Velocidade, adrenalina e carros de luxo marcam presença no Estoril para um dia diferente. Uma experiência de sonho, possível para todos, acessível a alguns.
Texto e fotos: David Almeida e João Farinha
Domingo, 10 de abril, 9:00h da manhã. Chove torrencialmente no Autódromo do Estoril. Ficar em casa junto à lareira? Não, para os amantes da velocidade. Os poucos carros estacionados no exterior indiciam que o clima arruinou o dia, mas o barulho dos motores que vem da pista demonstra o contrário. A empresa Racingvariusproporciona uma experiência única que nem o mau tempo pode impedir. Afinal, não é todos os dias que se pode conduzir um Porsche, um Ferrari ou um Lamborghini num circuito profissional.
Criada há cerca de um ano pelo piloto Pedro Moleiro e por Alexandre Cavalleri, apaixonado por automóveis, a Racingvarius organiza eventos e experiências de condução. O Racingvarius Day é o primeiro grande evento do grupo e tem um objetivo bem definido: “Realizar sonhos de pessoas que sempre gostaram de carros potentes de marcas específicas, carros caros que não chegam aos bolsos de todos. Damos a possibilidade de escolher um carro e dar até três voltas à pista”, conta Pedro Moleiro enquanto gere a entrada e saída dos veículos nas boxes.
O leque de veículos é um autêntico sonho para quem gosta de automóveis: marcas como Ferrari, Porsche, Mercedes, Lamborghini e até um carro de Fórmula 1 de dois lugares estão à disposição daqueles que compram esta experiência. Quem não compra e apenas quer ficar a ver, pode fazê-lo por 5 euros, se tiver mais de 18 anos; gratuitamente, se for menor; ou adquirir o pack família por 7,50 euros.
Lívio Cerqueira, consultor informático de 37 anos, adquiriu um voucher e optou pelo carro de Fórmula 1 (conduzido por um instrutor) e explica o que se sente na pista: “É uma sensação completamente diferente, já fiz várias voltas aqui ao circuito em eventos de corrida, mas a experiência de andar num monolugar adaptado para ser um bi-lugar é uma sensação diferente. A proximidade do chão faz desta uma experiência muito mais alucinante do que conduzir um Ferrari, um Porsche ou um Lamborghini… é outra liga.”
Fórmula 1 na chegada à box
Todos querem acelerar a fundo, mas o estado do tempo aconselha alguma prudência. Durante uma das primeiras voltas da manhã, o condutor de um Ferrari não consegue controlar o carro e sai de pista, no entanto, tudo não passa de um susto. A segurança dos participantes é assegurada por pilotos e instrutores profissionais da FirstDriver, empresa especializada em eventos automobilísticos, criada por Pedro Moleiro, que se associou à Racingvarius.
Quanto custa?
Os preços da experiência de condução variam entre os 50 e os 2.030 euros. O vouchermais barato dá direito a uma volta num Porsche Cayman, o mais caro proporciona ao condutor três voltas no Lamborghini Aventador, o carro mais fotografado do dia e também o mais caro, avaliado em “meio milhão de euros”, confidencia Pedro Moleiro. Talvez por ser o mais acessível, o Porsche tenha sido o carro mais requisitado, “seguido do Lamborghini Huracán e do Ferrari 488”, acrescenta o piloto.
Jorge Ludgero, 40 anos, é diretor comercial e compreende o ponto de vista da organização. “O preço é sempre demais para quem paga e pouco para quem recebe, visto que o evento também tem custos muito grandes.” Já António Relvas, estudante de 20 anos, tem uma opinião diferente: “os preços mais baratos são adequados, quanto aos preços mais elevados… tenho algumas dúvidas”.
Na tentativa de cativar mais público, a Racingvarius oferece a terceira volta a quem comprar duas durante as 9:15h e as 9:45h e entre as 14:00h e as 14:30h, um período a que a organização deu o nome de Happy Hour.
Para além da condução em pista, há quem opte por aulas de condução desportiva num percurso de obstáculos. Por 15 euros e durante 5 minutos, “o objetivo é que a pessoa passe a maior parte do tempo a fazer drift (deslizar) com o carro”, explica Filipe Ventura, 33 anos, instrutor da FirstDriver (ver vídeo). O piso molhado facilita a tarefa do condutor, porém, o piso seco não causa qualquer impedimento, o carro dá uma ajuda: “As rodas de trás são forradas com um produto específico para este tipo manobras, uma capa em plástico, que facilita a derrapagem.”
Prego a fundo!
O dia avança e o sol vai dando um ar da sua graça. Com ele, chegam curiosos e aventureiros. António Relvas ainda não decidiu se vai participar ou ficar a ver. “Ainda não sei, estou indeciso. Ando aqui às voltas a tentar decidir.” Vai olhando para a pista, espreitando para dentro dos carros e revela uma preferência: “Tenho uma grande curiosidade pelo Porsche Cayman, que é aquele típico clássico desportivo, mas também pelo BMW M4.”
“Tinha o desejo de conduzir o Ferrari mas, como não havia a possibilidade, optei pelo Porsche”
Jorge Ludgero, estreante neste tipo de eventos, não resiste à tentação e, apesar de não poder conduzir o carro que realmente quer, mostra-se satisfeito. “Tinha o desejo de conduzir o Ferrari mas, como não havia possibilidade, optei pelo Porsche. Ainda assim, foi muito bom! É uma experiência a repetir.”
Pequena amostra da frota Racingvarius
Ao fim de algum tempo, António Relvas consegue decidir-se e opta por experimentar o Porsche. Duas voltas depois, o estudante de Gestão mostra-se radiante: “Foi espetacular, superou as minhas expetativas. Já tinha dito que os Porsches eram Porsches e não há dúvida que são Porsches (risos). Adorava repetir!” Apesar de nunca ter estado ao volante de um carro tão potente, António não se sentiu desconfortável. “O instrutor indicou-me todos os pontos de ataque da pista, pontos de travagem, disse-me tudo o que tinha de corrigir e foi insistindo até que fizesse melhor. Senti-me super seguro e fui melhorando de volta para volta. Foi espetacular!”
“Devo ter atingido os 180-190 km/h”
Num circuito profissional como o do Estoril, a velocidade não tem limite, cabe ao condutor e ao instrutor manter o controlo do carro. Quando questionado, Lívio Cerqueira diz não ter ideia da velocidade máxima que atingiu: “Não tenho noção. A sensação de velocidade num carro destes é um bocadinho diferente, não dá para perceber se foi 200 ou 300 km/h.” O mesmo se passou com António Relvas ao volante do Porsche Cayman: “Não olhei para o velocímetro, mas tenho a sensação de que não cheguei aos 200. Devo ter atingido os 180-190 km/h.”
Restante frota
Nem só de corridas vive o evento. Do lado de fora da pista, stands de luxo exibem os modelos mais potentes do mercado. Fotos, vídeos, selfies, todos querem uma recordação para emoldurar ou publicar nas redes sociais. Junto das boxes, a organização providenciou ainda uma zona de restauração durante todo o evento. Sim, porque a adrenalina também dá fome.
O Racingvarius Day no Estoril não pretende ser um evento isolado, é apenas o primeiro de muitos. Pedro Moleiro afirma que a empresa pretende organizar “vários eventos durante o ano. A maior parte vai ser realizada aqui no Estoril, mas vamos tentar fazer noutros pontos do país”.