Através do jornalismo desportivo, Nuno Chaves percebeu que podia conciliar a escrita com o amor que tem pelo desporto, principalmente pela modalidade ténis. Com 23 anos, é o jornalista mais novo na redação da TVI. Em entrevista ao UALMedia, Nuno relembra o seu percurso até chegar à Media Capital, o seu primeiro direto e revela como é trabalhar numa redação em semana de Liga dos Campeões.
Voltando à sua infância, como era o Nuno nessa altura?
Sempre fui um rapaz bastante tímido e ainda o sou, mas mais quando não conheço as pessoas. Só quando as vou conhecendo é que vou mostrando a minha personalidade. Durante a minha infância, era aquele miúdo normal que queria jogar à bola nos intervalos e que tinha o sonho de ser futebolista – acho que todos os miúdos passam por isso – mas depois, à medida que fui crescendo, comecei a ganhar outra grande paixão, que ainda hoje se sobrepõe ao futebol: o ténis. Lembro-me perfeitamente que comecei a interessar-me pelo ténis em maio de 2007. Fiquei doente em casa com uma pneumonia e, como não tinha nada para fazer, estava a fazer zapping e fui parar a um torneio de ténis. Fiquei a ver e foi amor à primeira vista. Mais tarde, comecei a jogar e só quando comecei a trabalhar é que parei.
Durante a minha vida, sempre gostei e fiz muito desporto e, desde cedo, sabia que queria algo ligado a isso. Quando entrei para o secundário, apesar de ter seguido humanidades, Comunicação não era algo que estivesse mesmo definido. Basicamente, fui para humanidades para fugir às ciências, mas depois, com o passar do tempo, comecei a gostar de escrever, o que para mim era impensável. Sempre fui muito preguiçoso, não gostava de ler nem de escrever, mas felizmente fui mudando isso. No 12º ano foi quando percebi verdadeiramente que queria seguir Comunicação e que gostava mesmo de escrever e de contar histórias.
Foi nessa altura que percebeu que podia conciliar o gosto de escrever com o gosto pelo desporto?
Sim, foi nessa altura e foi com o jornalismo que percebi que era possível conciliar o desporto com o trabalho, mesmo não sendo um desportista de alta competição. A comunicação sempre foi algo que esteve presente na minha vida. O meu pai trabalhou na rádio durante muito anos e eu ia com ele várias vezes. Estudar Comunicação nunca foi algo imposto pelos meus pais. Eles sempre me deram liberdade total, mas não sei se houve algum tipo de influência involuntária porque, como já tinha a comunicação tão presente na minha vida, se calhar, quando comecei a crescer, comecei a perceber que gostava mesmo daquilo.
Falando na minha paixão pelo ténis e pelo jornalismo, desde sempre acompanhei o site Bola Amarela e ainda durante a licenciatura, em janeiro de 2017, vi uma publicação deles onde se dizia que estavam à procura de um colaborador e mandei um email. Já os conhecia porque trabalhava no Estoril Open, na assessoria de imprensa, então, foi mais fácil esse contacto. Fiz uma notícia como teste, eles gostaram, entrei em janeiro e tenho feito a conciliação desde que comecei a trabalhar na TVI. Obviamente que a minha prioridade é a TVI, mas nos meus tempos livres escrevo para o Bola Amarela e até já consegui fazer uma deslocação ao estrangeiro pelo Bola Amarela. Fui a Estocolmo, em 2018, acompanhar a Seleção Nacional e era o único jornalista português. Aliás, na altura ainda nem tinha carteira de jornalista, mas fui a única pessoa da imprensa portuguesa a acompanhar a seleção e foi uma experiência incrível. Eles sabiam que eu estava sozinho, então assistia aos jogos na comitiva da seleção e, no final, deixavam-me ir ao balneário falar com os jogadores. Foi muito enriquecedor para mim. Na altura, toda a imprensa em Portugal citava o Bola Amarela e eu olhava e pensava: “Fui eu que fiz aquilo!” O Bola Amarela está naquele cantinho do meu coração e não quero perder isso, porque gosto e dá-me muita satisfação. O ténis é a minha modalidade preferida e está acima do futebol, e é algo que quero continuar a ter sempre que for possível.
No Dia Mundial da Rádio em 2019, afirmou numa publicação do Instagram: “A rádio faz parte de mim desde que nasci.” Acha que o seu pai, sendo radialista, despertou no Nuno ‘o bichinho da comunicação’?
Sim, sem dúvida alguma. Durante a licenciatura, sempre quis rádio. Tanto que, no último ano, participava em vários eventos. Por exemplo, houve uma vez em que participei numa campanha e fiz um programa de rádio. Sempre gostei muito e diziam-me várias vezes que tinha uma boa voz para a rádio, e isso fez com que estivesse muito motivado. Apesar de gostar de televisão, para mim era a última hipótese. Ainda colocava a escrita à frente, tanto online como em papel, e só depois vinha a televisão. Acabou por surgir a oportunidade e hoje só me vejo a fazer televisão.
Com a abrangência de oportunidades que este curso oferece, acabou por escolher o jornalismo. Porquê?
Quando escolhi Ciências da Comunicação, entrei com o intuito de seguir jornalismo. Marketing, por exemplo, nunca foi algo que me desse grande prazer. Claro que, ao ter as ‘cadeiras’, a minha ideia podia mudar, assim como aconteceu em relação a televisão, mas não aconteceu. Nunca me disse muito, estava nas aulas porque tinha de estar, mas sempre quis jornalismo, era essa a minha paixão. Quando começas a estudar algo, ainda não tens grandes conhecimentos e, depois, com o passar do tempo, começas a perceber melhor e a sentires uma evolução, ficas radiante. No meu caso, olhava para trabalhos que tinha feito no início e pensava: “Achava eu que isto estava bom!” (risos). Os outros trabalhos que realizei e que achava que estavam bons na altura, agora, olho para trás e vejo que também não estavam tão bons como achava. Sentia aquela evolução, sentia-me a progredir, a melhorar e ia tendo mais gosto e mais paixão pelo jornalismo.
Quando acabou a licenciatura em 2018, saiu com incertezas quanto ao futuro? Quais eram os seus planos?
Quando estava no último ano da licenciatura, a minha ideia era tirar um mestrado, mas tive a ‘cadeira’ de televisão com o professor Pedro Pinto. As aulas acabavam em junho e, em maio, o professor Pedro pediu-me o currículo e fiquei radiante. Duas ou três semanas depois, ainda com as aulas a decorrer e já sem me lembrar que lhe tinha dado o currículo, ligaram-me da Media Capital para ir fazer uma entrevista de estágio. Fiquei incrédulo. Nem queria acreditar. Fui fazer a entrevista numa sexta-feira, no início de junho, e a senhora dos Recursos Humanos disse-me: “Ainda hoje ou, no máximo, na segunda-feira, dizemos alguma coisa. Há boas perspetivas.” Passou a sexta-feira, a segunda-feira, uma semana e nada. Falava com os meus pais e dizia-lhes: “é melhor ligar para lá…” Eles respondiam: “se eles não te disseram nada, não pressiones”. A certa altura, achei que não tinha sido escolhido.
No último dia de aulas, para festejar o final do curso, fui com uns colegas passar uns dias ao Algarve e, quando estávamos em viagem, a senhora dos Recursos Humanos da Media Capital liga-me e diz: “Nuno, desculpa pelo atraso, foste aceite. Muitos parabéns! Começas a estagiar na segunda-feira na editoria de Desporto.” Era ouro sobre azul. Como ia com os meus amigos para o Algarve, disse-lhe: “Estou a caminho do Algarve, acabei hoje a minha licenciatura, mas não seja por isso, segunda-feira estarei lá para me apresentar.” E ela disse-me que, como não ia ter Verão, para ficar com os meus amigos à vontade e para me apresentar só na terça-feira. Respondendo à pergunta, nesse aspeto nunca tive incertezas porque fui logo chamado. Na altura, ainda queria conciliar o estágio com o mestrado, mas depois acabei por não tirar o mestrado. Queria mesmo concentrar-me no estágio. Queria mesmo ficar e, felizmente, fiquei.
“Sabia que tinha capacidade para agarrar a oportunidade”
Em 2020, no âmbito de uma palestra que deu na Universidade Autónoma de Lisboa com mais dois jornalistas, afirmou que no início do seu estágio na TVI diziam-lhe que não podiam ‘ficar consigo’. De que forma acha que sobressaiu para acabar por ser contratado?
No meu primeiro dia de estágio, o meu editor disse-me que a probabilidade de ficar era zero. Já ia mentalizado para esse tipo de discurso, também por mérito da universidade. Diziam-nos muitas vezes para não ficarmos chocados com o primeiro impacto, pois muitas vezes o discurso era esse. O meu editor disse-me isso, mas depois teve um ‘mas’: “Mas dá o teu melhor e podes ficar referenciado.” Agarrei-me a isso.
Confesso que tive sorte porque entrei em junho de 2018, numa altura em que estava a acontecer muita coisa no desporto: o ataque a Alcochete, o processo de destituição de Bruno Carvalho, as eleições que iam acontecer em setembro do Sporting e o Mundial de Futebol na Rússia. A editoria de Desporto tem mais ou menos 12 pessoas, por isso, havia poucos recursos para produzir tanta coisa e eles não tinham outra solução se não manterem-me lá para ajudar com as pequenas coisas. Tudo começou com as pequenas coisas, mas sentia sempre que aquilo era uma oportunidade para mostrar o meu valor. Sabia que tinha capacidade para agarrar a oportunidade e sentia que, se me dessem oportunidades para isso, eu ia conseguir agarrar.
Sempre fui uma pessoa muito positiva e tinha muito esse pensamento. Fui ganhando confiança porque aquilo também é muito à base de teres confiança naquilo que fazes. Eles também começaram a confiar mais em mim e, com o passar do tempo, foram percebendo que poderia ser uma mais-valia e útil para a equipa. Para ajudar ainda mais a situação, a TVI garantiu os direitos da Liga dos Campeões, ou seja, tínhamos de fazer resumos de todos os jogos, por isso, era preciso mais pessoas. Sendo estagiário novo – mão de obra barata – acabou por se juntar o útil ao agradável. Acabei o meu estágio em setembro e eles disseram-me que queriam ficar comigo, mas ainda não conseguiam que assinasse, por isso, renovaram-me o estágio, com a garantia que durante os três meses seguintes assinava e assim foi. Renovei em setembro e assinei em outubro de 2018.
E qual foi a sensação?
Quem me disse que ia ficar foi a Claúdia Lopes, na altura era a minha editora, e abracei-a de felicidade. Foi uma sensação de missão cumprida e de saber que era capaz de triunfar num canal como a TVI. Uma pessoa que queira seguir televisão sonha em trabalhar na TVI. Para mim, foi estar a trabalhar com pessoas que via desde miúdo na televisão, estar todos os dias com elas e dizer que são meus colegas…Foi dos momentos mais felizes da minha vida, não só profissional como também pessoal.
Durante a palestra na UAL, também afirmou que no primeiro direto que fez estava tão nervoso que até pediu ao repórter de imagem para não começar o direito consigo à frente da câmara. Como foi o percurso até ganhar confiança à frente de uma câmara?
Durante o meu estágio, saía com o repórter de imagem em reportagem, mas nunca podia aparecer porque faz parte das regras: os estagiários nunca podem fazer diretos. Nessa altura, achava que já me sentia minimamente confiante. Depois, assinei e houve um período inicial no qual me resguardaram um pouco para ganhar mais confiança a fazer peças para entrarem nos vários jornais do canal e porque sabiam também que um direto, apesar de ser só falar à frente de uma câmara, é algo que cria impacto nas pessoas e o primeiro é algo muito especial.
Houve um dia, em novembro, quando o Benfica perdeu para a Liga dos Campeões, já estavam em crise de resultados, ainda era o Rui Vitória o treinador e já se dizia que ele ia ser despedido. Lembro-me que estávamos todos na redação, dia de Liga dos Campeões, o Benfica perde e às 00h – já tinha acabado o programa de rescaldo – a Claúdia Lopes e o Bruno Ferreira, os nossos dois editores da altura, dizem: “Amanhã, temos que marcar uma equipa para o Seixal porque vamos ter uma emissão especial durante o dia.” Foi nessa altura que a Claúdia me perguntou se estava preparado e eu respondi: “É para isso que estou cá, estou à espero desse momento desde que entrei aqui!”
Fui para casa, estava super nervoso, fiz mil e um apontamentos, e acabei por não conseguir dormir nada porque passei a noite só a pensar naquilo. No dia seguinte, fui com o repórter de imagem para o Seixal e durante o percurso tremia por todos os lados, tinha aquela sensação de cólicas e nervos por toda a parte. Quando lá cheguei, disse ao meu repórter de imagem: “Por favor, começa em mim, mas depois sai para eu ler os meus apontamentos e estar tranquilo.” E assim foi. O meu braço tremia por tudo o que era sítio, mas ele fez um plano de forma a não se ver muito o braço e, para primeiro direto, dizem que foi bom, mas eu achei que foi horrível. Acabei por ficar no Seixal o dia inteiro e, por um lado, foi bom porque eles perguntavam-me se queria ir embora e eu respondia que não. Também disseram que estava a correr bem porque. se não estivesse, já tinham mandado outra pessoa para o meu lugar. A partir daí, comecei a ganhar mais confiança.
“Saí desse dia muito mais confiante das minhas capacidades e senti claramente que dei um passo em frente como jornalista”
Já fez vários trabalhos importantes na TVI. Qual foi o trabalho que mais o marcou?
Curiosamente, foi um que nada tem a ver com desporto. Durante a pandemia, como não havia desporto, saí do desporto e estive a fazer um pouco de tudo. O trabalho que mais me marcou foi o caso da menina de nove anos, a Valentina. Eles mandaram-me para o local no domingo de manhã e era apenas mais um dia… Estávamos a ir para lá todos os dias acompanhar as buscas, mas acabou por ser o dia em que se soube da trágica notícia. Estava a acompanhar as buscas com os bombeiros e, de repente, eles recebem uma chamada – e é daquelas imagens que vão ficar comigo para a vida – reúnem-se todos e oiço o comandante a dizer: “Mas morreu? Está confirmado?” Alguém responde que sim e eles desmobilizam.
Vou rapidamente para o local onde era a casa dos pais da Valentina, entro em direito imediatamente e, nesse momento, a emoção era tanta que quase estava de lágrimas nos olhos. Foi mesmo forte psicologicamente estar ali a acompanhar tudo no momento porque só pensava na menina. Depois desse dia sinto que, como jornalista, evoluí muito. Foi daqueles dias em que sentes que tens de te desenrascar. Muitas vezes, existem diretos para encher emissões e, nesse dia, fiz uns 20 diretos e não houve um que fosse para encher, havia sempre algo a acontecer. Saí desse dia muito mais confiante das minhas capacidades e senti claramente que dei um passo em frente como jornalista.
Trabalha em jornalismo desportivo há mais de dois anos. Como é que é trabalhar nesta área?
É uma área onde tens mesmo de gostar. O desporto é uma área muito peculiar e muito específica. Aliás, acho que há duas áreas muito específicas no jornalismo: o desporto e a cultura, e tens mesmo de gostar dessas áreas para lá estares. O desporto é, para mim, um sonho porque, no fundo, toda a minha vida vi futebol – e no desporto é basicamente o futebol que conta – e agora estou no meio daquela gente toda.
Estás com pessoas que admiraste toda a tua vida, tens a possibilidade de estar ao pé de jogadores e treinadores, e tens de estar ali como se eles fossem pessoas absolutamente normais. No fundo, até são, mas nós é que durante muitos anos os adulamos. É muito bom. É uma área muito dinâmica, também tem muitas polémicas, às vezes é muito desgastante, mas no final do dia pensas: “É disto que gosto!” Neste momento, não me imagino a fazer outra área a não ser desporto. Todos os dias não sabes o que pode acontecer, não sabes se o Benfica vai disparar um comunicado contra o Porto ou se o Porto vai disparar um comunicado contra o Sporting, se um treinador vai ser despedido ou não, o que um treinador vai dizer numa conferência de imprensa…é uma aventura.
“Há uns anos, os jornalistas podiam estar no relvado, acabava o jogo e iam ter diretamente com os jogadores para fazerem perguntas. Isso agora é impensável”
Quais são as maiores dificuldades com que se depara trabalhando nesta área?
Nos clubes, principalmente nos três grandes, está tudo muito moldado, eles só dão aquilo que lhes dá jeito, só aceitam falar quando lhes dá jeito. Se nós tentamos arriscar um pouco mais, eles metem logo travão e nós nunca podemos ceder. Estamos lá para fazer o nosso trabalho e, se um clube não ganha, nós não temos culpa. É normal questionarmos se existe a possibilidade do treinador ser despedido e, se eles ficam ofendidos com isso, já é com eles. Essa para mim é a grande dificuldade: lidar com os clubes. Por exemplo, já fiz reportagens fora de futebol e não tem nada a ver. A disponibilidade dos atletas das várias modalidades é completamente diferente. São super acessíveis e dizem logo que sim. O futebol é um mundo à parte do desporto. Há o futebol e o desporto.
Sente que o futebol fica à parte das outras modalidades?
Completamente. Aliás, basta olharmos para os orçamentos, isto falando nos três grandes clubes em Portugal, o que, no fundo, é o que move a televisão. O futebol não tem mesmo nada a ver.
Acha que isto acontece porquê?
É uma boa pergunta. Acho que é uma defesa deles e agora os clubes a terem os seus canais oficiais veio contribuir ainda mais para uma separação entre clubes e meios de comunicação. Se eles querem apresentar um jogador apresentam no seu canal, se há alguma declaração importante para fazer fazem no seu canal e isso ainda nos afasta mais dos clubes. É muito difícil.
Há uns anos, os jornalistas podiam estar no relvado, acabava o jogo e iam ter diretamente com os jogadores para fazerem perguntas e isso agora é impensável. Se queremos entrevistar alguém, temos de falar com o diretor de Comunicação do clube e esperar que diga que sim. Por exemplo, no Estoril Open, que a TVI patrocina, costumam estar presentes vários jogadores de futebol e em 2019 estava lá o Samaris. Nessa altura, era final de campeonato e o Samaris estava em grande com o Bruno Lage e não se sabia se ia renovar. Fui ter com ele e perguntei se era possível dar-me uma palavrinha e ele diz-me: “Eu falava, mas não me deixam.” Respondi que não perguntava nada sobre futebol. O Samaris acabou por ligar ao diretor de Comunicação e esteve uns 15 minutos à conversa com ele: “Eles garantem que não falam de futebol!” O diretor acabou por deixar e o Samaris, quase ajoelhado perante mim, pedia para não lhe perguntar nada sobre futebol. Acabei por conseguir fazer as perguntas sobre o torneio, porque só podia ser sobre tal. Este é um exemplo da limitação que eles impõem.
Quando há Liga dos Campeões, por exemplo, existe sempre uma azáfama nas redações. Como é uma semana de trabalho de um jornalista desportivo durante esta competição?
Há muito trabalho e são as melhores semanas. Este ano, o canal teve azar porque o Benfica falhou o acesso e, nesse aspeto, é menos trabalho que existe, mas por outro lado é uma pena porque não há a possibilidade de ir ao estrangeiro acompanhar o jogo e toda a preparação.
Uma semana de Liga dos Campeões é muito engraçada. Nós temos um programa, tanto de antevisão como de rescaldo, e temos de preparar todos os resumos mal acabem os jogos para estarem prontos a entrar. Às vezes, o que acontece é que há golos aos 90 minutos e já tens o resumo fechado… temos microfones nas nossas secretárias e vamos lendo à medida que o jogo decorre, o tempo todo contado e temos de estar a cortar lances à pressa e, às vezes, o alinhamento tem de ser alterado porque o resumo ainda não está pronto.
Nesse aspeto é muito stressante porque não queres falhar, mas também é preferível estar naquele stress a estar a olhar para o computador sem fazer nada. Nesses dias, está a editoria toda completa porque são oito jogos e tem de estar lá tudo para cada um ficar com um jogo. E é ótimo porque o ambiente é muito bom e estamos todos ali a vibrar, a colaborar e a trabalhar dentro da melhor competição de futebol de clubes a nível mundial.
“Nesta profissão é difícil fazer planos a longo prazo”
A Covid-19 está presente nas nossas vidas há mais de um ano. Que limitações surgiram devido à pandemia?
Desde já, as conferências de imprensa. Existem parcerias entre os canais, neste caso entre a TVI, CMTV e SIC. Por exemplo, se houver algum jogo amanhã, hoje vai um jornalista da TVI e faz a pergunta da SIC e da CMTV para não existirem ajuntamentos, e isso antes era impensável. Lembro-me que, na primeira jornada do campeonato, o Jorge Jesus, quando vai à conferência do final do jogo, vê a sala vazia e diz: “Não há aqui ninguém?” Estava habituado a ter a sala cheia e agora com a Covid-19 é diferente. Outra coisa que mudou por completo foi em dias de jogo. Atualmente, os jogos são à porta fechada e os nossos diretos de pré-jogo e pós-jogo são sem adeptos. Por exemplo, o clássico mais recente foi o Sporting vs FC Porto e, em condições normais, era a loucura o dia todo. Agora, todos os diretos que fazemos somos só nós, sem ninguém ao lado. É triste e estranho, mas é a nova realidade.
Sente que a pandemia afetou o seu trabalho?
Afetar não afeta porque fazemos as coisas na mesma, tivemos foi de nos adaptar a esta nova realidade. Ao princípio, foi muito mais estranho do que é agora, atualmente também já estamos habituados. Aliás, agora o estranho quase seria ter público nas bancadas. Já estou tão habituado a não ter adeptos… Claro que o que mais quero é que eles voltem, porque gosto da confusão, paixão e até das picardias que existem, quase que até tenho saudades de ser insultado (risos). Temos de nos adaptar.
Vê-se a trabalhar na área do jornalismo para o resto da vida ou gostava de experimentar áreas diferentes?
Nesta profissão, é difícil fazer planos a longo prazo. Atualmente, só me vejo a fazer isto, mas aquilo que penso hoje não sei se é aquilo que vou pensar daqui a 10 ou 20 anos, até porque daqui a 20 anos ainda sou muito novo. Neste momento, diria que sim, mas se calhar daqui a 10 anos até dizia que não. Estou muito bem e gosto muito de estar onde estou e não penso sair da TVI, mas isto é como o futebol: nunca se sabe o dia de amanhã. Isto é viver um sonho e posso dizer que ainda o vivo.