Se não era fácil controlar uma equipa desportiva de escalões de formação em tempos normais, durante uma pandemia, a dificuldade adensou-se. Quando aliada à vontade de singrar, a irreverência característica dos jovens parece tornar os próximos tempos ainda mais imprevisíveis. Quais serão as dificuldades que estão por vir?
A Covid 19 chegou a Portugal a 2 de março e continua a dificultar, atrapalhar e mudar a vida da população à escala global. Muita gente ficou sem previsões para o futuro por tempo indeterminado face ao estado de emergência que se adotou para enfrentar a pandemia decretada pela Organização Mundial de Saúde. Como quase todos os setores, o desporto parou, quer em ligas profissionais como em escalões de formação.
Quando os profissionais desportivos são mais adultos, a responsabilidade é também bem mais acrescida, o que os obriga a adotar outro tipo de comportamentos, mas em idade mais jovem não parece ser, de todo, fácil para a equipa técnica gerir um plano de treinos sem conseguir observar presencialmente os seus atletas e sem corrigir determinados comportamentos que estes usam de forma indevida.
Desportos coletivos
Luís Barbosa, 24 anos, licenciado em treino desportivo pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior é o atual treinador-adjunto da equipa de Sub-17 dos escalões de formação do Futebol Clube de Famalicão. Este momento não foi, de todo, fácil para quem respira desporto. “Foi muito complicado realizar um plano de treinos durante a pandemia, pelo facto de nem todos os atletas terem acesso ao material necessário, nem às condições mínimas para que seja possível aplicar situações similares às demandas da competição”, confessa.
O treinador refere que “durante a pandemia, as dificuldades mais comuns são as exposições dos atletas ainda jovens a adaptações metabólicas características da sua modalidade, bem como das especificidades de cada desporto, tendo em conta se são ou não coletivos e onde as cooperações e adversidades têm influências tremendas”.
Modalidades individuais
Há uma enorme diversidade de métodos a seguir conforme a equipa técnica, mas a formação onde Luís Barbosa é treinador adotou, no seu entender, “um método mais prático e eficiente”, acrescentando que “foram elaborados planos globais de treino para todos os jovens atletas, partindo depois à especificidade e às individualidades, caso determinado atleta pretendesse ou em situações de recuperação de lesão e maior dificuldade de treino”.
Indo mais de encontro aos escalões de formação em desportos singulares, Nuno Pestana, 39 anos, formado em Ciências do Desporto e atual treinador dos jogadores de formação dos Clubes de Ténis de Seia, Luso e Mortágua, refere que a expectativa em relação ao comportamento dos jovens jogadores, nesta fase, é que não haja uma entrega 100% dedicada e global: “Há inúmeras distrações, assim como os treinos da moda que acabam por influenciar de forma errada e desencaminhar os atletas.
Existe também um outro lado que pertence aos mais bem preparados e mais focados a nível físico ou mental e que, sem dúvida, alguns irão conseguir superar qualquer tipo de adversidade ou situação de constrangimento ou de desconforto que possa surgir. Cabe aos treinadores a responsabilidade de fazerem que todos pertençam a esse lado.”
Como treinador, Nuno Pestana confessa também que sentiu que a pandemia afetou os seus atletas. “As reais e mais graves consequências a nível físico irão ser vivenciadas somente na preparação da próxima época em que vai parecer que vamos começar do zero”, receia.
Novas ajudas e suportes
Tal como em qualquer situação, o ser humano reinventa-se. Durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, foram imensos os estratagemas para ajudar toda e qualquer pessoa a manter a forma enquanto estava confinada dentro da própria casa.
Neste sentido, surgiram dezenas de aplicações em formato digital para ajudar no treino físico. Todo e qualquer smartphone tem acesso a essas mesmas apps em que são facultados planos de treinos conforme a situação física da pessoa, bem como sexo, altura e peso. Alguns acediam de forma gratuita, mas em geral as empresas fundadoras das aplicações cobravam algo pelo serviço. Houve também iniciativas originais como de dar aulas por exemplo de crossfit através de videochamadas, processo ao qual os jovens aderiram em massa não só desportistas, mas também não desportistas com o objetivo de passar o tempo e ocupar a cabeça com coisas saudáveis.
Não foram tempos fáceis e a nível do desporto não será de todo uma situação de gestão rápida e imediata. Voltar ao normal irá, segundo Luís Barbosa, exigir esforço e determinação. “Precisamos de nos superar a nós mesmos. O mais difícil vai ser recuperar e cativar os nossos atletas a fazerem o mesmo a darem também esforços físicos que eles próprios não sabem que são capazes de dar.”