Um tempo freneticamente acelerado com pouco espaço para a reflexão, um caudal de informação difícil de filtrar e descodificar. Estaremos a tornar-nos escravos das ferramentas que supostamente nos libertariam, seres abúlicos e autênticos junkies mediáticos?
A afirmação dos “new” e dos “social media”, aliada a um recrudescimento de novas e mais tecnologias, criou a era mais dinâmica e revolucionária da história da comunicação. Novos avanços tecnológicos permitiram usarmos mais tempo e mais intensamente os media. Mas será que conseguimos filtrar e processar as suas mensagens?
Temos hoje à nossa disposição uma panóplia de instrumentos e plataformas tecnológicas que nos permitem aceder a uma enorme quantidade de informação. Mas será que processamos devidamente essa informação, que a compreendemos, avaliamos e criamos a nossa própria opinião, desenvolvemos um espírito crítico?
Nunca antes, tanta informação esteve tão facilmente disponível. Ao mesmo tempo que vemos um telejornal, lemos um artigo, fazemos um telefonema, consultamos a Internet ou inserimos um comentário numa rede social. Tudo isto se passa num ritmo freneticamente acelerado. Fazemos muito mais em menos tempo, desmultiplicamo-nos num sem número de atividades e experiências, deixamos pouco espaço à reflexão.
O que nos fascina é a quantidade de informação a que podemos aceder em qualquer parte do mundo… e a facilidade com que o fazemos. Mas há um problema: o da validação. Este “tsunami de informação” sem referências dificulta a tomada de consciência e a formulação de uma opinião fundamentada. “Mais” não é necessariamente sinónimo de “melhor”.
Como afirmou Dominique Wolton, em 2001, “subsiste a questão da validação da informação que encontramos, a organização dessa informação e – outro problema – a competência técnica para se ser capaz de gerir essa informação”.
Mais competentes, mais cidadãos
A tarefa de capacitar as pessoas com competências de literacia mediática é crucial para permitir que se tornem cidadãos participativos, solidários e interventivos, capazes de fazer opções autonomamente, potenciando, desse modo, uma sociedade mais justa e mais feliz.
Compreender, avaliar e criar a nossa própria opinião, desenvolver um espírito crítico, é fundamental na sociedade mediatizada em que vivemos. No entanto, a utilização massiva das novidades tecnológicas pode tornar-nos escravos “hi-tech”, imbuídos de uma atitude cínica no que diz respeito à democracia e à cidadania participativa.
A iliteracia mediática e digital assume-se como um novo tipo de analfabetismo funcional, um handicap. Sem espírito crítico, “corremos o risco de sermos dominados por completo e talvez abafados ou esmagados por toda essa informação” (Wolton, 2001). Ao nos tornarmos junkies mediáticos, tornamo-nos também seres abúlicos, como provam as elevadas taxas de abstenção.
Porque nos demitimos de participar e nos transformámos numa espécie de apáticos abstencionistas? Porque nos demitimos de exercer plenamente a o nosso direito de intrevir, transformando-nos em espectadores em vez de atores e cidadãos ativos e participativos?
Crise e incerteza
Num sistema em que domina “uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante”(Bauman, 2005) é compreensível que nos tornemos facilmente seres sem vontade própria, que se demitem de exercer a cidadania que têm o direito e o dever de praticar.
Hoje, embora vivendo em democracia, é preocupante a quase total ausência de oposição, de discussão e debate ideólogo sobre as eventuais soluções alternativas para a crise económica que atravessamos.
Neste contexto de crise e transformação, apesar da instabilidade e desconforto que a austeridade traz à vida de grande parte das populações, “a cidadania é hoje o mais passivo dos papéis: os cidadãos são espectadores que votam” (Walzer, 1995).
Torna-se urgente uma mudança de paradigma. Torna-se urgente passar do ensino baseado na informação acumulada para um ensino que se centre no conhecimento, nas competências e no tratamento/desconstrução da informação. Capacitar os cidadãos com competências de literacia mediática, desenvolver uma massa crítica que viabilize uma cidadania participativa, solidária e interventiva, que proporcione uma sociedade mais justa e feliz.