A dieta alcalina está a conquistar cada vez mais portugueses. Alguns especialistas defendem que os alimentos mais ácidos têm o poder de prevenir o aparecimento de células cancerígenas. Descubra os benefícios para sua saúde
Quando os anos passam e existem erros alimentares, falta de exercício físico e stress constante, o organismo torna-se mais ácido e tende a contrair doenças. Especialistas em nutrição acreditam que ingerir alimentos mais alcalinos pode ser a solução para contrariar o efeito de acidificação e restabelecer o equilíbrio. Para além destes benefícios, também adicionamos à alimentação minerais alcalinos, antioxidantes e outras propriedades que irão atuar de forma preventiva no nosso corpo. Uma pesquisa realizada, em 2013, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, concluiu que apenas 9% dos adultos consome a dose diária recomendada de vegetais. O pH, os alimentos e a qualidade da água são alguns dos princípios a ter em conta nesta alimentação.
Rita Boavida, nutricionista e autora do livro “O Fator pH” , explica como funciona o processo de acidificação dos alimentos: “Temos vários mecanismos que ajudam a eliminar os ácidos porque o nosso sangue tem de estar no pH neutro. Quando há alterações, o organismo tem de eliminar rapidamente. Devemos melhorar a alimentação e consumir alimentos mais alcalinizantes para o ajudar, de forma a que não tenha de se esforçar para fazer esse trabalho ao eliminar todos esses ácidos. Também produzimos ácidos e se já temos uma alimentação ácida. Por isso, é uma carga excessiva para o organismo.”
Uma questão de pH
O pH é uma escala que mede o grau de acidez e varia de 0 a 14 – do menos ao mais alcalino. O pH do ser humano é de aproximadamente 7,4. Todos os alimentos que ingerimos são neutralizados pelo organismo, com o objetivo de retomar um pH equilibrado. Rita Boavida esclarece que o pH pode ser avaliado através de medições regulares, com análises ao sangue, urina e saliva: «A medição da urina ou da saliva realiza-se através de tiras reativas. A análise ao sangue só pode ser realizada num laboratório de análises clínicas ou
em meio hospitalar. No caso da urina, fazemos uma leitura de manhã, durante uma semana para ver como estamos. Normalmente, também aconselho a medir o pH ao fim da tarde, antes do jantar, para ver se, durante o dia, a alimentação está a ser equilibrada ou não. No teste da urina e da saliva, o ideal é ter um valor de pH entre 6,5 e 7,5, sendo o pH ótimo mais próximo de 7. Se estiver abaixo de 6,5, significa que estamos acidificantes e, por isso, devemos consumir alimentos mais alcalinizantes.» Muitos alimentos tornam-se mais ácidos quando cozidos.
Escolha nutricional
A origem dos alimentos tem de ser vegetal ou biológica, optando por produtos hortícolas e que não tenham sido manipulados pelo homem, como é o caso dos produtos processados. O estudo do IPAM (Instituto Português de Administração de Marketing) “As atitudes dos consumidores portugueses face à rotulagem alimentar” revela que 11% da população não lê os rótulos das embalagens, os quais indicam todos os ingredientes do produto e as suas respetivas quantidades, tornando-se imperativo estar atento.
Duarte Alves é nutrichef, formador e consultor na área da consciência alimentar e cozinha nutricional com super alimentos. Recentemente, aceitou o convite de Alexandre Neves, especializado em Nutrição e Engenharia Alimentar e Ciências da Nutrição, para explorarem o tema em co-autoria no livro “A Cura pela Alimentação Alcalina”, editado em janeiro de 2018. O nutrichef lembra que 70% do corpo é água. “Devemos beber 2 litros por dia e também escolher uma água alcalina para ajudar o nosso organismo”, aconselha. Duarte Alves garante que “o plástico é um inimigo e a água engarrafada não apresenta qualidade”. E justifica: “Quando a água entra em contacto com o plástico, são libertadas substâncias nocivas.” Uma análise desenvolvida pela Universidade de Nova Iorque e pela Orb Media, envolvendo 250 garrafas comercializadas em vários países, de 11 marcas líderes no mercado, revelou que 93% continha micro partículas de plástico.
Duarte Alves deixa algumas sugestões de como adquirir água alcalina: “Águas engarrafadas em vidro com pH superior a 7. Utilizando purificadores que filtram a água. Colocando ionizadores nas torneiras e a água é filtrada para uma água alcalina.” Através destes métodos, a água torna-se rica em minerais alcalinos e livre de qualquer substância nociva ao organismo, facilitando o processo de alcalinização. Uma água de boa qualidade apresenta muitos benefícios para a saúde, e quando aliada a uma alimentação alcalina, as vantagens são notórias.
Alimentação alcalina como prevenção do cancro
Segundo um artigo da Oxford Academy, publicado no The American Journal of Clinical Nutrition, em 2009, sobre os benefícios da dieta vegetariana, quem adota este tipo de alimentação tem tendência a ter baixos níveis de colesterol e pressão arterial. O estudo refere também que as dietas vegetarianas equilibradas são ricas em fibras, magnésio, vitaminas e ferro, sendo muito baixo o risco de acidente vascular cerebral, diabetes, obesidade e alguns tipos de cancro. A mesma investigação alega que os produtos de origem animal não devem ser eliminados para manter o equilíbrio e evitar os défices nutricionais que podem ser contraídos. O consumo de alimentos ácidos em excesso contribui, indica a mesma pesquisa, para o aparecimento e desenvolvimento de inúmeras doenças. Um estilo de vida desregrado e os maus hábitos alimentares são apontados como as principais causas para a acidificação do organismo. A prevenção atua no equilíbrio aliando o consumo de alimentos ácidos e alcalinos a uma ingestão de alimentos ricos em antioxidantes, minerais e vitaminas é um dos primeiros passos para ter um organismo saudável.
Como funciona o processo de alcalinidade no organismo?
Todas as reações metabólicas que ocorrem no organismo produzem ácidos e o nosso sistema fisiológico dispõe de mecanismos para neutralizar essa acidez. “Ao ingerir alimentos alcalinos estamos a ajudar – e muito – o sistema tampão do organismo a realizar essa manutenção. Os alimentos alcalinos não só ajudam a neutralizar os ácidos, como ajudam a equilibrar os valores ácido-base do nosso organismo”, referem os dois autores. «No ato de prevenção, este tipo de dieta é benéfica. Os alimentos de origem vegetal têm imensas propriedades anti cancerígenas e, por isso, estamos a tomar um ato de prevenção enorme, mas realmente as mutações das células são menores num ambiente alcalino do que num ambiente ácido», afirma Rita Boavida. O vencedor do Prémio Nobel da Medicina, em 1931, Otto Warburg afirmou que «nenhuma doença, nem mesmo o cancro, pode existir num ambiente alcalino». Hoje em dia, existem estudos que confirmam esta afirmação. O Instituto Americano de Pesquisa do Cancro e o Fundo Mundial de Pesquisa do Cancro ( World Cancer Research Fund International ) concluíram que cerca de 30% a 40% de todos os cancros podem ser prevenidos com uma alimentação equilibrada e exercício físico regular. Muitos especialistas acreditam que a alimentação alcalina poderá ser a chave para a prevenção de doenças e para um aumento do bem-estar físico e mental do ser humano.
5 razões para seguir esta dieta
1. Os alimentos são ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes. «Proporciona um boost de energia e de felicidade.» Alguns exemplos são o gengibre, coco, as frutas e os vegetais.
2. Melhoria do sono, que vai ajudar na produção de serotonina. «Quando esta hormona se encontra em baixa concentração, pode causar falta de concentração, mau humor e ansiedade.»
3. Previne o aparecimento de doenças, principalmente os diversos tipos de cancro.
4. Equilibram o bem-estar do organismo. «Os alimentos ácidos desequilibram o organismo e enfraquecem o sistema imunitário. Os alimentos processados possuem células cancerígenas porque são fumados ou têm nitratos, como é o caso do chouriço e fiambre. Outros exemplos são o leite, café, refrigerantes, chocolate e ketchup.»
5. Previne as doenças. «Os alimentos alcalinos contribuem para a existência de um ambiente alcalino no organismo e a sua composição atua como forma de prevenção de doenças. Os vegetais, as sementes e a fruta são alguns exemplos. É dada uma maior preferência a alimentos biológicos.»
Fonte: Rita Boavida, nutricionista, e “A Cura pela Alimentação Alcalina”, de Alexandre Fernandes e Duarte Alves, editado pela Lua de Papel
O pH dos alimentos
Os alimentos de origem biológica, naturais ou que não sejam processados, são os mais interessantes a nível nutricional. A maioria das frutas e vegetais integra a categoria dos alimentos mais alcalinos, enquanto que os processados aparecem em grande número nos acidificantes:
Os mais alcalinos (pH entre 8-10): Maçã, tomate, banana, laranja, amêndoa, abacate, raiz de gengibre, abóbora e brócolos (crus), sumo de limão e lima, alface e castanhas.
Os mais ácidos (pH entre 3.0-6.0): Café, refrigerantes, processados, produtos de charcutaria, carnes vermelhas, bolos de pastelaria, bebidas alcoólicas e leite.