Sinopse:
“Indiana e Amanda Jackson sempre se apoiaram uma à outra. No entanto, mãe e filha não poderiam ser mais diferentes. Indiana, uma bela terapeuta holística, valoriza a bondade e a liberdade de espírito. Há muito divorciada do pai de Amanda, resiste a comprometer-se em definitivo com qualquer um dos homens que a deseja: Alan, membro de uma família da elite de São Francisco, e Ryan, um enigmático ex-navy seal marcado pelos horrores da guerra.
Enquanto a mãe vê sempre o melhor nas pessoas, Amanda sente-se fascinada pelo lado obscuro da natureza humana. Brilhante e introvertida, a jovem é uma investigadora nata, viciada em livros policiais e em Ripper, um jogo de mistério online em que ela participa com outros adolescentes espalhados pelo mundo e com o avô, com quem mantém uma relação de estreita cumplicidade.”
Crítica:
Esta obra de Isabel Allende é a primeira da autora a ser considerada “um policial”, desviando-se do estilo de romance habitual de Allende. Na verdade, acaba por ser uma aventura juvenil misturada com as típicas histórias da autora chilena, repletas de um drama mais maturo.
Segue a história de Amanda, uma jovem com interesse mórbido por crimes horrendos. Desenvolve esse interesse através de Ripper, um jogo de role-play com amigos na internet, no qual exploram casos por resolver. Tudo muda quando a sua mãe, Indiana, desaparece e Amanda se vê obrigada a resolver um caso real, antes que o pior aconteça.
Neste romance, Allende destaca-se na forma como descreve as suas personagens, inserindo-as em situações reais. Conseguimos identificar uma para qualquer tipo de leitor: Amanda que, apesar dos seus interesses, é uma adolescente normal que passa por todos os problemas de ser adolescente e dá à obra o seu tom juvenil; Indiana, a mãe de Amanda, uma mulher bondosa e interessada em medicina holística, que dá um toque romântico à história; e o seu amante Ryan, um homem com stress pós-traumático de guerra, que traz todo o drama e dor necessários para completar a história. É como se estas personagens fossem cada uma de um livro diferente e, juntas, criassem um completamente novo com o equilíbrio perfeito de cada género. Todas têm diferentes histórias para contar, que eventualmente se ligam entre si, e todas são contadas bem e ao detalhe. É como ler uma coleção de livros num só.
A melhor nesta obra de Allende é a personagem principal, Amanda, que demostra várias vertentes da sua personalidade nas suas interações com outras personagens. Podia ser um cliché, uma rapariga constantemente depressiva e austera, ou uma adolescente estereotípica, mas acaba por ser complexa e bem construída. Para além disto, a história não ignora as experiências pelas quais uma adolescente normal passaria, e vemos como Amanda lida com elas. Indiana e Ryan, apesar de também bem contruídos (assim como outras personagens secundárias da obra), acabam por ser limitados a uma única característica, acabando por não ser tão complexos como a jovem.
O mistério é inesperado e com suspense, mas acaba por nem ser o fator central do livro, acontecendo apenas na segunda metade do volume. Aliás, o desaparecimento acaba por só ter o efeito que tem devido às vidas que antes lemos e à capacidade espetacular que Allende tem em fazer-nos ficar envolvidos nelas. É curto, e até previsível, mas mesmo assim ficamos na ponta da cadeira a cada palavra. Prova que não é necessário um mistério durar o livro inteiro ou acontecer uma reviravolta para ter efeito, mas sim criar uma atmosfera ideal e empatia do leitor para com as personagens.
É um livro cativante, não só pelo mistério, mas pelas pessoas que nele vivem. Cada personagem tem uma história para contar e a maneira como esta é escrita faz-nos querer ler cada parte mais do que uma vez.
Recomendo a todos os que gostam de drama, mistério e histórias com personagens cativantes. Decerto não ficarão desiludidos.
Se gostaste de “O Jogo de Ripper”, também vais gostar de “O Homem de Giz” de C.J. Tudor