Estima-se que esta técnica de medicina tradicional chinesa tenha sido desenvolvida há mais de 3000 anos, na China. No entanto, só há cerca de 30 é que chegou a Portugal. Apesar do método ser reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ainda suscita muito ceticismo na sociedade.
Ao longo de vários anos, foram desenvolvidas diversas teorias relacionadas com o aparecimento da acupuntura. Acredita-se que a medicina tradicional chinesa tenha sido desenvolvida há cerca de 3000 anos, na China, por médicos do imperador. Segundo conta Sofia Candeias, especialista na área, “esta necessidade de criar uma técnica de prevenção da saúde surgiu, pois antigamente estes médicos só recebiam o seu salário se o imperador estivesse bem de saúde. Assim sendo, ao longo de milhares de anos, foram desenvolvidos métodos para equilibrar a energia que circula nos meridianos de forma a evitar o seu desequilíbrio”.
A acupuntura é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), com finalidade terapêutica ou preventiva. “Consiste na inserção de agulhas, de pequena espessura, em determinados pontos do organismo humano. Estes pontos situam-se nos meridianos, que são canais sem estrutura anatómica onde circula a energia dos órgãos. Ao inserir a agulha na pele, é desencadeado um impulso nervoso que provoca um estímulo no cérebro, podendo produzir endorfinas do bem-estar, substâncias analgésicas ou anti-inflamatórias, entre outros mediadores químicos, dependendo do ponto estimulado. Pretende-se o reequilíbrio da circulação energética dos órgãos de forma a promover a sua saúde”, descreve.
Reconhecimento da OMS
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, a acupuntura consegue tratar cerca de 300 doenças. No entanto, apesar de ser a única medicina complementar reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de doenças que se comprovou serem tratáveis pela acupuntura, através de ensaios clínicos publicados pela OMS, é consideravelmente inferior, rondando as 40, como se pode ver pelo relatório intitulado Acupuntura: revisão e análise de resultados dos ensaios sobre clínicos controlados. Entre as patologias em que os benefícios foram reconhecidos, encontram-se as doenças emocionais e psíquicas, como a ansiedade e a depressão, as doenças e sintomas neurológicos, como por exemplo as enxaquecas, e também sintomas provenientes de outras condições, como o mal-estar e as dores provocadas pela doença oncológica.
Em 2003, com a publicação da primeira lei no Diário da República, sobre terapêuticas não convencionais, iniciou-se o processo de regulação da profissão e dos cursos de Medicina Tradicional Chinesa, em Portugal. Mais tarde, foram publicadas novas leis de forma a complementar esta primeira. No entanto, a acupuntura era já reconhecida como competência médica, pela Ordem dos Médicos, desde 2002. Posteriormente, foi publicada a Declaração de Lisboa sobre Acupuntura Médica com o objetivo de avaliar e decidir sobre a prática da mesma. Esta declaração reuniu a Sociedade Portuguesa Médica de Acupunctura (SPMA), a Sociedad de Acupuntura Médica de España (SAME) e a Ordem dos Médicos.
Durante o tratamento
Como em qualquer tipo de tratamento, também na acupuntura é necessário ter uma primeira consulta para obter um diagnóstico. “Antes de passar à sessão, é preciso fazer uma primeira consulta para avaliar o paciente, perceber quais as razões que o levaram a optar por este método, analisar todos os sintomas e fazer um diagnóstico”, esclarece.
A escolha dos pontos a estimular, bem como a profundidade da colocação das agulhas e a sua quantidade – por norma entre 15 e 25 por sessão – são definidas consoante esta análise. Como garante Sofia Candeias, “este estudo acontece, não só através de uma conversa entre o especialista e o paciente, mas também da avaliação dos exames médicos mais recentes. Apesar de não ser necessária uma prescrição por parte de um clínico de medicina convencional para recorrer à ajuda da acupuntura, deve sempre existir um complemento entre as duas áreas para se poder obter uma melhor análise do paciente e, consequentemente, um resultado mais eficaz”.
Segundo a especialista, “qualquer pessoa pode fazer acupuntura caso tenha algum sintoma que possa ser tratado ou melhorado pela mesma”. No entanto, adverte, “há casos em que é necessário ter especial atenção, como por exemplo pacientes que sofram de epilepsia, sendo esta outra razão da importância da consulta inicial de análise do paciente”. A adicionar a este aspeto, é também relevante esclarecer que “não é necessário ter cuidados antes nem depois da sessão, exceto em algumas situações onde é aconselhável o descanso após a mesma”.
Embora ainda exista algum receio em recorrer a esta terapêutica não convencional, é importante referir que a colocação de agulhas não é, como refere Sofia Candeias, «dolorosa, sentindo-se apenas um pequeno “choque”». Também não existem quaisquer riscos nem efeitos secundários associados, a não ser, por vezes, um pequeno hematoma: “Quando é feita por um profissional qualificado não tem perigo. É como uma cirurgia, tem sempre os seus riscos, mas se for feita por quem sabe em princípio correrá tudo bem.”
Aumento da procura
De acordo com o Instituto de Medicina Tradicional (IMT), nos últimos anos, o recurso à acupuntura tem aumentado consideravelmente, em Portugal, mesmo havendo ainda alguma desconfiança sobre os benefícios desta técnica de saúde milenar. “As pessoas aparecem nas consultas depois de já terem tentado muitas outras opções e nenhuma ser benéfica para o seu problema”, indica. Mas não só. A procura também tem aumentado porque “cada vez mais há quem queira cuidar do seu organismo sem recorrer a químicos”, acrescenta.
A principal razão que levou a este aumento de pacientes, no entender da especialista, “foi o manifesto e a partilha de resultados clínicos muito positivos em diversos tipos de doença, ajudando a que o ceticismo em relação a esta terapêutica seja reduzido”. Apesar de esta prática já ter sofrido uma evolução acentuada em Portugal, continuam a existir muitas pessoas que não reconhecem a acupuntura. “Enquanto não houver um maior conhecimento em relação a este tema, vão sempre existir”, remata Sofia Candeias.
O que a Lei advoga sobre as terapêuticas não convencionais:
Lei n.º 45/2003: Foi a primeira lei em Portugal referente às terapêuticas não convencionais. Pretende enquadrar a atividade dos profissionais que praticam as terapêuticas não convencionais.
Lei n.º 71/2013: Surgiu como forma de regulamentar a apresentada anteriormente. Anuncia o acesso às profissões relacionadas com as terapêuticas não convencionais, aprovando o seu exercício no setor público ou privado, com ou sem fins lucrativos;
Portaria n.º 45/2018: Foi com a publicação desta portaria que se definiram quais os estudos necessários e obrigatórios para exercer uma profissão como profissional de terapêuticas não convencionais.
Contactos úteis:
A SPMA é uma associação portuguesa criada não só para representar os médicos que praticam a técnica de acupuntura, em Portugal, mas também para divulgar os avanços na investigação científica da prática.