Tem dois amores maiores, a televisão e o teatro, mas é na área de Desporto que tenciona trabalhar. António José Chaves Camelier da Silva, conhecido como o “moranguito”, revela em entrevista como passou de “amador” a um dos mais conhecidos jovens atores em Portugal.
O teu primeiro papel como ator começou na 4ª série dos “Morangos com Açúcar” na TVI, em 2006/2007, marcando o início de um percurso televisivo. Foi a partir desse momento que sentiste que representar era a tua paixão?
Não, foi um bocadinho antes. Esse “bichinho” começou no grupo de teatro da escola secundária que eu frequentava na altura. A certeza, sim, veio aos 18 anos, quando interpretei o Gonçalo na série “Morangos com Açúcar”. Só nesse momento é que percebi que o meu futuro teria que passar pela representação.
Como recordas esta primeira experiência?
Foi uma experiência marcante a vários níveis. Recordo com muita nostalgia esses tempos. Era o primeiro trabalho para a maioria dos atores e estávamos a partir do zero, receosos, expectantes, mas com muita vontade de trabalhar e fazer as coisas bem. Foi uma grande escola, onde tivemos que absorver muita informação. Foi muito intenso. Por outro lado, os “Morangos com Açúcar” tinham uma projeção brutal e, de um momento para o outro, passas do anonimato à fama. Não é fácil para um jovem de 18 anos saber gerir essa nova condição. É muito importante teres uma boa estrutura para não te iludires e perder o foco daquilo que realmente importa.
Passaste rapidamente dos ecrãs para o teatro com a peça “Eu! Eu nada mais…!” que se realizou em 2008, no Teatro da Trindade. O que te atraiu para o palco? É muito diferente fazer televisão ou subir a um palco?
Foi natural esse “transfer”. Na minha opinião é fundamental qualquer ator ter essa experiência. Tanto o teatro como a televisão têm os seus encantos, mas é no palco que nos sentimos vivos. A magia, a energia, a imprevisibilidade e a proximidade com o público só o teatro nos pode oferecer.
O teu trabalho começou a ser reconhecido pelo grande público devido às participações em novelas da SIC como “Lua Vermelha”, “Mar Salgado”, “Poderosas”, “Coração d’Ouro” e, a mais recente, “Rainha das Flores”. Qual foi o papel mais difícil de interpretar?
Difícil? Talvez este último que interpretei na novela “Paixão”. Ele era mau como as cobras! [risos] Eram cenas difíceis, mas eu adorava, porque me obrigava a sair da zona de conforto.
Apesar de vários trabalhos, a música também entrou na tua vida inesperadamente. Atualmente, como está a tua carreira na música? Ou ser “DJ” é apenas um passatempo?
Entrou quase por acaso há uns nove anos, mas veio para ficar. Neste momento, estou novamente focado na produção e, em breve, sairá um EP [Extended Play] meu, em colaboração com uma artista portuguesa conhecida do grande público.
“Almejava um dia vir a ser jogador da bola”
Contrariamente, o desporto esteve sempre presente. Praticaste futebol no Real Sport Club de Massamá, em Sintra, do qual te tornaste federado. Foi essa ligação que te levou a seguir o curso de Ciências do Desporto, na Faculdade de Motricidade Humana?
O futebol sempre foi uma grande paixão e, como qualquer jovem, almejava um dia vir a ser jogador “da bola”. Como se sabe, isso não é para quem quer, mas sim para quem pode. Lamento não ter tido “perninhas” para jogar ao mais alto nível, mas ficou a promessa de um dia tirar um curso que me permitisse estar ligado de alguma maneira ao futebol.
Neste momento, frequento o 3º ano do curso de Ciências do Desporto, da Faculdade de Motricidade Humana, e de braços abertos para trabalhar nessa área se isso se proporcionar.
Confessaste que, e passo a citar: “Se um dia, mais tarde, tiver que enveredar por outra área, será certamente uma que esteja ligado ao desporto.” Este desabafo traduz-se no desejo de uma profissão estável?
Sou uma pessoa apaixonada pelo que faço e só consigo imaginar-me a fazer algo que tenha significado para mim. Tem de me desafiar todos os dias e, por vezes, tirar-me o chão. Se procurasse apenas uma profissão estável não seguiria o curso de desporto, com toda a certeza.
“Foi uma agradável surpresa para mim”
Há dois anos foste nomeado para “Homem do Ano” pelos prémios E!, do canal E Entertainment, e também para o “Melhor Ator Português Jovem”, no prémio “Melhor do Ano”, da Voz Pop TV. O que sentiste nesse momento? Estavas à espera ou foi uma surpresa?
Sinceramente, não estava à espera. Foi uma agradável surpresa para mim. Sentir o carinho e o reconhecimento do público é maravilhoso. No fundo, é para ele que nós trabalhamos.
Recentemente, decidiste partilhar na rede social “Instagram” uma foto tua em cadeira de rodas, deixando um comentário cuja finalidade era alertar para a inexistência de condições para indivíduos com mobilidade reduzida. Passo a citar: “Preconceito, calçadas em péssimas condições, falta de guias rebaixadas, inadequação de lojas e restaurantes, transporte deficiente, ensino profissional precário, diversas barreiras em prédios comerciais e públicos, estes são alguns dos obstáculos que os portadores com mobilidade reduzida têm que superar.” O que te levou a esta ação?
O que me levou a fazer essa publicação surgiu de uma aula de “Atividade Motora Adaptada”, onde nos foi sugerido realizar algumas proezas com a cadeira de rodas, desde a ação mais complexa à mais simples, como subir um pequeno degrau. Por breves momentos, coloquei-me no lugar dessas pessoas e senti as dificuldades e as barreiras que têm que ultrapassar no seu dia-a-dia. Se há um papel que nós podemos (e devemos) desempenhar na perfeição é o papel social.
O que queres dizer com “papel social”?
Servir de elo, alertar e consciencializar as pessoas para aquilo que está errado na nossa sociedade…não devia ser uma obrigação, mas sim um dever de todos.
O teu último projeto foi a comédia “Boeing Boeing”. É difícil fazer rir?
É, especialmente quando muita coisa nos convida a chorar. Mas, felizmente, tive a sorte de integrar um elenco de luxo, com um argumento hilário. Foi difícil não parar de rir!
“A vida de artista não é fácil”
O que aconselhas aos que estão a entrar agora no mercado de trabalho?
A vida de artista não é fácil. É uma profissão bonita, mas difícil e exigente. Requer um grande espírito de sacrifício, muito trabalho e resiliência. Investir na formação, ler muito e ver muito teatro é fundamental para o nosso crescimento.