Marco Chagas é ex-ciclista, ex-diretor desportivo e comentador do Tour de France e da Volta a Portugal, na RTP. Conquistou a prova nacional por quatro vezes, pelo FC Porto-UBP, em 1982, pela Mako Jeans, em 1983, e pelo Sporting-Raposeira, em 1985 e 1986. Também representou a Costa do Sol, a Águias-Clock, Louletano/Vale de Lobo, Orima, Lousa-Trinaranjus e a francesa Puch-Sem-Campagnolo. Chegou a participar em dois Tours.
Aos 64 anos, da vida nas estradas guarda a memória do sabor da vitória, mas também dos sacrifícios, do esforço e da força de vontade que são precisos para chegar em primeiro. Na atualidade é membro do Clube de Ciclismo que fundou e comentador da RTP, onde transmite aos telespectadores o imenso fascínio que sempre sentiu pela modalidade.
As crianças, adolescentes têm sempre sonhos. Os seus passavam pelo ciclismo?
Sim, desde muito cedo, talvez pela influência do meu tio, irmão da minha falecida mãe. Ele foi ciclista, dizem com grande qualidade. Eu era muito miúdo e ele também deixou o ciclismo muito cedo, mas ainda assim, permitiu-lhe ser um corredor já com um excelente nível. Chegou a ir aos Jogos Olímpicos, em Roma, em 1960, quando eu tinha quatro anos. Não tenho grandes lembranças, tenho sim aquela influência que ele exerceu em mim, porque sentia um chamamento. Sentia que tinha mesmo de ser. Quando cheguei aos meus 12, 13 anos, não quis continuar a estudar, queria ir trabalhar. Comecei a trabalhar, ganhei para a minha primeira bicicleta e, portanto, já era a minha grande paixão. Aos 15 anos, já corria, mesmo sendo muito novo e não tendo muitas condições. Era mesmo aquilo que eu queria.
Fez muitos esforços para seguir esse sonho…
Sim. Tenho origens de uma família muito modesta. Não digo pobres, mas era uma vida muito difícil. Os meus pais tinham que trabalhar muito, viviam grandes dificuldades. A minha irmã mais velha ainda passou por mais do que eu, mas claro que foi uma questão de gosto. Eu gostava, os meus pais também gostavam muito e dentro das possibilidades deles, ajudaram-me muito. Para aquele tempo, foi muito complicado.
“É uma modalidade que exige muito esforço e muita vontade. Independentemente de nascer numa família de berço de ouro ou numa família humilde, quando chega à hora de sofrer, tem de se sofrer igual.”
Onde e em que altura começou a sua carreira profissional?
Inicialmente, comecei na Casa do Povo de Pontével, concelho do Cartaxo, nos primeiros dois anos. Ainda não era através da Federação Portuguesa de Ciclismo, mas sim pela FNAT, atualmente INATEL. No fundo, era uma porta que se abria para quem quisesse ter uma abordagem competitiva para qualquer modalidade. Através da Casa do Povo, comecei a correr, a tentar chegar como os outros às provas regionais e ao campeonato nacional, que faziam aqui no Cartaxo. Só depois, aos 17 anos, é que fui prestar provas ao Benfica e ao Sporting. Os dois queriam que fosse para lá, mas como sou sportinguista, acabei por ir para o Sporting. Oscilei ainda um bocadinho porque o meu tio tinha sido ciclista no Benfica, o treinador era Francisco Balada, que como era do Cartaxo, eu também o conhecia. Nesse período, concilio com o trabalho, primeiro numa fábrica metalo-mecânica, depois como eletricista numa casa agrícola, até fazer o serviço militar. Posteriormente, comecei a prestar provas representando a seleção nacional além fronteiras, em Espanha, na Bulgária, na África do Sul e fui à corrida da paz. Progressivamente, fui obtendo resultados. Em 1980, estive a correr em França com Joaquim Agostinho. Depois de 1981 para 1990, voltei para Portugal porque, na altura, o Futebol Clube do Porto (FCP) apresentou-me uma proposta muito aliciante e acabei por fazer cá a minha carreira toda. Ainda fui ao Tour de France pelo Sporting, em 1985 e 1986, e tive participações em grandes corridas como o Campeonato do Mundo. Só não fui aos Jogos Olímpicos porque no período em que eu competia, esse evento deixou de considerar o ciclismo, em Portugal, como modalidade olímpica profissional. Na altura, os Jogos eram apenas para amadores. Era muito polémico. Os países da Europa de Leste eram fortíssimos e levavam a maioria das medalhas porque, deste lado, os representantes não podiam ir.
Foi uma carreira, como disse, difícil no início, pois foi necessário muito sacrifício, mas é uma modalidade que exige muito esforço e muita vontade. Independentemente de nascer numa família de berço de ouro ou numa família humilde, quando chega à hora de sofrer, tem de se sofrer igual.
Sente que os Jogos Olímpicos são uma meta importante que não tem na sua carreira?
É. Se calhar, mais pelo aspeto simbólico, dado que o meu tio esteve nos Jogos Olímpicos. Foram os últimos Jogos. De 1960 até 1990, porque deixei de correr em 1990, ainda não havia. Creio que os Jogos voltam a ter a nossa representação no ciclismo já nos anos 90. Para as outras modalidades, o ponto mais alto na carreira é participar nos Jogos, no ciclismo não. No de estrada, principalmente, é a Volta a França.
O que sentia antes de começar uma grande volta? Lidava bem com a pressão?
Lidava. Se era algo que eu tinha de bom era uma boa “carola” nesse aspeto. Lidava bem com as adversidades e com a pressão da exigência, mas não deixava de ficar apreensivo quando olhava para o livro da corrida e via aquilo que lá estava à minha espera. Era assustador para qualquer atleta.
Pelas estradas da Volta a Portugal
Chegou a participar no Tour de France em 1980 e, em 1984, também participou na Vuelta. As Grandes Voltas eram o seu grande objetivo?
Sim. Acabo por fazer a Vuelta numa altura em que não estava nas minhas melhores condições, em 1987. A Vuelta era em abril, era cedo na temporada. Acabei por não conseguir terminá-la. Foi a única corrida que não consegui terminar porque fiz uma lesão no joelho esquerdo. Estava com uma tendinite e tive mesmo de parar porque não aguentava mais. A opção era fazer uma infiltração e eu, felizmente, isso nunca fiz. Hoje agradeço porque não tenho qualquer problemas de articulações e muitos atletas que faziam isso regularmente acabavam por ter alguma dificuldade até em andar. Quando vi que era a única solução, desisti. Tive oportunidade de fazer essas duas e depois já como diretor-desportivo, não como corredor, o Giro d’Itália. Foi uma corrida de que também gostei muito.
Mudou-se para Portugal com uma boa proposta da equipa FC Porto – UBP e ganhou a Volta a Portugal em 1982 e pela Mako Jeans em 1983. Posteriormente, também foi para o Sporting, tendo ganho em 1985 e 1986. Quais eram as etapas da Volta a Portugal mais desafiantes?
A Volta a Portugal tem pontos-chave que são incontornáveis, como é o caso da passagem na Torre, na Senhora da Graça e depois uma ou outra subida que apareciam. Tivemos anos em que vinha à Serra do Montejunto, outras em que ia ao Algarve e subia-se à Fóia. Tivemos anos em que fomos para a região de Trás-os-Montes e Alto Douro, que tem subidas duríssimas. As pessoas falam menos, mas quando a Volta ia para ali era duríssimo, muito duro. Por causa do calor, também. Mas claro que os pontos mais marcantes foram e continuam a ser a Senhora da Graça e a Torre. Para mim e para as minhas características, aguardava normalmente e estava ansioso pelo contrarrelógio, pois era aqui que normalmente fazia a diferença à maioria dos adversários.
Chegou a vencer duas etapas na subida à Senhora da Graça. Considera-se forte em montanha? Qual era a sua especialidade?
Costumo dizer que fazia um bocadinho de cada coisa, ou seja, se era preciso chegar ao sprint, eu chegava lá e discutia o lugar. Às vezes, ganhava ao sprint. Na maioria das situações, se fosse preciso subir, eu subia com os primeiros, mesmo que, às vezes, tivesse alguma dificuldade em relação a um ou outro trepador mais forte. Normalmente, defendia-me muito bem. Desde que estivesse bem, no meu peso ideal, permitia-me ganhar como aconteceu duas vezes na Senhora da Graça. Só nunca ganhei na chegada à Torre porque não houve nenhuma chegada à Torre. Durante as 13/14 Voltas que participei, a Volta terminava em Gouveia ou em Seia ou na Covilhã ou em Manteigas. Nunca chegou lá, curiosamente. Tive uma chegada às Penhas da Saúde e ganhei lá uma vez. A minha maior arma era realmente o contrarrelógio e a forma como corria e a capacidade que tinha. Como disse, era lidar bem com a pressão, ter uma leitura de corrida que considerava ser a mais correta. Deve-se gerir o esforço, consoante a nossa capacidade física, principalmente, numa modalidade como o ciclismo, de um nível muito elevado. Mesmo que pensemos que estamos aptos e com capacidade, não devemos disparatar. Deve ser bem gerido porque, nas contas finais, essa gestão é que dita quem ganha e quem faz menos tempo.
A nível nacional, qual foi a corrida que mais o marcou?
A Volta a Portugal! Talvez aquela da quarta vitória, por ter sido muito difícil conseguir ganhá-la. As coisas estavam complicadas, já tinha uma diferença muito acentuada em relação ao corredor que liderava e também pelo facto de, na altura, sentir a pressão porque me podia tornar no primeiro corredor a ganhar na história da Volta a Portugal por quatro vezes. Só dois grandes corredores conseguiram ganhar por três vezes, até igualar com eles, que foram Joaquim Agostinho e Alves Barbosa. Já não estava à espera de igualar. Não contava ser um corredor com aquele registo. Quando vejo que tenho a possibilidade de ganhar a quarta volta, aí sinto que foi a mais marcante. A dois dias do fim, ainda havia o contrarrelógio e eu tinha uma diferença muito grande. Tive de recuperar e, se bem me lembro, ganho essa volta por 15 ou 16 segundos só. Portanto, no fim de uma corrida de 17 ou 18 dias, ganhar por 15 segundos… Foi muito apertado.
E a nível internacional?
É evidente que a Tour de France é a corrida que mais marca. Foi um privilégio e, no primeiro ano, corri com o meu ídolo, com a pessoa que mais gostava e tinha como referência, que era Joaquim Agostinho. Também gostei muito de fazer uma corrida que agora existe, em moldes muito diferentes, pois na altura tinha um peso muito grande, que é a Corrida da Paz. É uma corrida que na altura era o expoente dos amadores. Integrava a seleção portuguesa e fomos a essa corrida que era uma referência nas provas por etapas. Era disputada na República Checa que, antiga Checo-Eslováquia, na RDA (República Democrática da Alemanha) e na Polónia. Passava nas três capitais: Varsóvia, Praga e Berlim. Era uma corrida fantástica, com uma organização que eu fiquei impressionado.
Terminou a sua carreira aos 33 anos e foi diretor desportivo. Como acha que teria sido a sua carreira se tivesse continuado como ciclista e não como diretor?
Fui diretor desportivo de duas equipas, durante cinco anos. Primeiro, foi da Tensai-Mundial Confiança, uma equipa criada, na qual tive muito gosto em participar. Fazer parte daquele projeto foi muito giro. Depois, estive três anos na Sicasal-Acral com uma equipa já formada, que já era referência em Portugal. Devo dizer que foi uma experiência que me enriqueceu enquanto pessoa, mas que não me apaixonou. Até pelo contrário. Aquilo é muito desgastante, muito difícil. É pior do que correr de bicicleta, acho. Portanto, não me deixou saudades.
Se podia ter continuado? Poder podia. Os corredores vão até aos 37, 38, 39, 40 anos e, às vezes, até mais e continuam a render muito. É provável que, nos tempos atuais, até tivesse prolongado mais a minha carreira. Naquela altura, era muito complicado, pois existe uma coisa que se chama motivação para treino. Comecei a deixar de ter. Ao contrário dos dias de hoje que o pessoal pega nas bicicletas e vai fazer estágios em altitude, vão para outros locais, mudam de ambiente, nós não tínhamos essa possibilidade. Estávamos aqui, daqui só saímos para participar nas competições ou algum estágio com a equipa.
Quando eu vinha para Pontével e estava aqui em casa já sentia alguma dificuldade em sair. É algo que se torna desgastante. Começo a pensar: “onde vou hoje? O que vou fazer? Tenho de ir treinar!” Quando chegou àquela altura, em novembro de 1989 e ia completar 33 anos, disse: “Para o ano é o meu último ano!” E ficou decidido. Ainda me tentaram dar a volta. O patrão da equipa onde eu estava, que foi a minha última, a Orima de Cantanhede, ainda me tentou propor um novo contrato porque tinha ficado em 5º lugar nessa Volta a Portugal e continuava muito bem e competitivo. Só que já não tinha aquela chama para me levantar de manhã e ir treinar. Perdi isso e quando se perde não é bom.
Atualmente, sente-se arrependido por não ter continuado?
Não, nunca. Tenho uma personalidade muito própria nesse aspeto. Tudo aquilo que decido, mesmo que a orelha torça, está decidido, está decidido. Nunca me arrependi disso. Acho que foi o meu tempo e se continuasse não ia continuar a sentir aquela vontade e o gosto em fazer como tinha até ali. Quando é assim, o ideal é: “parou”.
Hoje em dia, prefere provas de BTT, em vez de ciclismo de estrada. Porquê?
Para eu fazer, gosto muito mais de BTT. Se fosse jovem, faria como alguns corredores de referência como Mathieu Van der Poel. Fazem BTT e Estrada. Dividiria também porque gosto muito de BTT por lazer e pela manutenção da minha saúde e do meu bem-estar físico e mental. É muito mais tranquilo.
Ao longo do seu percurso, teve algumas quedas. Quais as mais engraçadas e as mais dolorosas?
No BTT, sofri um trambolhão muito grande, em que me aleijei bastante na zona de Loures. Fui fazer um passeio com uns colegas do Clube de Ciclismo, num local bastante acidentado e aquele pessoal ia bastante maduro. Enquanto eu ia a dizer aos meus colegas: “Olhem aqui tão giro!”, porque se via a cidade em frente. Não sei se era uma pedra que estava ali, só sei que dei um trambolhão e fiquei todo esmurrado. Mas fiquei mesmo. Assim que vim para casa, já não vivia com ninguém e vi-me perdido para tomar banho e para fazer gelo. Tinha dois dedos muito inchados e já estava a pensar que os tinha partido. Coisas estúpidas, caricatas, parvas, que não se pode baixar a guarda face a qualquer obstaculozinho que nos apareça.
Em estrada dei alguns quedas também, mas talvez aquela do Prémio de Torres Vedras, provavelmente, foi uma das mais duras. A descer uma das serras, não sei o que aconteceu, mas quando dei por ela, já estava a deslizar pelo chão fora. Acho que há um corredor que me toca ou vice-versa. Não me recordo. A descer, vínhamos muito depressa e eu só me via às voltas e a passarem-me pela esquerda e pela direita. Felizmente, ninguém se embrulhou comigo. Fiquei todo queimado daquele alcatrão antigo com areia misturada. Fiquei em muito mau estado. Ainda assim, nunca tive quedas muito graves.
De campeão a comentador da RTP
Criou o Clube de Ciclismo, em 2011. De onde surgiu a ideia e qual o maior objetivo?
A ideia foi dos meus colegas. Tínhamos esse grupo, do qual estava a contar acerca da queda. Eles é que pensaram em fazer um clube com o meu nome. Achei que já éramos um grupo, mas eles queriam criar equipamentos iguais. E assim foi. Viu-se quais eram os estatutos que mais se adaptavam à nossa ideia porque é um clube de praticantes. Não temos formação. É tudo pessoal já “cota”. O mais novo tem para aí 34 anos. É tudo quarentões, cinquentões e sessentão, que é o meu caso. Um dos fundadores era mais velho do que eu, mas, infelizmente, faleceu por doença, no ano passado. Costumamos realizar uma reunião anual, mas há dois anos que não é possível por causa da pandemia, mas vamos fazer. Fazemos convívios e a Assembleia do Clube, normalmente, no início de cada ano, no dia do “BTT dos Quarentões”. Na parte competitiva, antes da pandemia, chegávamos a participar em 60 eventos por ano. Eu fazia 30. Já cheguei a ir a Marrocos, ao Brasil e quero voltar lá outra vez, dez anos depois, com pelo menos um colega, o Nuno Morgaça que chegou a ir lá também. É um clube tranquilo, sem grandes aspirações.
É comentador da Volta a Portugal e do Tour de France, na RTP, o que sente quando está a comentar? Sente novamente a emoção dos tempos em que era participante?
É diferente. Confesso que é uma atividade que adoro, mas também os anos daquilo já são muitos. Estou eu e o jornalista João Pedro Mendonça. Este ano, vou tê-lo novamente, mas só no início, porque ele vai para os Jogos Olímpicos. Depois vem o jornalista Gonçalo Ventura e será ele que também irá fazer a Volta a Portugal comigo. Quando iniciamos, há sempre uma expectativa muito elevada, tanto no Tour como na Volta a Portugal, porque queremos ver como corre tudo, se há uma boa luta e competitividade, principalmente, no Tour de France, que é um espetáculo televisivo fantástico. Mesmo aqueles ou aquelas que não gostam de ver ciclismo, só pela forma que é apresentado às pessoas, todo aquela demonstração de paisagens e monumentos, por onde a corrida passa, é uma coisa fantástica. É evidente que Portugal não tem os mesmos meios, mas é uma transmissão que também ganha. À exceção das Grandes Voltas e das Clássicas, a nossa transmissão, que também é realizada pelos mesmos que fazem o Tour, é muito boa. A nossa Volta não tem é aquele nível competitivo.
Acredita que o ciclismo está a ganhar novos adeptos graças às conquistas dos atuais ciclistas portugueses?
Principalmente, de João Almeida. Acho que está a ter um papel determinante nisso. João Almeida já fez muito e vai fazer muito mais, se não tiver nenhum problema físico, se não tiver nada que o impeça e nós esperamos que não. Só uma lesão é que o pode impedir de fazer coisas muito bonitas. O João vai ser uma referência nacional durante os próximos anos. Rui Costa já mexeu muito porque nos deu aquilo que nunca ninguém nos tinha dado: um título mundial. Sérgio Paulinho já tinha feito o seu papel, vencendo uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos. Penso que o ciclismo e voltando ao João, ele foi assim no ano passado, com a liderança durante 15 dias no Giro d’Itália, voltou a ser assim este ano com um excelente 6º lugar e acho que irá continuar a fazer coisas muito bonitas, muito boas. Vai obrigar a comunicação social a mudar um bocadinho e a dar destaque, de vez em quando, ao ciclismo.
Numa outra entrevista, à revista Sábado, referiu que o grande ciclista português na altura era Joaquim Agostinho. Atualmente, considera João Almeida o melhor ciclista?
Sim, claro. O próprio Rui Costa será o primeiro a reconhecer que já teve os seus anos. Continua a ser muito competitivo e é excelente, mas é um corredor completamente distinto. Apesar de muito novo, o João é um corredor para as Grandes Voltas, para uma corrida Clássica mais seletiva e de forma a poder estar na sua discussão. Isso não tínhamos há muito tempo. Desde o tempo do Joaquim Agostinho que não tínhamos ninguém como ele. Ele mexe connosco e com as pessoas, mesmo aquelas que não gostam da modalidade.
Qual era o seu maior sonho enquanto ciclista? Conseguiu realizá-lo?
Consegui. Quando comecei a correr, o meu sonho era ir à Volta a Portugal e, quando consegui, o meu sonho foi ganhar uma etapa. Não ganhei uma, mas três etapas. Portanto, ganhar logo aos meus 19 anos… Até aos 33 anos, felizmente, tive uma carreira com muitas vitórias e bons resultados. Momentos adversos também, mas isso faz parte. Acho que a minha realização foi plena. Como disse, quando deixei era porque já chegava e não por não ter condições. Sabia que continuava a ser muito competitivo, mas senti que era o momento de sair. Aquilo que estava feito tinha sido muito e bom.