Telma Monteiro é, aos 29 anos, a atleta mais premiada do judo português: quatro títulos de campeã da Europa, quatro títulos de vice-campeã mundial e líder do ranking mundial na categoria -57kg.
No Estádio da Luz, depois de um treino intensivo para recuperar de uma cirurgia ao braço direito, a atleta do Benfica fala abertamente sobre o sucesso na modalidade e as suas conquistas ao longo dos anos, revelando que sem resiliência não se consegue chegar longe no mundo do judo.
Desde que idade é que o desporto faz parte da sua vida? Como é que o judo se tornou o desporto de eleição?
Comecei a fazer desporto em clubes aos 9 anos e tinha preferência pelo atletismo e futebol. Em relação ao judo, tive a minha primeira experiência aos 12 anos e depois, mais tarde, aos 14, idade em que já gostava mais dos treinos e estava motivada para aprender mais, de tal forma que continuei até hoje.
“Quando estou lesionada, para mim o objetivo é recuperar bem. Em vez de estar focada na competição, foco-me na fisioterapia.”
Pouco tempo depois de se ter iniciado no judo, ganhou uma medalha de prata no seu primeiro combate oficial. O resultado revelou-se uma surpresa?
Nem por isso. Se bem me lembro, era uma competição de juniores e eu era cadete. Como tinha o objectivo em mente de ganhar medalhas, e apesar de ter sido a minha primeira competição, na altura não me pareceu nada anormal, pois tinha ambições ainda maiores. Mas, hoje em dia, consigo compreender que os resultados que alcancei com aquela idade foram muito bons para a pouca experiência que tinha, pois fazia judo há pouco tempo.
Hoje é líder do ranking mundial na sua categoria. Que aspetos considera essenciais para o sucesso nesta modalidade?
Acho que para ser um bom judoca é preciso ser-se resiliente e determinado, encarando a derrota como a vitória. Na competição, lutamos sempre com alguém, ou seja, não podemos estar apenas dependentes da nossa performance. Por isso, é preciso saber aceitar essas situações. Em relação às outras características, acho que são inerentes a todos os outros desportos, como, por exemplo, a capacidade de trabalho, a motivação e a disciplina.
Escolhas e recompensas
A relação com o treinador é decisiva no percurso de um atleta?
No meu caso, considero que sim. Por exemplo, já mudei de treinador algumas vezes, e sempre porque achei que precisava de avançar mais na minha carreira enquanto atleta. Acho que a relação com o treinador tem de ser de proximidade e de confiança, pois temos de ter confiança naquilo que o treinador está a fazer, para podermos ter confiança no nosso trabalho e nas nossas capacidades no dia da competição.
É a atleta mais premiada do judo português. Qual foi o momento mas marcante da sua carreira até agora?
É um pouco difícil, pois foram vários os momentos marcantes, mas aquele que destaco especialmente ocorreu na Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, quando fui responsável por representar Portugal e transportar a bandeira do nosso país.
Lesões e recuperação
Na vida de um atleta as lesões são uma realidade constante. Como lida com estas adversidades?
Acho que o principal é mantermo-nos focados no nosso objectivo. Quando estou lesionada, para mim o objetivo é recuperar bem. Em vez de estar focada na competição, foco-me na fisioterapia, que passa a ser o meu treino. Tenho também sempre em mente os objetivos que pretendo alcançar quando estiver recuperada. Isso é o que me dá motivação para ter disponibilidade mental para o tratamento, diariamente.
Recentemente, foi operada e estará parada durante algumas semanas. O que lhe custa mais durante este período de recuperação?
Os primeiros dias foram difíceis, mas passou rápido. No princípio, custou-me saber que iria faltar a algumas competições que já estavam planeadas. Tinha o objetivo também de poder manter o primeiro lugar do ranking mundial. Mas, como disse, foquei-me em recuperar bem. É uma situação que não podemos controlar.
“Para mim, este ano, o mais importante é o campeonato do mundo.”
Este desporto requer muito controlo sobre o peso. É difícil para ter uma alimentação muito rigorosa?
Pessoalmente, já não tenho de ter muitos cuidados, pois já não tenho peso a mais. Mas, para um atleta de alta competição que tenha os objectivos bem definidos, já se torna um hábito não comer coisas, como fast-food, regularmente. Não quer dizer que não comamos porque isso é um mito! Os atletas também comem, simplesmente, aprendem a controlar.
O judo em Portugal
O judo é uma modalidade olímpica desde 1972 e recomendada pela UNESCO como um dos desportos mais adequados para crianças e adolescentes. Qual é a sua opinião sobre o desenvolvimento desta modalidade no nosso país?
Acho que está bem desenvolvida, mas podíamos ter mais jovens praticantes. Para isso, também é preciso que as figuras do desporto, como eu e os outros atletas, consigam divulgar bem a modalidade e transmitir uma boa imagem da mesma, de forma a captar a atenção dos jovens e dos pais, pois as pessoas veêm em nós aquilo que o judo pode ser.
Que projetos e ambições tem para o futuro?
Para mim, este ano, o mais importante é o campeonato do mundo. Pretendo participar também no campeonato da Europa e no Masters, mas o mais importante é mesmo o campeonato do mundo. Espero também continuar a fazer uma boa qualificação para os jogos olímpicos para, no próximo ano, estar em condições de ganhar uma medalha.
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular “Técnicas Redactoriais”, no ano letivo 2014-2015, na Universidade Autónoma de Lisboa.