Em Guimarães, respira-se de maneira diferente. Um artigo que é muito mais do que “meia dúzia de palavras” sobre um clube, é uma vénia a todos que enchem o Estádio Dom Afonso Henriques e que acompanham o Vitória para onde quer que ele vá.
Uma vida inteira se passa à procura de algo que já ouvimos sentir na boca de outros! Algo que, por incrível que pareça, consegue mover mais mentes que o ódio e fortificar mais a felicidade humana que uma simples cumplicidade sentimental. Algo que passa de pai para filho e de geração em geração. Algo que movimenta milhares de pessoas em Portugal ou no estrangeiro, de norte a sul. Algo que enche o peito de milhares, com orgulho e cada vez mais forte os faz gritar: “Ouçam bem a força da nossa voz, o Vitória somos nós, até morrer.” Na verdade, todos o sentimos, não o mesmo, mas sentimos… mas eles? Eles sentem de maneira diferente. Porquê? Porque é o Vitória e em Guimarães, grande, só há um.
Na verdade, já todos percebemos que por muito que cada um ame o seu clube, eles vão tentar superar-nos. Vão adorá-lo muito mais e defendê-lo até à última gota de suor, porque aquilo pertence-lhes demasiado. Não têm tempo para parar de o sentir. Para os seus apaixonados, o Vitória tem a mesma importância que o Castelo de Guimarães tinha para Dom Afonso Henriques (e todos sabemos que ali nasceu o sonho). Talvez por se reverem na história e, vivendo no “berço de Portugal”, olhando para tudo o que foi construído a partir dali, não queiram parar de sonhar. Honrando o seu passado, levam as suas cores a todo lado e, mesmo com poucos troféus, continuam a cantar tão alto como os “maiores”. Melhoram as médias de assistências a cada época que passa e honrar o preto e branco começa a estar no sangue de quem nasce por ali. Se és de Guimarães, então és Vitória. É então, por isso, que ali se enche o campo de batalha, mesmo tendo um exército mais fraco, e se apela à conquista em cada dia cinzento, e em cada raio de sol se impõe mais alto a imagem do eterno Rei, com orgulho de poder viver onde a conquista foi feita.
Se cada jogador sentisse o peso da camisola tanto como aqueles que a envergam com orgulho, nesse caso, voltaríamos séculos atrás na história e teríamos a oportunidade de ver ou rever uma equipa que, saindo de Guimarães, parte para a conquista de Portugal sem medos de enfrentar qualquer um que se atravesse à sua frente. Se os clubes fossem cotados de “grandes” pela paixão que eles representam e não pelo que estes já conquistaram, então este Vitória seria dos melhores do mundo. Sabia lá “el Rei” que iria ser figura e símbolo de uma nação tão amada, respeitada e temida por tantos. Oxalá esta paixão nunca acabe… Para todos aqueles que enchem o Estádio Dom Afonso Henriques e que acompanham o Vitória para onde quer que ele vá, a minha vénia.
Talvez um dia os entendidos pelo psicológico dos atos humanos percebam que não somos loucos por defendermos o que amamos, e que não deveríamos ser julgados como tal, mas até lá: loucos são os que amam.