Licenciado em Economia e pós-graduado em Finanças, Hugo Pereira, 44 anos, é o atual presidente da Câmara Municipal de Lagos (CML). Lacobrigense de gema, ingressou na política há 19 anos, pelo PS. Em entrevista, fala acerca da sua cidade e do orgulho em “dar a cara” pelo município. Nos melhores e nos piores momentos.
Em 2013, Hugo Pereira passou a fazer parte do executivo da CML como vice-presidente e, mais tarde, alcançou o cargo de presidente interino, na sequência da anterior líder da autarquia de Lagos ter suspendido o mandato para concorrer às legislativas de 2019. Nesse mesmo ano, tornou-se presidente da CML, após Maria Joaquina Matos ter sido eleita deputada à Assembleia da República, pelo círculo do Algarve, a partir do mês de outubro. Por inerência é também presidente da Associação de Municípios Terras do Infante: Lagos, Aljezur e Vila do Bispo.
Em 2013, candidatou-se às eleições autárquicas pelo PS tendo vindo a ocupar o cargo de vice-presidente. Em 2019, na sequência da anterior líder da autarquia de Lagos ter suspendido o mandato para concorrer às legislativas de 2019, assumiu a pasta de presidente interino e hoje é presidente da Câmara Municipal de Lagos. Como é ‘’dar a cara’’ pela sua cidade?
É um motivo de orgulho. Não estava nos horizontes. Não estava pensado na altura em que vim para a Câmara Municipal de Lagos, nem quando em 2017 me recandidatei. Mas, como consequência dos acontecimentos e do convite à senhora presidente [Maria Joaquina Matos] para ir para a Assembleia da República, acabou por acontecer. Obviamente, é um motivo de orgulho e de grande responsabilidade poder estar à frente de um município como Lagos, que tanto admiro e de que tanto gosto.
Zelar pelo bem-estar dos cidadãos é uma das principais funções de um presidente de Câmara. Como tem sido lidar com a pandemia COVID-19?
É um grande desafio. A última coisa para que estamos preparados ou pensamos algum dia ter que defrontar é viver uma guerra, e esta pandemia é muito equiparada a isso. É uma guerra contra um inimigo invisível que nos altera o dia a dia, o que estava projetado e cria uma série de preocupações. Exige muita responsabilidade conseguir evitar o máximo possível de efeitos devastadores e negativos no concelho. E, felizmente, temos conseguido controlar muito a pandemia. Veremos como serão os próximos dias e, acima de tudo, qual será o seu efeito na economia.
“Estamos a trabalhar para que ninguém fique para trás’’
Que medidas foram tomadas em concreto assim que a COVID-19 foi considerada pandemia mundial?
A primeira coisa que fizemos foi tentar ao máximo ajudar no confinamento da população, fechando grande parte dos equipamentos públicos. À medida que as coisas foram evoluindo, tentámos encerrar zonas que ainda tinham muita utilização: frentes ribeirinhas, praias e praças. Deste modo, evitámos que a população se dirigisse para esses sítios e que houvesse concentração de pessoas. Depois, em articulação com as empresas locais, foi possível que algumas se antecipassem ao encerramento, antes da decisão por parte do Governo. Reduzimos alguns horários e proibimos a ocupação da via pública para evitar que os negócios se fizessem na parte de fora. Ao fechar esta ocupação, as empresas iriam atrás e acabariam por encerrar. Isto tudo foi feito numa tentativa de meter o máximo de pessoas em casa e o mais rapidamente possível, evitando contágios em maior escala. A Câmara Municipal de Lagos continuou sempre a trabalhar e a procurar a melhor forma de ajudar. Criámos iniciativas de apoio na área social, ao fornecer refeições e cabazes alimentares a quem mais precisava; um conjunto de medidas para apoiar a economia das famílias e das empresas. Antecipámo-nos com a aquisição de equipamento de proteção individual para todas as equipas essenciais do município, sejam das forças de segurança e proteção civil, da parte hospitalar ou das IPSS. Fizemos essa distribuição para que ninguém pudesse estar na linha da frente sem as condições de proteção. Ao nível da educação, com a telescola e o não voltar para a escola, adquirimos 400 portáteis e 100 tablets para serem distribuídos a quem tem de continuar em casa sem os meios de acesso à Internet. Estamos a trabalhar para que ninguém fique para trás.
De entre as várias medidas, o que considera ter sido mais difícil de controlar?
O mais difícil seria o confinamento das pessoas, garantir que ficavam em casa. Tem que se dar uma palavra de agradecimento à população de Lagos que cumpriu muito acima daquilo que se foi vendo pelo País. As pessoas acederam e, com aqueles que estavam na linha da frente, fizeram bem o seu papel. Os resultados são os poucos casos que tivemos e todos já tratados. Aqueles que tinham que ficar em casa porque era possível ficar, ficaram… e isso ajudou muito. Aquele que seria o meu maior receio transformou-se no maior sucesso.
“Há um reconhecimento da parte do município’’
Como tem sido a recetividade por parte dos lacobrigenses face ao conjunto de medidas aplicadas?
Acho que tem sido favorável, mas falar em causa própria é complicado. Há um reconhecimento da parte do município, das forças envolvidas nas ações do terreno. Ainda assim, quem deverá fazer essa avaliação não somos nós, que estamos na linha da frente: será a população. Estamos numa fase ainda inicial e temos um caminho que desejava que fosse mais curto, que rapidamente se encontrasse a cura.
São quatro os casos recuperados e zero os casos positivos no concelho de Lagos. Julga que as medidas de segurança implementadas e acordadas se refletem neste número?
Sim, os resultados são o exemplo do trabalho que foi feito. Foi possível parar em tempo útil, controlar a vigilância ativa e o resultado disso foram os poucos casos não graves. Daí que, no espaço de um mês e meio, fosse possível a recuperação rápida e simples a partir de casa. Sabemos que isto não acabou. Vamos ter de continuar atentos na segunda fase porque começa a haver mais pessoas na rua e a atividade tem que retomar. É muito importante que todos cumpram as normas da DGS para que isto não volte a disparar: distanciamento, uso da máscara, material de proteção individual, desinfeção e lavagem de mãos. Podemos ter, no meio disto, alguma sorte, mas a sorte dá muito trabalho.
“O turismo vai sofrer mais do que eu desejo e que é esperado’’
Fala-se em sérios impactos para o turismo global. Sendo o Algarve um dos maiores geradores de receitas turísticas do País, no caso de Lagos, o que prevê que possa acontecer?
É a tal vaga da pandemia económica e financeira. Na verdade, o turismo, como atividade económica do país e, mais especificamente, da região, é muitas vezes o mais sacrificado em caso de crise económica. Havendo dificuldade por parte das famílias em terem folga financeira, estas não podem gozar das merecidas férias. Normalmente o turismo sofre, como aconteceu na crise de 2008, porque há menos capacidade económica no Mundo, logo, menos pessoas a viajar. Foi um dos setores que mais sofreu e o último a recomeçar. Dizer que vai acontecer exatamente igual não é possível. É uma crise que depende do tempo que perdura e que poderá ter efeitos mais devastadores ou não, na parte económica. Este ano vai ser mais complicado e os resultados vão ser piores do que o esperado. Mas, se isto rapidamente se resolver, no próximo ano as pessoas recuperam o poder económico e têm mais vontade de viajar. Se se prolongar por mais tempo e não existir uma maneira de controlar rapidamente, então aí, sim, o turismo vai sofrer mais do que desejo e que é esperado. Eventualmente, o Algarve viverá muito do turismo nacional, porque não se sabe como será a gestão das fronteiras, dos voos ou quais os países preparados para voltar a viajar. Não há muito o hábito do turismo alemão vir para Portugal, o que até pode ser uma janela de oportunidade. A pandemia lá foi mais ou menos controlada, como em Portugal. Aquilo que eu gostava era que fossem só mais dois, três meses, e que se conseguisse arranjar uma maneira de resolver tudo; que este ano fosse um ano complicado, mas que, no próximo ano, se conseguisse ganhar já a Páscoa. Espero que seja mesmo um “V” na sua forma, ou seja: viemos abaixo pela crise pandémica e agora rapidamente voltamos a subir. Vai ser um ano instável e complicado, e as pessoas terão que voltar a ganhar esperança e fé.
“Que isto seja uma lição de vida para o Mundo’’
Numa época em que a linha liberdade/consciência coletiva se mostra tão ténue, existe algo que gostasse de acrescentar a par da mensagem que deixou por escrito onde refere, passo a citar: ‘’Trata-se de um combate global, face a uma ameaça que não tem rosto, nacionalidade nem conhece fronteiras, e que a todos pode atingir’’?
Acrescentar isso mesmo. Isto aconteceu e não estávamos preparados, nem no nosso pior pesadelo. Nem o melhor realizador de cinema se lembraria de fazer este filme. Mas o que é certo é que aconteceu de uma forma muito rápida e transversal, começando numa pequena ‘’coisita’’ que, passado uns meses, invadiu o Mundo. Fez-nos refletir sobre um Mundo global, que somos iguais – onde não se separa ricos de pobres, grandes de pequenos, feios de bonitos, grandes de pequenas nações ou religiões. Bem como sobre a vida: que há forças maiores que nos conseguem meter na ordem e provocar o medo. O que desejo é que todo o Mundo, em especial aquele que manda mais no Mundo, perceba que as coisas vão ter que mudar. Tem de haver mais solidariedade, cooperação e paz. As questões ambientais também foram interessantíssimas! Há anos que se reclama para baixar o número de voos, diminuir a pegada ecológica e a poluição. E foi preciso vir esta “coisa invisível” para nos fazer meter a mão na consciência, para nos obrigar a parar e recuperar décadas de destruição do mundo. Que isto seja uma lição de vida para o Mundo.
Entrevista realizada a 07/05/2020. Este texto foi publicado no jornal “Correio de Lagos” e é aqui reproduzido com a devida autorização da sua autora.