Para a maioria dos portugueses, a chegada dos meses mais quentes é sinónimo de descanso e das tão aguardadas férias. Para aqueles que trabalham na restauração e hotelaria é tempo de trabalho intenso. É o caso de Nuno Correia, proprietário da Quinta da Dourada, turismo rural localizado em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, no concelho de Portalegre.
Sete da manhã. Ouve-se o abanar das árvores na serra de São Mamede, acompanhado pela melodia dos pássaros e dos chocalhos das ovelhas, que fazem a sua caminhada matinal. Todos os dias começam assim para Nuno Correia. Depois de acordar, espera pelo padeiro que vem trazer o pão fresco para os pequenos-almoços dos hóspedes. “Ele vem todos os dias às sete e meia”, comenta o proprietário. Às oito, chegam os funcionários e é feita a distribuição de tarefas. “Falta colocar os sacos com o pão na casa dos hóspedes e verificar a limpeza da piscina”, orienta Nuno.
A Quinta da Dourada está na família há várias gerações. Nuno é a nona. “Cresci aqui, aprendi aqui a andar de bicicleta, todos os natais foram aqui, até as primeiras namoradas”, ri-se, enquanto desfruta do fresco da sua casa. O dono do vasto terreno na serra alentejana confessa que a primeira vez que teve contacto com a cidade foi quando ingressou na universidade, em Lisboa. “Percebi que era uma cidade muito agitada. Nunca me dei bem lá, mas concluí também que era aí que alguém poderia enriquecer.” Depois de tirar o curso de Gestão de Marketing na IPAM — Marketing Business School e de trabalhar alguns anos na área, em 2007 os pais decidiram dar-lhe o terreno — ano em que a Quinta da Dourada nasceu.
“O objetivo é que os hóspedes sintam que estão em casa”
Fruto da sua paixão por viagens, Nuno decidiu que queria transformar aquele terreno em algo diferenciado e confortável, mas ao mesmo tempo com um ambiente familiar. “O objetivo é que os hóspedes sintam que estão em casa. Como se fossemos uma grande família”, avança. Um desejo e um cuidado com os detalhes que está presente em todos os metros quadrados da quinta. A começar pelas casas. “Decidi que cada alojamento iria contar uma história. Existe uma casa só com jornais de quando Portugal deixou de ser uma monarquia e passou para república. Outra é uma homenagem a Portalegre, mas a que guardo com grande carinho é a que tem a coleção de jornais dedicados à tauromaquia. Cada casa é uma parte de mim.”
Aproxima-se a hora de almoço. Enquanto os hóspedes se deliciam com o calor e uma refeição fresca, o proprietário dirige-se ao seu veículo para fazer as compras do dia. “Todos os dias demoro cerca de quatro ou cinco horas nas compras.” Muitas vezes recorre à vizinha Espanha para comprar o material de que precisa. “Quando temos alguma queixa, por exemplo, uma cadeira estragou-se ou vejo que as almofadas estão mais gastas, anoto. E vou logo comprar nesse dia. Não gosto de ver os meus hóspedes insatisfeitos.” Neste dia, Nuno precisou de cinco horas. Primeiro, foi a Badajoz ver novos guarda-sóis e material para a zona da piscina, depois foi fazer as compras habituais para os pequenos-almoços e jantares.
“Precisamos de estar à frente da mentalidade do negócio”
O regresso à quinta dá-se por volta das 17h30. Enquanto prepara o seu almoço tardio fala das dificuldades de ter um negócio no mundo da hotelaria em Portugal. “A única vez que isto esteve mesmo mal foi durante o período da troika”, admite. Já em tempo de pandemia foi o contrário. “Todos queriam conhecer a minha quinta, pois somos um sítio isolado e pequeno. E como todas as refeições são entregues na casa do cliente, não existia muito contacto.”
O proprietário conta ainda o seu segredo para o sucesso. “Precisamos de estar à frente da mentalidade do negócio. E isso é observar os negócios nos outros países. É preciso inovar”, refere, avançado que a quinta foi das primeiras a ser um alojamento pet friendly e eco friendly. “Ainda nem se falava disso em Portugal e já eu estava a fazer esse investimento.” Os seus cães fazem, inclusive, parte da casa e são muito acarinhados pelos hóspedes. “Gostámos muito do cachorro anfitrião Ruca”, pode ler-se num dos muitos comentários à quinta — no site de reservas Booking.
A partir das 18h30 é hora de preparar alguns jantares, ”comida variada e de conforto”. O menu do dia conta com azeitonas e queijo fresco com tomate para entrada, seguida de uma cremosa sopa de vegetais. Para prato principal, uma empada de frango com cogumelos, arroz e salada, a acompanhar. E para a sobremesa um gelado artesanal de boleima, um típico sabor regional, com bolo.
Depois de distribuídas todas as refeições, chega a hora de fazer uma vistoria pelo espaço e anotar o que falta comprar para o dia seguinte. E, talvez, reparar algumas coisas para que amanhã seja um dia perfeito para os clientes. Nuno acaba o dia a responder a emails e diz que nem sabe a que horas se deita. “Faço tudo para que as pessoas se sintam bem. É o meu trabalho e o que gosto de fazer”, conclui.