Portugal é um dos países da União Europeia mais bem posicionado em matéria de poluição atmosférica, mas tal não impede que esta poluição cause, em média, cerca de 6.000 mortes por ano. Contudo, a pandemia de Covid-19 provocou uma desaceleração da economia e uma melhoria da qualidade do ar que evitou cerca de 609 mortes no nosso país.
Os números são de um estudo do Centro de Investigação em Energia e Ar Puro, segundo o qual a produção de eletricidade a partir do carvão caiu 40% e o consumo de petróleo diminuiu em quase um terço. Como resultado, estima o CREA, as concentrações de dióxido de azoto (NO2) e de partículas finas (partículas em suspensão no ar, tóxicas) diminuíram 37% e 10%, respetivamente.
Acrescente-se o Relatório do Estado do Ambiente, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que afirma que as medições das quantidades de partículas inaláveis e finas em Portugal revelam uma média de 10,3 microgramas por metro cúbico, ultrapassando as 10 microgramas máximas, estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde.
Após o desconfinamento, a poluição do ar voltou a aumentar. Um alerta recente da Associação Zero revela este aumento, realçando o incremento em 86% da concentração de dióxido de azoto em Lisboa. Segundo o comunicado, a associação refere que “a Avenida da Liberdade registou um aumento da concentração média de dióxido de azoto (um indicador da poluição do ar) de 86% entre a primeira e a segunda fase de desconfinamento”.
O uso do automóvel é a principal causa desta subida. Desde 1994, que a Avenida da Liberdade não registava níveis de poluição tão baixos como os que registou durante o estado de emergência. Na tentativa de diminuir os níveis de poluição, ainda num período pré-pandemia, João Fernandes, atual ministro do Ambiente, afirmou perante os jornalistas da Universidade de Évora, em 2018, que o Governo está a planear um plano nacional que envolve a construção de mil quilómetros de ciclovias em 10 anos, num investimento de 300 milhões de euros. Nesta declaração publicada pelo Sapo Desporto, o ministro disse ser “difícil de perceber”, num país como Portugal, que “até tem tradição de produção” e de “uso de bicicletas”, que “só 1% das deslocações” seja feita com recurso a este meio de transporte, quando “a média europeia está entre os 7 e os 10%”.
Mas as ciclovias levaram ao aparecimento de outras formas de transporte. No ano de 2018, em conjunto com o projeto proposto pelo ministro do Ambiente, surgiram as trotinetes “Lime”. Álvaro Salvat, responsável pela expansão da empresa em Portugal e Espanha afirma que, “só em Lisboa, são mais de 350 mil carros que entram diariamente na cidade, apesar dos esforços das autoridades locais para proporcionar alternativas para as pessoas se deslocarem da periferia para o centro da cidade”, declara o diretor à Wattson. A ideia seria apostar mais nestes meios do que nos automóveis, até porque, em menos de um ano de circulação em Portugal, as trotinetes da Lime já percorreram 2.500.000 quilómetros nas mais de 1,5 milhões de viagens, de acordo com informações avançadas pela empresa. Esta realidade levou à não-emissão de 4.138 toneladas de CO2 para a atmosfera, além de ter possibilitado poupar mais de 320 mil litros de gasolina.
Com todas as opções disponíveis em Portugal, o uso do carro como transporte individual deveria ser repensado. Para os que não abdicam desse meio, o Governo inaugurou, a 1 de janeiro de 2019, o incentivo para a aquisição de um veículo 100% elétrico: 3000€ no caso de pessoas singulares (2250 € para pessoas coletivas). Este incentivo cobre veículos de duas rodas (motociclos de duas rodas e ciclomotores) elétricos, bem como bicicletas elétricas. A DECO disponibiliza a informação necessária para os interessados em contribuir para a redução dos níveis de poluição. Neste sentido, a Associação Zero afirma que espera ver todos os TVDE (como a Uber, Bolt ou Cabify) 100% elétricos até 2025.