O primeiro objetivo é sempre a vitória, mas para este clube, fundado em 2010 numa freguesia onde o futsal era apenas uma ideia distante, os valores e o amor ao desporto são mais fortes. No Sport Queijas e Benfica tudo isso é evidente: são uma família.
O apito inicial soa no pequeno Pavilhão Noronha Feio em Queijas e a bola começa a rodar com a energia típica de um jogo. O Sport Queijas e Benfica, com as suas icónicas camisolas vermelhas e brancas, avança para o ataque. Cada passe é preciso e cada remate feito com paixão e com a emoção de quem não está apenas a jogar futsal, mas a viver um propósito. Da bancada, os treinadores gritam instruções e palavras de incentivo. Ali, naquele piso onde os ténis rangem e os corações batem forte, não se luta apenas por vitórias, mas pela formação de valores e pelo amor ao desporto.
Foi precisamente a 19 de julho de 2010 que Ângela Arroja deu o pontapé de saída para aquilo que se viria a tornar muito mais que um clube de futsal. Nascido de um sonho e de uma paixão incrível pelo desporto, o Sport Queijas e Benfica ergueu-se como um projeto ambicioso. Com “Formar pelo Desporto” como lema, o clube mostrou desde cedo que queria fazer mais do que ganhar jogos, queria formar pessoas, educar atletas e inspirar a comunidade. Os primeiros anos não foram fáceis, mas com determinação e união, este pequeno clube foi crescendo, conquistando espaço não apenas nos pavilhões, mas também no respeito de todos aqueles que cruzam o seu caminho.
O início de um sonho
O primeiro passe desta história foi escrito no campo de Cheuni, em Queijas, um espaço descoberto e de cimento onde, inicialmente, apenas dois escalões, benjamins e infantis, deram o pontapé de saída. Mas nem tudo foi fácil. Após a primeira divulgação, apenas um atleta apareceu. Ainda assim, a resiliência falou mais alto. Rapidamente, mais crianças se foram juntando, motivadas pela curiosidade e pela energia contagiante do projeto. O primeiro ano foi dedicado à formação, sem competições, mas o impacto na freguesia foi tão positivo que se tornou claro que era preciso expandir.
A grande decisão veio com a ideia de criar um verdadeiro clube de formação. Não fazia mais sentido ter apenas dois escalões. Se era para formar, seria para oferecer um percurso completo, com exceção dos juniores, que só viriam mais tarde. No entanto, o princípio desta história mostrou-se cheio de desafios. A falta de espaços adequados para treinar, a escassez de apoios financeiros e a necessidade de apostar em treinadores qualificados exigiram resiliência. O clube, porém, soube superar as adversidades, criando parcerias estratégicas, como a colaboração com o Benfica, que trouxe conhecimento e prestígio, sem nunca comprometer a identidade única do Sport Queijas e Benfica.
De um atleta no primeiro treino para uma média de 30 a 40 nos anos seguintes, o projeto foi crescendo. Hoje, 14 anos depois, o clube é um símbolo de persistência e sucesso, com mais de 130 atletas a carregarem o sonho que começou com uma bola num campo de cimento e que, dia após dia, continua a fazer história em Queijas.
Os desafios de um pequeno clube de formação
Apesar do crescimento impressionante, o Sport Queijas e Benfica ainda enfrentam desafios estruturais que limitam o seu potencial. A questão financeira continua a ser o maior obstáculo, especialmente num concelho onde as empresas ainda mostram resistência em apoiar associações locais que promovam o desporto e o bem-estar da comunidade. Sem um pavilhão próprio, o clube vê-se obrigado a gastar, segundo a fundadora, “70% do nosso orçamento é no aluguer de espaços”, um peso que dificulta investimentos em áreas fundamentais como formação, equipamentos e eventos. “É o maior problema que temos”, admite Ângela Arroja, destacando que superar isso é crucial para garantir a continuidade e o crescimento de um projeto que já impactou tantas vidas em Queijas.
Rúben Conceição, o treinador desportivo é, hoje, a cara do clube, e a sua história no Sport Queijas e Benfica reflete a sua paixão pelo clube. Chamado para fazer parte do projeto em 2018, enquanto ainda treinava no Dragon Force em Carnaxide, Rúben chegou ao Queijas como treinador principal dos infantis e adjunto dos juvenis. O seu empenho e visão fizeram-no subir rapidamente na estrutura do clube. Em 2021, assumiu o cargo de coordenador de formação e, no ano seguinte, tornou-se diretor desportivo. Sobre as responsabilidades que esse papel exige, Rúben é claro: o maior desafio está nos recursos humanos. “É saber encontrar as pessoas certas para nos acompanhar no projeto”, destacando também que delegar responsabilidades é essencial, porque, “sozinho seria praticamente impossível”. Para ele, o segredo do sucesso é ter uma equipa com os valores do clube.
Mais do que um lugar de competição, Rúben acredita que o Queijas é um espaço de formação de pessoas, algo que distingue o clube. “Somos muito mais do que um pequeno clube de formação, somos uma família acima de tudo”, afirma. E quando questionado sobre o significado do Sport Queijas e Benfica na sua vida, a resposta não deixa dúvidas: “É a minha vida.”
Dois jovens, uma paixão
Entre os muitos atletas que cresceram no Sport Queijas e Benfica, Vasco Santos destaca-se como um exemplo notável de evolução e dedicação. Hoje com 18 anos, entrou para o clube em 2019 no escalão de iniciados, ainda longe de imaginar o progresso que alcançaria. “No início eu não jogava nada, mas com a nossa equipa técnica consegui melhorar muito, para hoje ser capitão dos juniores”, conta. O Queijas, no entanto, é mais do que um lugar para treinar e competir. Para Vasco, o clube representa um refúgio e uma grande família. “Para mim é uma grande família”, afirma, acrescentando que os fins de semana de jogo são a sua escapatória.
Outra história que molda o clube é a de Gonçalo Veiga, exemplo de como a paixão pelo clube vai para além do campo. Com 19 anos, Gonçalo é atualmente treinador dos escalões benjamins e juniores, além de fotógrafo e gestor das redes sociais. A sua ligação ao Queijas começou em 2018, quando se juntou ao escalão de infantis como jogador. No entanto, rapidamente percebeu que a sua vocação não seria dentro das quatro linhas. “A qualidade não chegou para continuar a carreira na formação, mas a paixão pelo clube fez-me ficar aqui, mesmo não estando a jogar.” Determinado a contribuir de outra forma, começou a integrar a equipa técnica, assumindo outras responsabilidades. Hoje, divide o seu tempo entre treinar, captar momentos com a câmara e gerir a presença do clube no digital. “Não era capaz de abandonar por completo o Queijas”, afirma, mostrando que o laço que criou com o clube é muito mais forte do que qualquer vitória.