Boarding Gate é uma rubrica onde destacamos desportistas portugueses espalhados pelo mundo. A convidada desta semana é Mónica Mendes, futebolista do AC Milan, de Itália.
Afirmando que nasceu já a saber que queria jogar futebol ao longo da vida, Mónica Mendes começou a praticar o desporto-rei com apenas 4 anos de idade, numa equipa onde treinava com rapazes mais velhos. Bastante empenhada no futebol, mas sem nunca descurar os estudos, atuou pela Sociedade Recreativa do Bairro da Bela Vista, Beira-Mar Clube Atlético de Almada e S.U 1º de Dezembro, e desde 2009 representa a Seleção Portuguesa de Futebol. Graças a esse mesmo empenho e dedicação, acabou por receber uma bolsa de estudos por uma universidade norte-americana, que lhe permitiu conciliar o desporto com o ensino superior. Licenciou-se em “Health and Human Perfomance”, com uma média bastante acima da média, e ao mesmo tempo recebeu diversos prémios individuais e coletivos na parte desportiva. Atualmente com 25 anos, a internacional portuguesa representa um emblemático clube italiano, o AC Milan.
Porta de embarque
A procura por conciliar a vida e paixão desportiva com os estudos superiores levaram a jogadora portuguesa a, com 18 anos, embarcar numa nova aventura nos Estados Unidos da América, aceitando a bolsa de estudo completa que lhe foi oferecida. Representou, inicialmente, a equipa dos Brownsville Scorpions, da Universidade do Texas.
Cultura
A atleta portuguesa revela que, de todos os países onde esteve, “Itália é o país que mais se assemelha à nossa cultura”. Afirma que o maior choque que teve foi em termos alimentares, uma vez que “comem muita massa e muitas coisas com farinhas”. “Outra coisa que me fez muita confusão foi o facto de nunca comerem tudo no mesmo prato, e até lhes faz muito confusão ver tudo junto”, acrescenta. Com estas pequenas divergências culturais, a jogadora conta que a adaptação foi mais rápida do que nos outros lugares onde já esteve, devido à cultura italiana ser ela também uma cultura latina, “e com a qual é naturalmente fácil de ajustar-me”. Quanto ao futebol, é também distinto dos sítios onde esteve. “De uma forma geral, focam-se em todos os aspetos do jogo, mas direi que a grande diferença em Itália é que focam-se muito na parte tática do jogo, quer na fase defensiva como na parte ofensiva, e todas as semanas trabalha-se muito nesse sentido”, adianta Mónica.
Momento mais marcante
Destaca diversos momentos importantes nesta sua passagem em Itália. No Brescia, dá ênfase à conquista da Supertaça, ao facto de ter marcado o golo que classificou o clube para os oitavos de final da Champions League, a chegada à final da Taça de Itália e chegar ao fim do Campeonato Nacional em primeiro lugar, com os meus pontos da Juventus. “Outro momento especial é, sem dúvida, poder ter tido esta oportunidade de jogar pelo AC Milan e conhecer muitas das pessoas e ex-jogadores que levaram o nome deste clube a um lugar muito alto a nível Mundial”, acrescenta com entusiasmo.
Diferenças do desporto em Portugal
De um ponto de vista mais técnico e tático, a internacional portuguesa explica que “o campeonato italiano é diferente do campeonato português, porque a maioria do jogos são mais equilibrados, há mais intensidade de jogo, e a nível tático varia bastante e depende sempre muito da equipa com quem jogamos contra”.
No que diz respeito ao futebol português, é da opinião que o futebol feminino em Portugal está a crescer e a desenvolver-se muito bem. “As nossas novas gerações têm, de facto, um talento já notório e têm tudo para ter um futuro muito sorridente com as nossas cores ao peito”, argumenta. Quanto à seleção nacional, “é notório o nosso crescimento e os resultados têm-se visto também”. Segundo a mesma, as pessoas gostam cada vez mais do futebol feminino e respeitam cada vez mais a jogadora portuguesa, “algo que se consegue somente com muito trabalho”.
Mónica Mendes refere que o futebol italiano tem, consideravelmente, mais jogadoras de futebol do que o futebol português. “Este ano a liga passou a ser profissional e, por sua vez, todas as semanas há um jogo de futebol feminino a passar na televisão. Pelos menos 5 equipas têm equipa de futebol masculino e feminino na Serie A, e isso faz com que haja muito mais divulgação e visibilidade, quer das equipas, quer das jogadoras italianas”, adianta a jovem jogadora. Afirma que, em Portugal, com a entrada dos clubes grandes, há maior visibilidade das jogadoras portuguesas. Menciona que é importante continuar a investir nesse sentido, “para que as jogadoras portuguesas tenham também a possibilidade de serem profissionais no próprio país, a jogar futebol”. Sintetiza, dizendo que isso fará com que o nível do campeonato português se torne melhor e mais competitivo.
Abordando um possível regresso a Portugal, a atleta não fecha as portas a nenhuma oportunidade que possa surgir de Portugal ou do estrangeiro. Contudo, termina afirmando que “neste momento sou feliz a jogar no AC Milan e é com muita responsabilidade que defendo estas cores”.