Vencedor de 77 prémios, segundo dados do Imdb, entre o quais o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2007, “As Vidas dos Outros” é um dramático filme alemão, escrito e realizado por Florian Henckel von Donnersmarck.
O filme começa em 1984, numa Alemanha Oriental sob regime socialista. A Stasi, polícia secreta da república democrática alemã, contando com uma ampla rede de informadores e funcionários, controla a população e tem como objetivo declarado: “saber tudo”. E é neste contexto que acompanhamos a relação de um dramaturgo, Georg Dreyman (Sebastian Koch) e da sua namorada Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), com um oficial da Stasi, Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), que está encarregue de espiá-los.
Com um grande argumento e realização, o filme foca a questão da capacidade do ser humano mudar. Remete-nos a questões morais, à correlação entre poder e interesse. O filme conta com boas interpretações no geral, mas há uma que se destaca da dos demais: a do já falecido Ulrich Mühe, que brilhou no seu papel, envolvendo-nos numa empatia pela sua personagem Wiesler na sua busca pela redenção.
Wiesler, que no início do filme era um implacável oficial da Stasi e convicto defensor dos ideais do Estado, apercebe-se no decorrer do enredo que afinal nem todos compartilham o seu pensamento íntegro. Assistimos a uma transformação em Wiesler que, à medida que se envolve na vida de Dreyman e Christa-Maria, é confrontado com dilemas morais (salienta-se o momento mágico em ”Sonata para um Homem Bom”). Esta transformação não é irrealista, pois a personagem segue os princípios do moralmente correto. É um homem que não se revê nos interesses do ministro Hempf (Thomas Thieme) e isso é visível no diálogo com o seu superior, Grubitz (Ulrich Tukur), no refeitório.
Acompanhamos a sua vida e a sua solidão, a vida de Dreyman e Christa-Maria e a suas preocupações face à imposicão do regime nas suas profissões. “Porque eles te podem destruir, apesar do teu talento e da tua fé… Porque eles decidem o que representamos, quem actua e quem pode encenar”, é dito por Christa-Maria em determinado momento do filme.
O final acrescenta brilho ao filme. Numa primeira impressão, parecia ir para o lado típico “cliché”, conseguiu contornar essa tentação e optar por um final marcante.
“As Vidas dos Outros” é um filme que não nos faz apenas ver o curso do rumo das personagens e os seus dilemas, mas também nos faz ter o sentimento de empatia. Em suma, é uma autêntica pérola do cinema europeu.
Breve nota:
Na vida real, Ulrich Mühe descobriu mais tarde que a sua mulher era informante da Stasi.