O Boarding Gate é uma rubrica onde destacamos desportistas portugueses espalhados pelo mundo. O convidado desta semana é Tiago Pereira.
A paixão pelo andebol nasceu cedo. Tiago Pereira, com apenas seis anos, começou a jogar pelo Fermentões, em Guimarães, onde ficou durante 11 anos, sendo posteriormente convidado para o ABC de Braga. Lá jogou até aos seus 23 anos, chamando a atenção do Benfica, que o contratou durante 5 anos. Durante todo o seu percurso alcançou dois títulos de melhor jogador nos campeonatos juniores e atleta do ano “o minhoto”. Venceu o Campeonato Nacional de Séniores e três Supertaças de Portugal. Atualmente, com 29 anos, os seus caminhos não se traçam mais em Portugal, vestindo agora a camisola, pelo segundo ano consecutivo, do Selestat, em França.
Porta de Embarque
Abandonou o andebol português por ter ambições de se tornar profissional num campeonato melhor e “mais competitivo”. Assume que o campeonato português não o realizou, devido ao facto deste ter necessidade de “evoluir como jogador”.
Cultura
O maior choque cultural sentido foi “sem dúvida, a língua”. O facto de só saber falar em inglês, num país totalmente desconhecido pelo mesmo, dificultou a sua adaptação. Admite que teve de aprender sozinho e, mais tarde, “acabei por ter aulas”.
“Não conhecer ninguém da equipa, ninguém na cidade e deixar a família foi difícil”, conta. A ligação com os familiares foi um grande pilar para se tornar na pessoa e jogador que é hoje. A namorada e os amigos arrastam muita saudade, admitido que “estar longe deles custa muito”. Por outro lado, a habituação ao clima foi fácil, não sentindo grandes diferenças, somente no inverno, onde este chega a ser ligeiramente mais frio.
Momento mais marcante
Um dos momentos que mais marcou o seu percurso no Selestat acabou por ser menos feliz, “tivemos oportunidade de subir à primeira divisão no ano passado, mas acabámos com dois empates, então as equipas que tinham mais golos acabaram por passar”, conta.
Diferenças do desporto em Portugal
Ao deixar Portugal percebeu que encontrou o que procurava há muito tempo. O campeonato francês mostrou ser muito mais competitivo, “todas as equipas são profissionais e vive-se o andebol de uma maneira mais apaixonante”. Lá sente que não há favoritos, porque toda a classificação é equilibrada, “o último lugar pode ganhar ao primeiro”.
A equipa onde agora traça o seu caminho recebe muito carinho dos adeptos. Em dias de jogos, os pavilhões ganham uma forma de vida que antes nunca tinha visto, explicando que “as pessoas vêm duas horas antes do jogo para conviver e elevar a nossa confiança”. Este é um dos pontos mais diferenciadores em relação ao que se vive no país onde nasceu, “a cultura desportiva é completamente diferente. A visibilidade que se dá ao futebol é absurda”. Realça que no país natal, desde que se lembra, sempre viu publicidade e programas sobre a “modalidade rei”, não havendo tempo de antena para “as modalidades ditas amadoras”.
Explica que este é um problema desportivo que devia ser tomado em conta, “as crianças querem todas ser jogadoras de futebol, mas como nem todas têm essa oportunidade, acabam por desistir do desporto em geral”. Este é um dos principais fatores para não existirem mais atletas noutras modalidades, afirmando que “Desporto Escolar tem ignorado isso mesmo”.
Voltar a Portugal é um desejo que prospera realizar, “estar perto da família e conseguir ganhar um Campeonato Nacional é um objetivo”. Contudo, sente-se feliz na equipa onde atualmente joga, deixando esses desejos para segundo plano.