suor, o BangStudio voltou a abrir, atraindo clientes de norte a sul do país. Figuras de culto nacional entre os mais jovens, como o cantor Richie Campbell e o youtuber Windoh são alguns dos exemplos.
A pior parte já tinha passado, mas isso não significa que o percurso destes cinco amigos tenha sido fácil. Com idades entre os 19 e os 22 anos, o grupo percebeu que nunca tinha aprendido nada sobre como gerir um negócio. “O meu curso de Gestão não me serviu de nada”, diz Diogo, que foi o responsável por tratar da maior parte da logística. “Foi nessa parte que eu perdi mais tempo.” Arranjaram um contabilista, tiveram reuniões com “dois ou três advogados por causa de licenças e coisas do género” e, após todos estes passos e de muita tentativa e erro, chegaram à conclusão que até, afinal, “não era um bicho de sete cabeças”.
Com o passar do tempo foram também colocando algumas ideias de lado, entre elas vender álcool, precisamente a conselho dos advogados. Pouco tempo depois, e seguindo uma das razões principais pelo qual arrendaram o estúdio, lançaram oficialmente a sua marca de roupa: JormiWear. A primeira coleção, lançada em março de 2023, foi um sucesso a todos os níveis, garantem. E Lauro não tem dúvidas. “Ter um espaço só nosso para poder fazer isto tudo ajuda bastante.”
Fazem, contudo, questão de lembrar as dificuldades aos jovens empreendedores. “Ser um jovem empreendedor em Portugal não é fácil”, confessa Diogo, sob concordância de todos. Cerca de meio ano depois da abertura, ainda nem tudo está encarrilado como todos desejavam. “Se isto fosse só de um, se calhar dava para sobreviver”, avança Diogo, admitindo que, sendo obrigados a dividir por cinco, os rendimentos não chegam para que trabalhem em exclusivo.
Quando questionados se o estúdio é algo para o futuro, as respostas divergem, mas há algo comum a todos. Para já, é para continuar. “Não estou a planear ter um estúdio de fotografia para sempre, mas é bom ter esta vida independente”, refere Digo. Hugo acrescenta que “o contrato é de três anos e não nos vejo a sair daqui antes disso”.
Muito mais que o dinheiro, o que une o grupo é a amizade e a vontade de viverem as suas vidas independentes de patrões e chefes. Poderá não ser um plano a longo prazo, mas será, com toda certeza, algo que jamais esquecerão.