No Mercado Municipal da Buraca o sol que sorri por cima da porta nº6 é a primeira imagem que se tem da Loja Sol.
“Tudo começou com a equipa de artesanato solidário…” introduz Isabel Nascimento, coordenadora do projeto lojas sol. “Os meus voluntários aproveitavam algumas coisinhas e faziam porta-chaves, porta-canetas, coisas assim que depois vendiam.” Os lucros conseguidos tinham sempre a mesma finalidade: solidariedade social. Mais tarde, ao artesanato solidário juntaram-se as feiras de trocas.
O projeto tem a vertente ambiental porque é feita a revalorização e reutilização de objetos, porque apoia famílias carenciadas, porque incentiva a comunidade a participar, seja através do voluntariado, seja através das doações.
Com datas marcadas quatro vezes ao ano, “as feiras de trocas funcionam para permitir que quem tem algo a mais consiga trocar por algo que lhe faz falta. Ou seja, se eu tiver um quilo de batatas, mas precisar de um litro de leite, posso trocar com alguém que se disponibilize a trocar leite por batatas” esclarece.
Foi destes dois projetos que nasceram as lojas sol, espaços dedicados à solidariedade, à comunidade e ao ambiente. Localizadas nos mercados municipais da Buraca e da Reboleira e, mais recentemente, no Mercado de S. Bento na Misericórdia, as lojas tem como propósitos: a ajuda às famílias em carência comprovada, o apelo à solidariedade comunitária e a capacidade de resposta às necessidades da comunidade.
O cumprimento destes objetivos é um trabalho feito em conjunto com o banco alimentar e com as cantinas sociais através da criação e doação de cabazes de emergência.
Como funciona?
A Loja Sol é o resultado da uma parceria entre a Fundação PT, a Social Mind, a Associação Feixe Luminoso, a Delegação da Cruz Vermelha Portuguesa da Amadora e a Junta de Freguesia das Águas Livres. O projeto foi inaugurado no dia 19 de dezembro de 2014 e é composto por uma equipa hierarquizada.
As Lojas Sol abrem de terça-feira a sábado das 9h30 às 11h30 pelas mãos de dois voluntários.
“Ainda somos alguns, mas estamos organizados” conta Isabel, cujo papel como coordenadora consiste em orientar um total de 43 voluntários. ” Temos uma pessoa a seguir a mim, com quem os voluntários têm uma relação direta e a quem reportam as situações. Depois, temos responsáveis pela triagem dos artigos doados (que se ocupam de ver o que pode ser aproveitado para venda ou para entrega direta a alguém), temos também responsáveis de armazém (que organizam os artigos, no caso da roupa, por exemplo, colocam-na por géneros ou por estações), temos responsáveis pelos livros e temos também responsáveis pela formação dos cabazes de emergência (tratam de comprar os alimentos e os produtos para os cabazes com os lucros das Lojas Sol) ”, explica.
Cristina Ribeiro, 58 anos residente na Buraca refere que a abertura diária da loja fica a cargo de todos, ou seja, “Vamos rodando, temos um plano afixado na parede onde estão os dias que temos de estar aqui, e estamos!” A voluntária da Loja Sol da Buraca afirma que a sua participação neste projeto deve-se ao facto de se sentir bem ao ajudar a comunidade. “A Dr.ª Isabel falou-me disto e disse-me “Queres experimentar?” Olha, e eu experimentei!”, completa com uma gargalhada.
Por sua vez, Cristina Marques, 47 anos, também residente na Buraca, afirma que não é só o gosto pela ajuda que a motiva a estar ali. “Fazer voluntariado é bom para os outros e para nós próprios. No meu caso, ajuda-me bastante a enriquecer o currículo e não custa nada”, afirma enquanto dobra uma manta há pouco doada.
Para fazer voluntariado, “basta querer!”, afirma Isabel. “É um compromisso de parte a parte, se quiserem experimentar e gostarem, basta quererem continuar”.
E os clientes?
Quem observa a Loja Sol pelo exterior, é possível notar a diversidade de artigos expostos na montra. Desde um cãozinho de porcelana a um terço de madeira do tamanho de uma porta, todos eles doados por quem já não precisa e todos eles valorizados com um “Sol”. “É uma metáfora”, diz Isabel. “Achámos que seria mais engraçado quantificar os artigos em sois. Ou seja, os clientes percebem que o artigo custa 1€ mas ele está identificado com um sol, e acham graça!”.
Maria Plaço, 73 anos, “cliente habitual”, como foi introduzida por Cristina Ribeiro, confirma o que foi dito anteriormente pela coordenadora: ” Venho aqui sempre que posso. Isto é uma lojinha para quem tem pouco dinheirinho e ainda ajudamos os outros”, completa. Alegre e bem-disposta em busca de mais bijuteria, Maria Plaço traz ao pescoço um cachecol comprado na loja. “Ando a fazer publicidade aqui às minhas meninas…”, diz entre sorrisos. “Estou sempre a dizer às minhas amigas para cá virem, há sempre qualquer coisa de que gostamos e compramos.”
Segundo Cristina Ribeiro, “a loja, o projeto, deveria ter mais divulgação. O nosso público-alvo é toda a gente, mas somos visitadas essencialmente pelas pessoas que frequentam o mercado e que nos conhecem.”, Cristina Marques acrescenta ainda que os clientes “são, sobretudo seniores.”
Num futuro próximo, Isabel Nascimento pensa aumentar a divulgação do projeto no terreno. Para cumprir esse fim, será criada uma página no Facebook, produtos com símbolos de merchandising e as lojas sol e os seus voluntários tentarão participar em mercados e feiras, com o fim de obter mais meios e mais visibilidade para a criação dos cabazes. Como diz Cristina Ribeiro, “É importante que a comunidade nos conheça e conheça o projeto!”.
Quais são os resultados?
Os contra horários de funcionamento são os momentos em que as lojas sol e os mercados em que se localizam se encontram fechados ao público.
No primeiro ano, com um fundo de maneio de 50€, as lojas sol apuraram em lucro 2.348,25€ que se converteram em 159 cabazes de emergência, em apoio a 37 famílias através de roupa, medicamentos (no valor de 663,96€) e transportes (no valor de 142,00€). “Na minha freguesia, alguém só passa fome se eu não souber!”, declara Isabel. “As pessoas realmente carenciadas não precisam só nas épocas festivas”, completa.
A entrega dos cabazes de emergência e dos produtos requeridos pelos interessados é efetuada em “contra horários”, isto para que não existam estigmas sociais. “Ao ajudarmos as pessoas não queremos humilhá-las. Queremos dignificá-las!”, frisa a coordenadora.
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular “Atelier de Imprensa e Jornalismo Online”, no ano letivo 2015-2016, na Universidade Autónoma de Lisboa.
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