Café, livros e gatos? É ‘o três em um’ do primeiro cat café de Lisboa. No Aqui Há Gato são os anfitriões felinos que dão as boas-vindas a quem entra.
Fotografia: Pedro Taborda
É na Calçada da Estrela que as estrelas são outras. Nesta nova cafetaria, o espaço é dos gatos. Que o digam Bruno e Bruna que emprestam os bigodes ao logótipo. Não servem cafés, mas partilham momentos de ternura das 11:00 da manhã às 7:00 da tarde.
[photoblocks id=3]Sem pudor e com movimentos elegantes, já na montra dão o ar de sua graça. Os mais exibicionistas passeiam de um lado para outro, os preguiçosos dormem a sesta da tarde, os despreocupados espreguiçam-se ao sol.
À entrada, dois espaços. Café só café, não. Biblioteca só por ter gatos, também não. “Tinha que ser diferente”, explica Catarina Mendes, a responsável pelo projeto, também ela amante de amigos felinos. Por questões de legislação, este cat café separa-se do ‘conceito original’ por uma divisória em vidro. De um lado, café com tostas; do outro lado, livros com carícias.
Foi de olho posto na atualidade que Catarina Mendes se inspirou no primeiro cat café da Europa, aberto na Áustria, para desenvolver o projeto. Com MBA em Gestão terminado, projeto empresarial aplaudido no Shark Tank, Catarina pensou: “Será que realmente vale a pena?” Hoje é no número 74 que a resposta se torna clara.
Aqui, para se rejuvenescer com mais sete vidas, o local indicado é a cafetaria. O acolhimento dos primeiros clientes da casa é distinto do atendimento dos anfitriões de quatro patas. Não de maneira preguiçosa, mas de maneira entusiasta. Com sorrisos no rosto e simpatia na voz, é ao balcão que explicam o que o cat café fornece… para além do tempo com gatos.
Não são só as estrelas da casa que se destacam, quando a ementa salta à vista. Entre croissants, tostas e saladas é que a refeição se faz. E para que não exista hipótese de um pedido especial, o Aqui Há Gato tem um cardápio diferenciado. A fim de satisfazer todos os gostos, também servem pratos vegans.
E os clientes estranham?
O tempo é pouco, mas a vontade é muita e é depois da barriga cheia que o casal se prepara para ir admirar mais de perto os gatos do outro lado do vidro. “Confesso que não conhecia o conceito”, diz Tiago. A sua mulher Sandra, também ela na casa dos 30, concorda: “Acabámos por almoçar num ambiente diferente e metemos a conversa em dia enquanto observávamos as brincadeiras deles. Foi uma experiência interessante.” Mulher de poucas palavras, Sandra acrescenta: “Viemos cá parar por mero acaso. Vimos que era novo e quisemos experimentar, não estávamos nada à espera de encontrar gatos no café.”
Para conviver com os amigos de quatro patas, a história já é outra. Do outro lado do vidro, os residentes são oito – à espera de Tomé, que fará da família nove – que convivem entre si de forma independente, num ambiente silenciosamente calmo.
De prateleiras cheias para boas leituras, comodidade dos sofás e gatos dóceis para mimar, é feita a biblioteca do Aqui Há Gato. Não são os protagonistas do logótipo que recebem as visitas à porta, mas a receção não deixa de agradar. Aconchegado no sofá, um lento piscar de olhos é a forma de Baguete dizer boas-vindas a quem chega.
[photoblocks id=4]Depois de semanas à espera que os felinos se habituassem ao novo lar, os cuidados continuam a ser os mesmos. “Quem conhece os gatos sabe que são animais que stressam com facilidade”, explica Catarina Mendes. “Como nos próximos dias estamos a ter introdução de gatos novos, é preciso saber controlar esse fator.” Durante os primeiros dias é proibida a entrada de crianças até aos 12 anos. “Não é que elas façam por mal, mas elas ficam num estado de excitação tão grande que pensam que são peluches fofinhos aos quais se pode fazer tudo.”
A entrada restrita não se aplica só aos pequenos, mas também aos graúdos. Para proteção dos anfitriões do Aqui Há Gato, é aplicada uma tarifa de 3 euros por pessoa, com direito a uma bebida e companhia da família de quatro patas. “Claro que há clientes que estranham o facto de terem que pagar para poder entrar na biblioteca”, afirma Catarina Mendes, “mas a verdade é que quem conhece o conceito sabe que é necessária manutenção, para além de que acabamos por impedir que pessoas que não têm respeito aos animais entrem na zona de conforto deles”.
Vera Bicho, com 40 e poucos anos, resolveu matar a curiosidade e trazer companhia. Não de um gato, mas de uma amante de gatos, Lídia Ferreira, ainda ela nos 30. “Não estava à espera, mas foi uma surpresa muito positiva até agora, são muito engraçados cada um à sua maneira”, conta, olhando para as brincadeiras de Nessie, a gata malhada de branco e cinza.
O jovem Frederico foi apanhado de surpresa quando descobriu que o cat café lisboeta se diferenciava não do da Áustria, mas do de Budapeste. Com a divisão veio a biblioteca e com a biblioteca veio o pagamento. “Era uma coisa que precisávamos cá em Portugal e foi por ter gostado muito da minha experiência lá fora que quis repetir. Mas fiquei surpreendido com o facto de ter de se pagar, visto que lá fora pedíamos a nossa refeição normalmente, enquanto os gatos passeavam pelo local.”
Quando ao balcão o informaram que o preço incluía uma bebida, Frederico pediu um chá e descansou na mesa, ao lado de Margarida. “Acho que o facto de ser diferente é muito melhor, porque ter os gatos associados à biblioteca transmite calma ao próprio animal, acaba por retirar a agitação toda que possa existir”, comenta a jovem depois de tirar a famosa selfie com Baguete.
Com a parceria dos Rafeiros SOS, o Aqui Há Gato acolhe alguns dos amigos que residem agora no café e disponibiliza ainda um livro da associação na biblioteca. O propósito? Não só servir os clientes com refeições meigas, mas também mostrar-lhes como poderia ser ter a companhia de um gatinho no seu cantinho.
Para relaxar na companhia dos felinos do Aqui Há Gato vá à Calçada da Estrela nº 74 A – Lisboa. Aberto para mimos das 11:00 às19:00 horas.