Escrito e realizado por Woody Allen, ‘Match Point’ é um drama sobre a sorte e a sua importância. Nomeado para o Óscar de Melhor Argumento Original, esta é a trigésima sexta obra do realizador norte-americano.
Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers) é um jovem instrutor de ténis que ambiciona ascender socialmente. Como resultado da relação amorosa com Chloe Hewitt (Emily Mortimer), uma mulher da classe alta britânica, Chris consegue entrar neste meio. O conflito surge quando se envolve num triângulo amoroso com a atraente Nola Rice (Scarlett Johansson), inicialmente noiva do seu cunhado. Vítima de um jogo perigoso, Chris viverá repleto de dilemas.
Desde os primeiros minutos, Woody Allen expõe ao espetador a ideia de que o filme assentará numa comparação com um exemplo perfeito. A relação entre a sorte e o momento em que uma bola de ténis toca na ponta da rede e pode pender para um dos lados.
E é por aqui que o filme se constrói: a história de um ex-tenista que sabia das suas potencialidades no mundo de alto rendimento do ténis e que, por isso, enveredou pela área de instrutor. Chris é realista, sabe ver aquilo de que é capaz e as suas limitações. Daí que, quando consegue infiltrar-se na vida da classe alta britânica, há uma relutância em deixar essa vida. Da sua falsa modéstia, vem o seu lado manipulador e charmoso que lhe vai abrir portas e mais portas… do casamento à carreira profissional, passando pelo seu affair com Nola Rice.
Se Chris é sinónimo de ascensão e vive como um peixe na água, Nola é o contrário. Vive da sua ambição em ser atriz, mas demora a perceber que não foi talhada para tal. Não tem os requintes que a mãe de Tom (Matthew Goode) procura para a sua nora. A atração dos dois advém das suas origens, da sua incapacidade em alcançar os seus sonhos, dos charmes e da tentativa de se integrar neste novo meio.
Esta perigosa atração que perdura mais do que devido cria em Chris um dilema para o qual não está preparado. Será desejo ou amor? Na sua mente, apenas vê o reflexo daquilo em que a sua vida se pode tornar, algo que não é desonesto, mas que – para quem chegou a uma certa posição – é difícil abandonar. A vida que Nola segue após o ‘divórcio’ com a alta classe é a uma vida que Chris já conheceu e a que não quer voltar.
Da astúcia emerge o seu plano, e da sorte impera o desenvolvimento da mesma. A forma como a trama se desenvolve no último ato é muito eficaz naquilo que Woody Allen plantou desde os minutos iniciais do filme. A ópera como plano musical e aliada de Chris encaixa bem e o seu uso é hábil nas diferentes situações. As atuações são sólidas, embora pese alguma artificialidade em certos momentos.
Se há coisa que se pode elogiar é o bom senso do realizador em ter ficado atrás das câmaras e no papel. ‘Balas sobre a Broadway’ é um outro exemplo disso.
‘Match Point’ é, assim, um filme sobre altos e baixos, sobre o oportunismo e a vida em classes, mas é, sobretudo um filme onde a sorte (e o azar) vai determinando o rumo da narrativa. É só querer ver pelos dois lados da moeda. É como aquele provérbio: “A sorte de uns é azar de outros.”