João Baião é um nome bem conhecido do teatro e da televisão em Portugal. Aos 54 anos, já soma mais de vinte peças representadas. Na televisão, dispensa quaisquer apresentações. O UALMedia foi conhecer melhor o protagonista que é um big show.
Desde o “Big Show SIC” à “Praça da Alegria”, sem esquecer “Portugal em Festa” ou “Juntos à Tarde”, são muitos os programas em que o apresentador marcou presença. Conta ainda com 11 dobragens de filmes para a língua portuguesa e é com os animais na sua quinta que gosta de passar o tempo livre. Em total descontração e sempre com um sorriso na cara, numa conversa num dos camarotes do Teatro Politeama, no intervalo duma peça de Filipe la Féria e ainda com oportunidade para conhecer Marina Mota, falou-se de teatro, televisão, da vida e dos projetos para o futuro.
O início da sua carreira começa em 1986, quando se estreia como ator dramático, em “A Mãe Coragem e os Seus Filhos”. Nessa altura, já pensava fazer da representação a sua profissão?
Comecei profissionalmente em 1986. Desde os 9 anos que já realizava peças em grupos de teatro amador e no Grupo de Escuteiros da Buraca, onde nasci e era um dos elementos participativos. Já fazia teatro, muito teatro amador, e tive uma oportunidade de fazer o que agora se chama de castings, que na altura se chamavam audições. Estava a fazer um espetáculo de café-concerto da minha autoria e um dos atores do Teatro Nacional informou-me que iam haver audições para uma coprodução entre o Teatro Nacional e o Novo Grupo de Teatro, para “A Mãe Coragem e os Seus Filhos”, uma peça de Bertold Brecht. Fui lá e acabei por ficar, na altura ainda a conciliar o teatro com um outro trabalho que tinha noutra empresa. Sempre foi esta a minha paixão. Desde muito novo que a minha imaginação era sempre o espetáculo, o teatro, as canções.
É em 1993, em “A Grande Noite”, que pisa pela primeira vez um palco de Filipe La Féria. O que sentiu nesse momento da sua carreira?
Foi exatamente através dos espetáculos de café-concerto, que fazia por toda a Lisboa quase todas as noites num bar diferente. O Filipe foi-me ver e convidou-me para “A Grande Noite”, e depois para a “Maldita Cocaína”. É claro que entrar no mundo e na fantasia de Filipe la Féria é um sonho para qualquer ator! [sorri] O Filipe, normalmente, faz espetáculos com uma componente muito completa. De canto, de dança, de representação. Ter entrado na “Grande Noite” foi para mim um grande privilégio, pois na altura tive a oportunidade de conhecer muitos dos meus grandes ídolos. Por exemplo da música, como Lena D’Água, Adelaide Ferreira, Simone de Oliveira. Conheci uma série de atores como Alda Pinto, Maria Dulce, Raul Solnado, José Viana, contracenei com a nata dos grandes artistas portugueses. Foi para mim um privilégio enorme e uma grande aprendizagem. Começou por ser aí a minha grande escola, apesar de já fazer teatro de amadores há muito tempo.
Volta agora aos palcos mais uma vez com Marina Mota em “Eu Saio na Próxima e Você?”. Como é voltar a contracenar com este grande nome e amiga de longa data, desta vez num formato bem diferente? Dois atores e um pianista…
É um grande privilégio. Para além de ser muito amigo da Marina Mota, sou um grande admirador do trabalho dela e da pessoa que ela é. Somos muito amigos, sou fascinado pela mulher e ser humano que ela é. Principalmente, por ser uma artista completa. Estar ao lado dela é uma grande responsabilidade, mas também é um grande orgulho! Sinto-me grato por mais este convite do Filipe la Féria, estou muito contente! Este espetáculo está a exceder todas as expectativas, nem nós esperávamos que o público aderisse tão bem ao espetáculo. É de facto um formato diferente, que nos está a dar muito gosto fazer. Descobrimos todos os dias coisas novas nesta cumplicidade de dois atores, que fazem muitas personagens, é muito divertido!
“Tento ser sempre a mesma pessoa”
Foi em 1995, a apresentar o Big Show SIC, que a sua carreira deu um salto gigantesco. Como reagiu ao voto de confiança dado por Ediberto Lima?
Quando comecei na “Grande Noite”, já tinha feito pequenas participações em pequenas séries televisivas para a RTP, mas foi quando me juntei a Filipe la Féria, em 1993, que tudo começou. Aí, sim, foi a minha primeira grande montra para o grande público. Na altura, as televisões privadas estavam a nascer e teve um grande impacto. O Big Show, dois anos mais tarde, veio catapultar-me em termos de popularidade para todo o país e sinto-me muito grato. Sou sempre muito bem recebido e as pessoas ainda hoje recordam-me pelo Big Show SIC. Foi uma experiência extraordinária, jamais me esquecerei desses seis anos seguidos, em que estive à frente desse programa, com uma grande equipa! Ao princípio, quando o Ediberto me lançou o desafio, fiquei um pouco assustado. Não sabia o que era o programa. Nem ele sabia! O programa foi crescendo à medida que nós também crescíamos com o programa, e acabou por ser algo que ninguém estava à espera. Ou seja, no programa, fui atirado quase literalmente para uma arena, com muitas pessoas à volta, aos gritos, com muita música. O que saiu foi aquela adrenalina toda, aquele ritmo, aquela coisa em que tudo acontecia e que tudo podia acontecer. Acabou por ser uma experiência muito enriquecedora.
Como lidou com a fama que este programa lhe trouxe?
Não penso muito nisso. A popularidade é boa, pois trabalhamos para o público, para mim a entidade máxima do nosso trabalho. Tento ser sempre a mesma pessoa. Tento ser uma pessoa natural. Obviamente que houve coisas que deixei de fazer. Por exemplo, quando andava no teatro, antes de ser tão conhecido, costumava ir às sessões de cinema à meia-noite sozinho, era uma coisa que gostava muito. Agora já não o posso fazer, fico um pouco inibido, pois as pessoas ficam a olhar. Mas é só mesmo timidez. Quando digo que sou tímido, as pessoas riem e dizem ser impossível e não acreditarem. A popularidade é tão efémera, que hoje somos populares e amanhã as pessoas já não nos conhecem, portanto, eu não ligo muito.
Numa entrevista ao Diário de Noticias, afirmou: “Tenho um curso de pimba como mais ninguém tem!” Acha este um fator essencial para o seu sucesso na televisão?
Não! [solta uma gargalhada] Quando disse isso, era em tom de brincadeira. Nem gosto de chamar música de pimba, pois, para mim, “pimba” é uma música do Emanuel. Quando disse isso, estava a brincar. O que quis dizer é que estive seis anos a levar com a música popular portuguesa e, por isso, conheço como ninguém tudo o que foi feito nessa altura e continua ainda a fazer-se. Fui um dos espetadores da fila da frente, desse boom da música popular portuguesa.
Como foi conciliar o teatro com a televisão?
Tentei sempre conciliar o teatro com a televisão, nunca o perdi de vista. Foi um dos conselhos do Raul Solnado, uma vez quando fiz um programa produzido por mim em que foi ele um dos convidados e dizia: “nunca deixes o teatro, nunca percas o teatro de vista. O teatro é fundamental para um ator”. Eu tento sempre que o teatro não fique muito longe, e além disso é algo que gosto muito de fazer.
Se tivesse de escolher entre uma das suas profissões qual optaria?
Não sei, não sei, não sei! [suspira] Hoje em dia a televisão, em alguns aspetos, está aproximada do teatro, pois possuem um público muito próximo. Antigamente, não. A televisão era muito mais fria, não sabíamos qual era a reação do público. Não havia público. Agora com os programas de day-time ou mesmo com os programas, como já cheguei a fazer, de ficção, o público está presente. Mas não tem nada a ver com o teatro. No teatro, temos tempo para respirar, para preparar as personagens. É muito difícil, jamais conseguiria escolher entre um e o outro. São linguagens diferentes e que gosto de abordar.
“As pessoas abraçam-me como se fosse da família!”
Em relação ao público, sente que é mais acarinhado em qual dos formatos?
São diferentes, eu sinto-me muito acarinhado pelas pessoas. Vou a qualquer sítio e as pessoas abraçam-me como se fosse da família! Nunca fiz uma distinção, as pessoas reconhecem o meu trabalho e acarinham-me ou pelo teatro ou pela televisão, mas nunca senti grande discrepância. Inicialmente no Big Show SIC, havia um público mais elitista, que dizia “João Baião na televisão não, mas no teatro sim”, mas eu nunca distingui. São coisas diferentes e nós próprios, seres humanos, somos diferentes, temos vários estados de espírito, temos várias formas de reagir às diversas situações da vida. Portanto, no Big Show SIC, era aquele João Baião, mas o João Baião não era só aquilo, era outra coisa.
Para além de ator e de apresentador, faz dobragens de filmes para português. Qual o sentimento ao ser reconhecido pelas crianças como a voz de Rusty do filme “Cars”, por exemplo?
Ainda esta semana me disseram! (sorri) Nos “Monstros e Companhia”, no” Horton o Elefante” ou no “Smurfs”, muitas vezes os meus amigos contam que os filhos dizem “Pai, olha o João Baião”. É muito engraçado, pois é um trabalho completamente diferente, mas que me dá muito gozo também. É muito giro e interessante, embora muito difícil e cansativo, por vezes. É difícil, tentarmos colocar a nossa voz e o português corretamente audível e percetível, dentro de um espaço que já está programado pelos americanos ou ingleses. Há ali uma ginástica de que gosto muito.
É na sua quinta que costuma refugiar-se não só aos fins de semana, mas sempre que pode. Vê nos animais alguma calma ou sinceridade que não vê nos seres humanos?
[sorri ao ouvir a pergunta] Total sinceridade! Os animais são puros, são sinceros, autênticos, de uma forma orgânica. Não fingem, não são interesseiros, não sorriem quando não querem. Por exemplo, os cães não dão à cauda porque estamos a filmar, são autênticos. Quando gostam, gostam mesmo, entregam-se! Há uma relação de sinceridade que nos seres humanos deixa um bocadinho a desejar.Projetos para o futuro?
Agora estamos com esta peça e, pela adesão do público, sou capaz de ficar por aqui algum tempo. Na televisão, continuo com o contrato com a SIC e vou agora fazer a abertura dos Globos d’Ouro com o Filipe la Féria. Depois, vamos ver o que a SIC me revela.