João Rodrigues, 28 anos, jogador de hóquei patins do Barcelona. Considerado o “melhor jogador do Mundo” pelo site especializado “Rink Hockey”, o capitão da seleção nacional concedeu ao Desportista esta entrevista exclusiva, onde aborda a sua primeira época com o emblema culé, elogia o hóquei patins português e deixa uma mensagem à equipa do Benfica, convicto que vai voltar a patinar nos ringues nacionais.
Sai do Benfica a ganhar, entra no Barcelona, na primeira época fora do país, a conquistar troféus. Como está a ser a experiência na Catalunha?
A experiência em Barcelona tem sido fantástica! Tenho tentado aproveitar ao máximo e absorver tudo o que possa deste momento – não só conhecimentos táticos, como também um pouco da vida nesta nova cidade. Custa sempre a adaptação, mas o facto da equipa ter um ambiente fantástico, equipa técnica, todo o staff à volta, serem pessoas fantásticas, tem ajudado muito nesse processo e facilitou, sem dúvida, a adaptação a este clube e a esta cidade espetacular.
Alguma vez teve receio em tornar-se profissional no hóquei em patins?
Honestamente, nunca pensei em ser profissional de hóquei. Fui sempre desfrutando do desporto que praticava, pois era aquilo que mais gostava de fazer, e nunca pensei em ser profissional. Conciliei sempre com a minha formação académica, portanto nunca deixei de estudar, e acho que isso fez com que levasse o hóquei em patins de forma muito séria, mas sempre também tendo um plano B de lado, uma vez que sabia que se o hóquei não desse, tinha de ter esse plano B bem fundamentado.
Portugal é um país em que grande parte dos jovens praticantes de desporto sonham ser o “novo Cristiano Ronaldo” e não o “novo João Rodrigues”. Tendo começado muito cedo na modalidade, quais são as principais dificuldades que destaca na consolidação do hóquei no nosso país?
Penso que o hóquei em patins, neste momento, em Portugal, atravessa um excelente momento. O facto dos três grandes do futebol, juntamente com a Oliveirense, estarem a apostar em força nos seus plantéis faz com que o campeonato português seja muito competitivo, que haja o interesse das televisões. Mas não só esses quatro clubes, também vemos clubes de menor dimensão que têm sempre os pavilhões cheios, e é isso que atrai novos jogadores. É isso que faz com que a nossa modalidade seja, na minha opinião, a segunda mais importante do nosso país, atrás do futebol. O caminho é este, há que seguir desta forma. Nem sempre foi assim, no meu tempo se calhar não era assim. Já teve fases melhores, outras piores. O importante é nós todos, intervenientes desportivos diretos do hóquei – jogadores, treinadores, dirigentes (sobretudo os dirigentes, porque têm um papel mais ativo) -, aproveitarmos este momento do hóquei porque, realmente, como podemos ver, é um desporto vendável.
Depois de na época passada o Sport Lisboa e Benfica não ter conseguido alcançar o seu maior objetivo, esta época as coisas estão melhores. O que é que acha que se passa no balneário da Luz?
Em relação ao Benfica, no ano passado perdemos o campeonato no jogo em casa, com o Sporting, mas lutámos até ao fim! O Sporting foi melhor nesse jogo e foi um justo campeão, indiscutivelmente. Esta época tenho acompanhado com bastante atenção o campeonato nacional português, e é realmente um campeonato muito competitivo. Qualquer das quatro equipas pode ganhar, entretanto o Benfica atrasou-se na luta por esse título, mas acredito que, tanto este ano, que ainda têm dois títulos para conquistar, como no futuro, ou seja, no próximo ano, vão de certeza responder e voltar a ganhar títulos, porque se qualidade individual não falta, muito menos faltará qualidade coletiva.
Durante os largos anos que passou pelo Benfica, qual é aquela história que mais recorda?
Foram muitos anos no Benfica e há muitas histórias caricatas que vivi naquela casa. Apesar disso, destaco, no primeiro ano, quando fomos jogar a Inglaterra, o facto de quatro jogadores chegarem lá sem malas e ficarmos mais três dias retidos por causa da neve… foi uma autêntica aventura. Eu, que não tinha mala, pedi equipamento emprestado, enfim. Foi uma história que correu bem, visto que acabámos por ganhar, por muitos de diferença, conseguindo passar por aqueles entraves e chegar a casa a tempo do Natal (era 22 ou 23 de dezembro, algo por aí).
Taças Intercontinentais, Taças Europeias, Campeonatos Nacionais, entre muitas outras conquistas. Sei que é uma questão difícil, mas qual o título que mais proveito teve ao conquistá-lo?
Todos os títulos são muito proveitosos, mas as Ligas Europeias e o Campeonato da Europa pela seleção são aqueles que mais realço, porque são os mais importantes e, também, dada a circunstância em que foram conquistados. Marcaram a minha vida profissional e pessoal, naturalmente.
Que diferenças técnicas elege entre o hóquei em patins português e espanhol?
Há diferenças em muitos aspetos! Para mim, o jogador espanhol é mais rigoroso taticamente que o jogador português. A nível de treino, também comprovado por esta experiência, considero que, se calhar, nós somos um bocadinho mais preguiçosos na hora de treinar e eles não tiram o pé do acelerador, em nenhum momento do treino. Relativamente ao ambiente, digo, claramente, que Portugal ganha; temos pavilhões cheios muito mais vezes do que aqui. É fantástico ver um jogo na casa do Turquel ou do Valongo, mesmo que não envolva um dos grandes do hóquei nacional. O ambiente em Portugal é simplesmente magnífico!
E relativamente ao ambiente do campeonato espanhol… depois de ter jogado em todos os grandes ringues de Portugal, como é jogar em Espanha, sobretudo num mítico Palau Blaugrana?
Jogar no Palau Blaugrana é fantástico! Já tinha tido o prazer de jogar enquanto adversário, mas nunca pensei que poderia ter a oportunidade de jogar enquanto “membro da família”. É uma sensação única poder desfrutar destes momentos, tendo mesmo de me beliscar, para comprovar que isto é tudo real.
Se formos pelas estatísticas, podemos comprovar que o João tem ficado melhor e cada vez mais eficaz. Que processo utilizou para se tornar nesta máquina goleadora?
Fui cada vez mais aperfeiçoando esta posição, apesar de toda a minha formação ter sido em posições bem mais defensivas. Ao longo dos anos, tenho-me especializado em ser melhor avançado interior, e sendo nesse lugar vital ser-se eficaz e marcar golos, o meu foco tem sido desenvolver essas capacidades e conhecer bem o movimento dos meus colegas, para estar no sítio certo, à hora certa, de modo a poder corresponder aos passes que fazem e às oportunidades que todos criam.
Para terminar, o que é que podemos esperar do João Rodrigues nos próximos anos? Um regresso a Portugal, nos próximos tempos, é algo que equaciona?
Como te disse há bocado, agora é desfrutar ao máximo de estar a jogar no melhor clube do mundo de hóquei em patins e absorver cada segundo desta experiência. Gostava de estar aqui muitos mais anos, mas isto no mundo do desporto as coisas mudam muito rápido… no que depender de mim, farei os possíveis para cá continuar, mas acredito que regressarei a Portugal ainda como jogador.