Realizado e escrito pelos irmãos Joel e Ethan Coen, ‘Este País Não é para Velhos’ é um envolvente thriller baseado no romance homónimo, de Cormac McCarthy. Com cerca de 161 prémios conquistados, segundo dados do Imdb, esta adaptação cinematográfica arrebatou quatro dos principais prémios da Academia entre os quais o Óscar de Melhor Filme em 2008.
Acompanhamos ao longo do filme uma perseguição triangular entre personagens. Llewelyn Moss (Josh Brolin), um texano soldador, mete-se numa encruzilhada ao deparar-se com uma transação de droga que resulta num massacre entre mexicanos e americanos. Curioso, explora o território com a finalidade de encontrar o último “hombre”. Ao encontrar o mesmo já morto, ‘esbarra’ com uma pasta que contém dois milhões de dólares e, ao invés de a deixar, leva-a consigo, sabendo os perigos que essa decisão lhe trará.
Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino psicopata com uma peculiar maneira de assassinar, é contratado com o intuito de recuperar a pasta e está no seu encalçe. Acompanhando a caótica situação e no trilho dos dois, está o velho xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), que tenta por todas as vias chegar primeiro a Moss, antes dos seus perseguidores, a fim de o proteger.
Esta obra dos irmãos Coen não só apresenta bom argumento, mas também uma muito boa realização (que, inclusive, lhes valeram os Óscares de Melhor Argumento Adaptado e Melhor Realização, respetivamente). A belíssima direção de fotografia do experiente hollywodiano Roger Deakins é também um dos pontos forte do filme, com bons movimentos de câmara, enquadramentos e tonalidade.
Com um sólido elenco, o que sobressai é Javier Bardem, que protagonizou um dos maiores vilões do cinema, atuação esta que lhe valeu o Óscar de Melhor Ator Secundário. Sinistra a sua personagem Chigurh, Bardem impactava, com a sua presença, toda a vez que aparecia no ecrã com um peculiar penteado, tom de voz e modus operandi de assassínio, originando momentos muito tensos ao longo do filme. Destaca-se a cena da bomba de gasolina, onde uma simples conversa que o proprietário quis começar resulta numa das cenas mais icónicas do cinema. Sente-se a tensão na cena, Chigurh não gosta da intrusão do proprietário na sua vida, o proprietário percebe o desagrado do mesmo e nós, espectadores, sentimos o tenso momento que daí se desenrola. Não há, por enquanto, o uso de som adicional, o silêncio por si só já é agonizante junto com a sinistra e desconfortável conversa. Trespassa-se a tensão, no pacote comprimido que começa a descomprimir, a ansiedade acumula-se tanto no espectador como no inofensivo proprietário que apenas queria fazer conversa. Chigurh, na sua maneira peculiar de ser “justo”, submete-o a um dilema, na qual a sua vida está dependente do jogo da moeda ao ar. Há agora o uso de som adicional, mas de uma maneira tão subtil que quase não se nota… suspense!! Para, depois, terminar de forma impactante. A cena, de um ponto de vista cinematográfico, é magnífica: todos os elementos se conjugam desde o mérito das atuações dos atores à forma como foi filmado. A inteligência deste truque é repetida várias vezes ao longo do filme.
Também Josh Brolin e Tommy Lee Jones figuram bem. O primeiro protagonizando o típico malandro que devido a sua ganância se vê envolvido num desencadear de acontecimentos e o segundo no papel de um inconformado xerife, que não mais entende o mundo, por quão caótico este se tornou e que, por isso, começa a repensar a reforma. Este mundo já não é compreensivo para gente velha.
‘Este País Não é para Velhos’ termina de forma ambígua, mas isso não o faz perder o seu brilho. Aliás, esta mesma ambiguidade encaixa-se no tom do filme e permite ao espectador fazer uma reflexão da sua respetiva/perspetiva moral. Em suma, é uma grande obra, que deve ser assistida e (re)assistida para, de certa forma, se perceber a sua tamanha preciosidade.