Sinopse:
“A mãe que não quer que lhe chamem de mãe
A Leonor que conhece as Sete Partes do Mundo.
As espanholas que bebem chá e comem petit-fours.
As bonecas que não brincam porque são de porcelana.
A casa de muitos quartos misteriosamente fechados.
A Marta que sente haver nas paredes dois olhos que a seguem por todo o lado…
Tudo isto, e o segredo que irá desvendando página a página.”
Crítica:
Publicado em 1990 e escrito por Alice Vieira, uma autora que decerto todos conhecem, “Os Olhos de Ana Marta” é um livro que merece ser lido por todos, jovens e adultos. Conta a história de uma menina, Marta, que acredita piamente que foi trocada à nascença, porque Flávia, a mãe, não age como tal. Começa então o mistério desta família, que vai sendo descoberto entre histórias e cantilenas.
Não subestimemos este livro por ser “para mais novos”. Esta é uma daquelas histórias que nos faz sentir e nos envolve na intriga de uma forma apaixonante. Percebemos de início que a história não é tão simples como “Marta foi trocada ao nascimento e terá de encontrar a sua mãe verdadeira”, pelo contrário. Este não é um conto de fadas, é uma história que parece real, com personagens tão humanas que pensamos que as conhecemos. Seguimos a intriga pelos olhos de Marta, sentindo toda a sua confusão, indignação e esperança. Apercebemo-nos da dor de Flávia, de facto mãe de Marta. Esta não é a vilã da história como se dá a entender nas primeiras páginas, aliás, não existe ‘vilão’. As pessoas que constituem esta família são isso mesmo: pessoas, a tentar ultrapassar uma “Grande Fatalidade” que os assombra sempre que Marta entra na sala.
Este livro trata de um tema complicado, e lê-lo enquanto jovem adulto traz um entendimento temático completamente diferente. É abordada a perda e todas as consequências desta. Pode ser lido como um simples mistério a descobrir, pode ser lido com maior profundidade emocional. Mas a verdade é que este livro, definitivamente, deve ser lido e relido. Cada vez que se relê cada linha descobre-se mais (e mais) nesta história, entrosamo-nos mais nela, percebemos melhor os sentimentos de Marta e Flávia, duas vítimas sem culpa.
O livro é curto, mas diz exatamente o que precisa de dizer. Conta todas as histórias que precisa de contar, não deixando nenhuma personagem para trás. Conhecemos Flávia, conhecemos o Touro Sentado, conhecemos Leonor, até conhecemos as espanholas, D. Pepa e Conchita. Sobretudo, conhecemos Marta. Sentimos por e com ela, e desvendamos o mistério que segue a sua família à medida que ela o faz. Vemo-la crescer e, consequentemente, compreender melhor a sua circunstância. Temos esperança por ela, queremos vê-la num final feliz, com a família perfeita que merece. Marta não é uma criança passiva que vê a história da sua família a desenvolver-se, muito pelo contrário: é ela que desenvolve o enredo, e que faz com que a verdade, que tanto quer descobrir, venha à tona.
Só há uma personagem que não conhecemos: Ana Marta. E se não sabes a resposta ao mistério dos seus olhos, bem… terás de ler o livro.
Recomendo este livro a todos. Não interessa de onde uma pessoa é, a vida que tem ou teve, todos conseguem perceber esta história, os sentimentos que transmite são universais. Alice Vieira é das melhores escritoras para jovens, e isso é visível neste livro. Fácil de ler, com personagens incrivelmente reais e retratando acontecimentos que nos fazem sentir e nos apaixonam. Um clássico juvenil e uma história tão intrigante como comovente.
Se gostaste de “Os Olhos de Ana Marta” também gostarás de “Coraline” de Neil Gaiman.