Trabalha na música, já passou pela representação e apresentação, mas recentemente aliou um novo trunfo ao seu percurso. João Paulo Sousa abriu as portas do estúdio que é a sua nova casa: a Cidade FM.
Cresceu numa aldeia no concelho de Alcobaça e o seu percurso profissional começou com um simples “Tens de vir a Lisboa”. Os primeiros passos foram na representação e a partir daí abriu mais portas. Desde programas para crianças, programas para jovens e até para toda a família, João Paulo Sousa, tem um currículo muito vasto. De momento, tem um projeto aliado com a música. E durante os dias de semana as suas manhãs são passadas na rádio, mas confessa que uma das suas grandes paixões é apresentar Festivais.
Cresceu numa zona rural e, desde cedo, começou a trabalhar na televisão. Como recorda o início de carreira?
A mudança do campo para a cidade foi repentina. Na altura, tinha 17 anos e a minha namorada, atual mulher, inscreveu-me num casting, em Lisboa, sem eu saber. Disse-me apenas: “Tens de vir a Lisboa”. Só tinha vindo a Lisboa uma vez na vida, numa visita de estudo da escola. Nesse dia, vim ter com ela, às escondidas dos meus pais, sem saber para o que vinha e, afinal, era um casting. Quando estava para ir fazer o casting, vi que era para a série ‘Morangos com Açúcar’ e acabei por ser selecionado.
Sente que a pessoa que é hoje se deve à sua infância e às mudanças que aconteceram na adolescência?
Sinto que muito daquilo que sou hoje se deve ao facto de ter sido criado e de ter crescido no campo. Tenho a certeza que seria diferente se tivesse passado a minha infância na cidade. Esse foi um dos maiores choques. Mais do que ter começado a trabalhar em televisão, não estava preparado, mas fui aprendendo e observando quem já fazia televisão há mais tempo. Ficava duas horas a gravar de manhã e acabava por ficar no estúdio até às oito da noite, porque queria aprender com quem sabia. Não tinha experiência nenhuma.
Para mim, o mais difícil de tudo era passar a viver em Lisboa: o trânsito, aprender as linhas do metro, o facto de ninguém dizer “bom dia” a ninguém, tudo isso me fazia imensa confusão. Sentia falta da empatia das pessoas. Ia a um café e diziam-me sempre: “Boa tarde, o que deseja?”. E só me apetecia responder “Olá, importa-se de ser familiar comigo? Sou o João”.
“Disse à minha mãe que ia viver para Lisboa e ela começou a chorar e o meu pai disse «Cala-te e come a sopa» e eu comi, mas vim na mesma para Lisboa.”
Cresceu com a vontade de “entrar na casa das pessoas” ou foi algo por acaso?
Nunca pensei, adorava ver televisão. Os meus pais iam dormir e eu ia, às escondidas, ver televisão. Era viciado. Mas pensava que a televisão era feita num planeta completamente distante, onde eu jamais iria conseguir fazer parte e que não estava ao meu alcance. Ainda hoje tenho pessoas que nunca consegui ultrapassar o facto de os ver na televisão e depois passar a trabalhar com eles, como por exemplo Rui Unas e Nuno Lopes.
Mesmo ‘Morangos com Açúcar’, pois era uma série muito jovem?
Sentia-me muito limitado no território. Tinha muito pouca mobilidade e muitas limitações. Não vinha a Lisboa. Tanto que vir a Lisboa no dia do casting foi algo super planeado. Tive de pedir boleia a um amigo para chegar à estação dos autocarros, juntar dinheiro para o bilhete. Foi um acontecimento que mudou a minha vida. Depois, quando cheguei a casa disse à minha mãe que ia viver para Lisboa e ela começou a chorar e o meu pai disse: “Cala-te e come a sopa”. Comi, mas vim na mesma para Lisboa.
Num direto que postou na sua página no Facebook disse que dar vida ao Sandro, personagem de ‘Morangos com Açúcar’, foi o trabalho mais assustador da sua vida. Porquê?
É verdade. Primeiro que tudo, não sabia nada sobre representação e, segundo, foi pela minha vinda para Lisboa. Essa foi a parte mais assustadora. Passar de uma aldeia que tinha 30 a 40 pessoas para um prédio que tem o dobro ou o triplo. Ainda hoje me faz confusão a ideia de viver num prédio. Faz-me falta sair à rua descalço e de ter árvores ou animais por perto.
Estar perto das pessoas
Em 2008, estreou-se na apresentação, no ‘Disney Kids’. Como foi a experiência?
Não era para ter acontecido. Na altura, estava a trabalhar na série ‘Morangos com Açúcar’ e fui ao casting do ‘Disney Kids’. Quando entro, perguntam-me o que faço por lá e disseram-me que não ia dar, porque ainda estava a fazer os “Morangos”. Porém, quando me estava a ir embora, chamaram-me e disseram que podia fazer o casting. Depois, quando dei por mim, já estava no segundo casting com mais um rapaz e outras raparigas. Aí, é que reparei que estava a ficar sério. Foi das melhores experiências da minha vida. O facto de dar continuidade ao meu trabalho na televisão foi muito importante. Quando os “Morangos” estavam a acabar, comecei a enviar currículos para o supermercado perto da casa dos meus pais, pois não fazia ideia do que ia acontecer. A primeira vez que andei de avião foi com o ‘Disney Kids’ e também foi quando tive um salário decente. Saber que podia continuar a viver em Lisboa fazia diferença naquilo que poderia vir a ser o meu futuro, porque, durante o tempo em que estive na série ‘Morangos com Açúcar’, se não fosse um amigo a dar-me casa, não conseguia ter ficado em Lisboa.
Depois de muitos nomes da televisão portuguesa passarem pelo ‘Curto-Circuito’, como Rui Unas, Bruno Nogueira, João Manzarra, entre outros, em 2012, passou a apresentar o programa. Como se deu essa mudança?
A ida para o CC (‘Curto Circuito’) também foi através de um casting, mas na altura não podia realmente começar a apresentar, pois ainda estava a fazer o ‘Disney Kids’ e, quando terminou o programa, ligaram-me para ir fazer o ‘Curto-Circuito’. Foi diferente, mas de certa forma já tinha tido esse público nos “Morangos”. Mas tive de mudar algumas coisas, principalmente, na maneira de falar. Às vezes, estava a apresentar o CC e na minha cabeça ainda estava a apresentar o ‘Disney Kids’. Não é fácil estar habituado durante três anos a um registo e depois mudar.
Sentia a responsabilidade que era apresentar o CC, pois já tinham passado por lá pessoas importantes da televisão e só me queria esforçar para estar à altura delas. A vantagem do programa é que dá para experimentar tudo. Éramos quase obrigados a expressar a nossa personalidade, pois estar em direto todos os dias, de segunda a sexta-feira, durante duas ou três horas, não é fácil mostrar uma personagem que não somos nós. Passado um bocado, a personagem cai. Ou mostramos aquilo que somos ou não vai resultar.
Projetos fora da televisão
Tem um projeto de música com um amigo, os ‘Insert Coin’. Dizem: “Não somos DJs, mas damos baile”. Na verdade, o que são os Insert Coin?
Nós não somos mesmo DJs. Eu sou apresentador e ele é humorista. Um dia, estávamos num bar já fartos de ouvir sempre as mesmas músicas e conhecíamos o DJ. Perguntámos se podíamos pôr a “nossa” música, tipo anos 90 e início de anos 2000. Toda a gente adorou e, no final da noite, o dono do bar agarrou em dinheiro e perguntou-nos se queríamos voltar lá para a semana, e aceitámos. Basicamente, os ‘Insert Coin’ é um espetáculo de revivalismo de música, com duas pessoas que adoram música e adoram estar em palco. Passamos um pouco de tudo, desde o hip hop, ao pop, ao rock e até passamos pimba. Pomos tudo e mais alguma coisa, mas brincamos com isso e dizemos mesmo que não somos DJs porque não somos e respeitamos quem faz música e quem é DJ. Felizmente, também nos têm respeitado porque respeitamos os outros e temos atuado com artistas desde o Quim Barreiros ao Toy, e do Anthony B ao Naughty Boy e nomes assim. Aquilo cria uma interação com o público que é interessante para quem vende um espetáculo, não porque sejamos músicos incríveis, porque não somos.
“Adoro estar perto das pessoas e sair daquele conforto de estar em estúdio fechado, acho que é uma coisa que me acrescenta muito como apresentador e como pessoa, faz-me feliz”
Chegaram a atuar no Rock in Rio?
Atuamos no ‘Rock In Rio’, mas brincamos com a situação. É uma espécie de desconstrução do que é um espetáculo de DJs. Passou de algo entre amigos para tomar uma dimensão mais séria e de duas pessoas a trabalharem nisto, já passaram a oito. Cada vez que vamos atuar é uma logística mais séria. O que é incrível é que me fez estar em palcos no país inteiro. Adoro estar em palco e apresentar cenas. Tem-me feito chegar perto do público e estar muito confortável para apresentar espetáculos para muitas pessoas. Hoje em dia, quando vou apresentar um espetáculo de uma empresa, por exemplo, é para muita gente, mas com os ‘Insert Coin’, já atuei para 20 mil. Essa dimensão ajudou-me muito como apresentador e adoro estar perto das pessoas, sair do conforto de estar em estúdio fechado. Acho que me acrescenta muito como apresentador e como pessoa, faz-me feliz.
Tem um canal no Youtube com, o conceito, um minuto por vídeo. Como surgiu a ideia?
Nasceu porque o Instagram só aceita vídeos de um minuto! (risos). Então, pensámos que tínhamos de criar algo que fosse só de um minuto, mas temos de agarrar as pessoas para elas ficarem a ver até ao fim, e lembrei-me disso. Toda a gente tem um minuto na vida. Então, vá lá, deem-me um minuto. O Youtube, no fundo, é quase um arquivo das coisas que vou fazendo, não o trabalho ativamente. Para o próximo ano, quero trabalhar mais nisso. Não me interessa muito o sítio onde ponho aqueles vídeos, o que me importa é que chegue ao máximo de pessoas possível. É no Instagram que resulta? Então ponho lá. É no Facebook que resulta? Então ponho lá também. Lanço para todos os meios e depois percebo onde resulta. Gosto de trabalhar para toda a gente. É algo que penso desde que trabalhei na SIC Radical. Não quero pensar que isto é só para o público que vê a SIC Radical, mas sim para toda a gente. Tal como quando faço rádio, não penso que é só para quem ouve Cidade FM, onde o target é jovem. Quero que seja para todos.
O espetáculo de’ Insert Coin’ não é só para as pessoas que estão na fila da frente. É para quem está lá atrás também. Já tive senhoras de 60 anos na fila da frente com as netas ou com os amigos. Não quero que elas se vão embora, quero antes trabalhar para toda a gente. Por exemplo, um humorista, não gosta de ouvir uma piada que seja só sobre a zona de Lisboa. Para mim, uma boa piada tem de ser percebida no país inteiro e se possível no mundo. Gosto que aquilo que faço seja para todos e não gosto que as pessoas se sintam excluídas.
A paixão da rádio
Passou da representação para a apresentação e agora está na rádio Cidade FM. Há vontade de voltar a representar ou prefere a apresentação, onde existe interação direta com o público?
Há algum tempo que gosto mais de apresentar do que representar. Mas a representação não é algo que ponho de lado e, por vezes sinto que se calhar até gostava de voltar a fazê-lo, só que neste momento não tenho tempo. Quando estava no CC ainda fiz algumas participações em novelas, como o ‘Dancin’ Days’, o ‘Sol de Inverno’ e o ‘Bem-Vindos a Beirais’. Sinto que estou muito confortável a apresentar, mas quando vim para a rádio fiquei muito desconfortável durante um tempo, porque a adaptação é completamente diferente.
Mas no passado já tinha trabalhado em rádio…
Foi muito diferente. Quando vim para a Cidade FM, senti que tinha começado do zero. Tudo aqui é diferente, não só a linguagem como a parte técnica. Antes, trabalhava numa rádio local e, de repente, passo para uma nacional, que pertence a um grupo que tem a rádio mais ouvida de sempre, no andar de baixo, é diferente…as coisas mudam um bocado.
Na SIC, já tive oportunidade de substituir João Baião, já integrei o ‘Curto-Circuito’, já realizei vários trabalhos na SIC K, na SIC Caras. Basicamente, só me falta a SIC Mulher e o ‘Jornal da Noite’ (risos). Desde fazer rádio, apresentar, representar, fazer teatro de improviso, ter um espetáculo de música… já fiz imensas coisas e não quero fazer apenas uma coisa para o resto da vida. É muito aborrecido. Também me desafia e faz-me crescer muito. Não pretendo dispersar e não quero que as pessoas achem que faço tudo. Por isso, é que apresentar e fazer rádio são áreas que têm pontos em comum. E, honestamente, acho que fazer rádio me faz um melhor apresentador de televisão.
E a representação, faz parte dos futuros planos?
Não. E acho que, em 2019, também não vai estar, a não ser que me façam um convite para uma novela que consiga conciliar com outra coisa que estou a fazer no momento, tipo a rádio. Mas a verdade é que gosto de me dedicar a sério às coisas. Não gosto de ir só dizer “bom dia” e estar lá cinco minutos e ir embora. Neste momento, perdi um bocado o comboio das novelas. Há malta da minha idade com muito talento e treinada há muitos anos para fazer novelas. Ou tenho um bom desempenho ou então prefiro não fazer. Neste momento, estou muito satisfeito com aquilo que estou a fazer na rádio.
O que mais gosta na rádio?
Há muita coisa de que gosto. Nunca tive tanta liberdade como na rádio e é algo que já não sentia há muito tempo. Foi a primeira vez na vida que vim para um trabalho novo, mudei de grupo e um monte de situações. Já trabalho há dez ou onze anos em televisão e foi a primeira vez que cheguei a um sítio onde a maioria das pessoas trabalha há menos anos nesta área do que eu. Foi a primeira vez que tive um chefe a dizer: “Isto é teu, faz o que quiseres”. Ao mesmo tempo que é fixe, é assustador. Nunca tive tanta liberdade, dá para conduzir o programa por onde quiser. Foi muito bom e continuo a viver isso agora. Sei que daqui a algum tempo vou dar muito valor a esta liberdade porque é uma coisa muito rara. É a primeira vez que estou a sentir isto na vida. É algo muito difícil de explicar. Chego aqui e as pessoas tratam-me por João Paulo Sousa e digo: “Não. Chamo-me João, trabalhas comigo, por favor, chama-me João”. Quero que as pessoas me vejam como um colega de trabalho e não como alguém que veem regularmente na televisão. Na rádio, senti isso, o que me deu um sentido de responsabilidade. Não gosto de ter distâncias entre as pessoas, nem na rua, e muito menos com quem trabalha comigo. Adoro o facto de ter a liberdade para poder experimentar as ideias que tenho. Se dá, continua, caso contrário, amanhã fazemos outra coisa nova. Conseguimos ver o feedback imediato das pessoas. Temos um ‘Preferias’ (rúbrica incluída no programa, que faz nas manhãs da rádio o ‘Já são horas’) todas as manhãs e recebemos imensas respostas dos ouvintes, como por exemplo: “Acordo contigo”, “Vou no carro contigo todos os dias de manhã”, ou “Estou no trânsito, isto é uma seca, mas é mais fixe por vossa causa”. É fixe estar a crescer com isto, porque quando cheguei aqui estava um bocado atrapalhado.
No futuro, pretende ficar pela rádio ou sente que ainda tem muito mais para fazer no mundo da comunicação?
Não gosto de fazer previsões a curtíssimo prazo. Quero muito continuar a trabalhar em rádio e televisão. Agora, tenho feito participações muito pontuais, mas, para o próximo ano, voltarei a fazer televisão. Digitalmente, quero fazer mais coisas, preciso de me dedicar mais a esse lado. Apresentar eventos é algo que tenho realizado muito e adoro. Também ‘Insert Coin’ vai ser forte para o ano.
Gosta de viajar e desafia-se a conhecer sítios que antes não tinha interesse em ir. Profissionalmente, também é assim?
Sim. Por isso, é que vim fazer rádio. Preciso de tirar o tapete do conforto. Quando estamos muito tempo na nossa área de conforto e fazemos sempre a mesma coisa é aborrecido. Crescemos mais quando tiramos o tapete. Com as viagens também foi um bocadinho assim. Este ano, fiz algumas viagens a sítios que dizia que não queria ir e depois cheguei lá e gostei. Foi o ano em que trabalhei mais na minha vida, mas também em que viajei mais. O que mais gosto em relação a viajar, a seguir a conhecer pessoas novas, e a aprender línguas novas, é voltar a Portugal. É uma sensação incrível.
E que desafios ainda gostaria de experimentar?
Tantos. Profissionalmente, como fiz a Escola de Atores, ainda tenho o “bichinho”. Gostaria de trabalhar mais em cinema. Já participei num filme, mas gostava de fazer mais. Em televisão, perguntam-me muitas vezes qual é o meu programa de sonho. Respondo que “é o próximo que vou fazer”. Gosto tanto do meu trabalho e vou trabalhar com vontade de fazê-lo. Quero continuar a fazer o domingo à noite e acho que, um dia, daqui a muitos anos, gostava de fazer day time. É das coisas que menos esperava e que mais gostei na minha vida, quando substituí João Baião, durante as suas férias. É como substituir o Cristiano Ronaldo. A nível pessoal, é continuar a ir a sítios onde dizia que não ia, mas acho que já deixei de dizer isso. Ainda há muitos sítios onde quero ir, como por exemplo o Egito, Laos, Vietname, Camboja, entre outros. E ter putos um dia destes. (risos)
Vamos fazer um ‘Preferias’: (rubrica do programa que faz nas manhãs da Cidade FM)
Apresentar para sempre o “Curto Circuito” ou só apresentar Festivais? Festivais.
Continuar a fazer as manhãs da rádio ou passar para as noites? As manhãs.
Nunca mais conseguir ouvir música ou ouvir para sempre as três músicas que menos gosta? Ouvir para sempre as três músicas que menos gosto.