Os números impressionam: 3105 participantes entre os 5 e os 80 anos, 130 classes de 30 clubes. O Gym for Life é um evento nacional de Ginástica para todos que anda há nove anos a unir gerações.
Faz ginástica há 70 anos. Maria Elvira Onofre, 73 anos, da classe Mimanu do Ginásio Clube Português (GCP), pretende fazer ginástica “até poder”. Maria Teresa Machado, 65, também da classe Mimanu do GCP, diz já ter participado em muitos Gym for Life já que está há 30 anos na ginástica de representação. Ambas receberam este ano, com a atuação da sua classe, menção ouro.
O Gym for Life 2017 faz parte da disciplina de Ginástica para Todos, da Federação de Ginástica de Portugal. Segundo Ricardo Lima, diretor técnico da Ginástica para Todos, esta é “a disciplina não competitiva da ginástica, onde os grupos se apresentam nos vários festivais e em específico neste concurso”. O diretor explica que “na Ginástica para Todos não há limites de idade ou género, não há competição, portanto, é uma ginástica inclusiva e para todos”. Maria Elvira e Maria Teresa são a prova viva dessa inclusão.
Quanto às menções (ouro, prata e bronze), que são atribuídas a todas as classes, Helena Gomes, um dos quatro elementos do júri, diz que estas estão divididas essencialmente em quatro critérios: “dois critérios mais ligados à vertente da apresentação, outro ligado à inovação e criatividade e, por fim, um ligado à parte técnica e à execução e segurança dos vários elementos gímnicos”.
Catarina Costa, 16 anos, da classe Mixtica do Sport Lisboa e Benfica (SLB), também recebeu menção ouro com a demonstração da sua classe e, “não há um dia que passe sem que faça nem que seja um pino em casa”.
O gosto pela ginástica muitas vezes vem de familiares, que acabam por fazer com que os atletas queiram experimentar este desporto. Francisca Fernandes, 12 anos, da classe Matryoshkas do SLB,
tem esta paixão porque “via a irmã praticar e queria fazer como ela”. Já o motivo para Carlota Vieira, 19 anos, da classe Raparigas do Sporting Clube de Portugal (SCP), praticar ginástica foi a mãe ter sido ginasta. Ambas receberam prata neste concurso.
Margarida Brito, 6 anos, da classe Shotokats do Centro Shotokai de Queluz, conquistou a menção bronze, com a exibição da sua classe, no seu primeiro Gym for Life.
Como tudo começou: o evento em retrospetiva
“Vamos dar início ao evento.” Apresenta-se a classe que vai atuar e, envolvidos nas palmas dos que assistem, os atletas entram na nave principal em direção ao praticável. As bancadas estão cheias e o apoio do público é visível. Este é composto maioritariamente por avós, pais, filhos, netos e amigos que vêm torcer para que os entes queridos façam o seu melhor.
Para muitos dos participantes, esta audiência devia ser composta por muito mais do que familiares e amigos. Maria Manuel Silva, 54 anos, da classe Catatuas do Clube Desportivo da Escola Secundária Miguel Torga, diz ter pena que as pessoas não tenham noção do que é a ginástica em Portugal, mesmo em termos internacionais. Segundo Tiago David, treinador das várias classes do SCP, esta falta de conhecimento acontece porque “infelizmente estamos num país em que há poucos apoios e a federação não consegue apoiar tudo”.
Duke Oliveira, treinador da classe Mista da Associação de Educação Física e Desportiva de S. Pedro do Sul e da classe de Ginástica do Agrupamento de Escolas de Vouzela, acha que, “nos últimos quatro anos, tem havido mais divulgação da Ginástica para Todos até nos meios de comunicação social mas, a meu ver, deveria existir mais, porque é a área da ginástica que move mais gente e a que tem uma grande vertente de espetáculo”.
A classe está em posição e o treinador Duke sinaliza ao elemento do som que a música pode começar a tocar. Os nervos dos elementos do grupo são notórios. Tal como ele, todos os treinadores estão atentos a cada pormenor da atuação a que tantas horas de treino dedicaram. Tal como os atletas que estão em exibição, torcem para que tudo corra bem.
No praticável, os fatos de atuação chamam a atenção pelas cores garridas e os brilhantes com que são compostos. A maquilhagem sobressai no rosto sorridente dos muitos participantes que, tal como Maria Elvira Onofre, até poderem vão continuar a fazer ginástica.
As atuações vão decorrendo, umas melhor, outras menos bem. Mas, no fundo, independentemente de como corra, estão todos para o mesmo: fazer o que mais gostam, fazer ginástica.
O nervosismo da zona de aquecimento
Enquanto decorrem as atuações, o ambiente é tenso na zona de aquecimento. Os ginastas preparam o seu corpo, alinham-se os últimos toques, marca-se no praticável de aquecimento as últimas posições para que nada falhe. Os treinadores dão as últimas recomendações aos atletas: “Não se esqueçam! Braços esticados, pontas dos pés esticados, postura, sempre a sorrir, fixem um elemento do júri!” Os nervos sentem-se. “É a atuação que nos provoca mais ansiedade durante o ano. É a que treinamos mais e ficamos mais nervosos”, diz Mariana Reis, 17 anos, da classe Mixtica do SLB.
São poucos os sorrisos que se veem, são poucas as brincadeiras dentro daquelas quatro paredes. A concentração é total. O esquema é feito e refeito mentalmente na cabeça de cada um. Nada pode falhar. Está a chegar o momento dos ginastas verem em que nível estão. “É para este evento que as classes de representação mais trabalham e se aplicam por serem observados, analisados, e, acima de tudo, receberem criticas positivas e negativas”, explica Bruno Oliveira, treinador das classes Especial Raparigas e Mãe D’Água do GCP.
Estas críticas são feitas pelos dois feedbackers, Alberto Claudino e João Paulo Jordão. Estão na mesa com o júri, para que possam apreciar e receber a opinião que este lhes transmite. No fim de cada atuação, falam com os treinadores e dizem os parâmetros que estiveram bem e os que podem melhorar.
Poucos minutos antes da demonstração, os voluntários do evento encaminham as classes para a entrada do espaço de atuação. De pé no chão e nervos em franja, o grupo avança na esperança que o seu desempenho seja o melhor.
A bancada dos atletas
O gosto pela ginástica é notório na bancada dos atletas. Cada atuação é analisada e comentada ao detalhe pelos participantes que assistem ao espetáculo, enquanto se preparam e esperam que se aproxime a hora da demonstração.
O cheiro a laca é intenso. Os brilhantes caem no chão enquanto as caras das raparigas, que se maquilham umas às outras freneticamente, se enchem de brilho.
Tanto o cabelo como a maquilhagem têm de estar perfeitos para a apresentação. Enquanto isso, os atletas vão assistindo às atuações das outras classes aproveitando, segundo Catrina Gonçalves, 17 anos, da classe de Ginástica Rítmix do Real Sport Clube, “para ver outras e novas classes para que, assim, consigam aprender mais e melhorar a técnica”.
Entre atuações, é feito um compasso de espera para que o júri tenha tempo para decidir que pontuação dar em cada parâmetro, para se chegar a uma menção.
Enquanto isso, os ginastas aproveitam para se divertir. Acabam por animar todo o público ao fazerem “ondas” de um lado ao outro das bancadas do pavilhão. Só ficam satisfeitos quando todos
aderem a este entretenimento ou quando uma voz feminina anuncia o nome da próxima classe, clube e treinador. É assim que o compasso de espera acaba. Vai de novo haver a exibição de um esquema no praticável. A partir desse momento, o apoio existe: ouvem-se palmas, a atenção multiplica-se para uma nova atuação.
O evento está dividido em quatro sessões, duas em cada dia. No fim de cada uma, acontece a cerimónia protocolar: os grupos sabem que menção obtiveram no concurso. No meio de cada sessão há um intervalo, para que o júri descanse um pouco. É nesse momento que se revela o flashmob oficial da Festa Nacional da Ginástica – evento organizado pela Federação de Ginástica de Portugal -, que vai decorrer em Faro, de 30 de junho a 2 de julho.
Os atletas presentes na bancada aproveitam para aprenderem os passos, conviverem e, mais uma vez, se divertirem. O ambiente é de festa e o sorriso no rosto de cada um é prova disso.
O apoio à ginástica vai-se notando ao longo de cada exibição: nas várias classes de vários tipos de ginástica e, ainda mais, nas classes que são compostas por pessoas com incapacidades.
Os momentos dessas atuações são os mais emocionantes, tanto para o público como para o júri. E são a prova que, de facto, a ginástica para todos é uma ginástica inclusiva e sem qualquer limite. Como o próprio nome indica, para todos.